Número de jovens eleitores de 16 e 17 anos cresce 105% em Salvador

Mais de 8 mil jovens garantiram o direito de votar na capital baiana, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

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  • Millena Marques

Publicado em 25 de julho de 2024 às 05:30

4,1 mil jovens aptos para o voto facultativo na capital, segundo TSE
4,1 mil jovens estão aptos para o voto facultativo na capital, segundo TSE Crédito: Arquivo Agência Brasil

Estudante do 2° ano do Ensino Médio, Otto Silva Dória tem apenas 16 anos e está no grupo de jovens isento da obrigatoriedade do voto. No entanto, o incentivo da família associado ao desejo de adiantar um compromisso de cidadania fez com que o garoto tirasse o título de eleitor neste ano. Ele é um dos 8,4 mil jovens, entre 16 e 17 anos, que garantiram o direito de votar em Salvador antes de se tornar obrigatório. Esse número representa um aumento de 105% em comparação com o pleito de 2020.

No último pleito municipal, eram 4,1 mil jovens aptos para o voto facultativo na capital. O crescimento também é estendido em âmbito estadual: na Bahia, o número saltou de 126,6 mil para 193,3 mil, o que equivale a um acréscimo de 52%. Um conjunto de fatores explica o aumento, desde a própria propaganda feita pela Justiça Eleitoral a polarização política nas redes sociais, de acordo com o cientista político Joviniano Neto.

“Os jovens estão mais conscientes da importância de se preparar para competir no mercado de trabalho, ter acesso, espaço, e a capacidade de ver a política como algo que pode ajudar ou atrapalhar a vida deles. Antigamente, as pessoas que não se preocupavam com isso eram conhecidas como alienadas”, afirma.

Participação dos jovens baianos nas eleições
Participação dos jovens baianos nas eleições Crédito: Arte Correio

É dessa forma que Otto explica a decisão de ter o título de eleitor aos 16 anos. Embora tenha sido incentivado pela mãe, que é funcionária do Tribunal Regional da Bahia (TRE-BA), a escolha foi impulsionada por um pensamento voltado ao futuro e as oportunidades criadas pelos governantes.

"Os jovens estão mais conscientes e veem a política como algo que pode ajudar ou atrapalhar a vida deles"

Joviniano Neto
Cientista político 

"Afinal quem sofre as consequências das escolhas dos governantes somos nós, principalmente, a população mais carente, que necessita de uma voz que represente seus princípios, sobretudo, seus direitos. O direito de estudar em um colégio com bons ensinos, de cursar uma faculdade, direito à saúde e segurança, entre outras coisas”, conta.

De 2020 para cá, a Justiça Eleitoral tem feito campanhas para incentivar os mais jovens a participar das eleições. As estratégias para atrair esse público são reforçadas especialmente nas redes sociais. “Justiça Eleitoral buscou se preocupar em falar mais a linguagem desse público através das redes sociais. Também influenciadores digitais ajudaram bastante na divulgação da importância do voto e a gente percebe então uma maior conscientização desse público acerca da importância da participação política”, diz Jaime Barreiros, analista do Tribunal Regional da Bahia (TRE-BA).

Otto, inclusive, foi um dos participantes de uma propaganda feita pelo TRE-BA nas redes sociais. Ele e a amiga, Lavínia Rocha, 17, tiraram o título de eleitor em março deste ano e explicaram em vídeo a relevância do movimento. “Votar e exercer o direito ao voto está ligado diretamente à participação na sociedade e à responsabilidade da minha expressão popular para contribuição nas decisões políticas”, diz a jovem, que está no último ano do Ensino Médio.

 Otto Silva Dória  Lavínia Rocha
Otto Silva Dória e Lavínia Rocha que vão votar neste ano Crédito: Reprodução

Outro fator importante para o crescimento de eleitores jovens diz respeito às características peculiares da eleição deste ano. Segundo Joviniano Neto, nos pleitos municipais, os candidatos são pessoas mais próximas, que estão no cotidiano dos bairros e municípios. “Ainda que as eleições presidenciais sejam mais importantes, mobilize e divida mais o Brasil, as eleições municipais têm eleição para vereador, que são de pessoas próximas, de problemas próprios que as pessoas conhecem”, afirma o especialista.

Reflexos

De acordo com Joviniano Neto, a participação desse grupo de 16 e 17 anos pode refletir de variadas formas. Não há uma resposta exata para isso. “Não existe um jovem, existem vários tipos de jovens. O eleitorado não é igual. Em uma cidade grande, por exemplo, há maior possibilidade de segundo turno. Nas cidades pequenas, onde tradicionalmente o jogo político acontece entre duas correntes, das correntes que têm raízes familiares, tropicais, antigas”, analisa.

O cientista político ainda destaca o início da participação política por meio do voto como um ‘rito de passagem’ importante para o futuro. “É fundamental. A participação da juventude é um indício do eleitorado do futuro. Nos dá uma visão para onde o eleitorado pode ir, que é o óbvio, pois a vida se renova”, ressalta.

Para Jaime Barreiros, o engajamento da juventude implica em uma melhoria da qualidade da democracia, que é “constituída da vontade de todos os cidadãos, de todas as idades. Então, a nossa democracia se torna mais fortalecida com a participação de todos, inclusive dos jovens entre 16 e 18 anos.”

*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva