Gestor com a linguagem do povo: Bruno Reis tem fama de comunicativo, trabalhador, comilão e festeiro

Prefeito foi reeleito com mais de 78% dos votos em Salvador

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  • Gil Santos

Publicado em 7 de outubro de 2024 às 09:29

Bruno Reis na festa da vitória após ser reeleito
Bruno Reis na festa da vitória após ser reeleito Crédito: Reprodução

Ele é comunicativo, bom de garfo e adora uma camisa azul. Ele dança, é supersticioso e não tem medo de polêmica. Também é bem-humorado, mas, segundo os mais próximos, isso não o impede de dar broncas e de ficar uma arara quando as coisas não saem como planejado. A reeleição de Bruno Reis (União Brasil), com 78% dos votos válidos, foi a mais expressiva para um prefeito na história de Salvador, o resultado foi próximo daquele apontado nas pesquisas e reafirmou o caráter ‘pop’ do gestor.

Quando Bruno Reis foi escolhido para disputar as eleições de 2020 e de 2024 não foi propriamente uma surpresa, pois nos bastidores já havia uma aposta no nome dele por conta da carreira que construiu na gestão municipal e, sobretudo, da relação que vinha estabelecendo com o público. E depois da primeira eleição, a espontaneidade foi um prato cheio para as redes sociais, gerou memes e aproximou o político do eleitorado jovem. Ele tem mais de 600 mil seguidores apenas no Instagram.

Durante a entrega de um campo de futebol, em junho, o prefeito apareceu em uma live usando uma bermuda que mais lembrava um short batedeira. Secretários e vereadores entraram na brincadeira e trocaram as calças por shorts para bater um baba no gramado novo. Os eleitores fizeram graça. “O prefeito está de ceroulas, mainha corre aqui”, escreveu uma mulher. “É o calor, né, prefeito?”, disse um adolescente.

Outro prato cheio para as redes sociais foram os pratos literalmente cheios que o prefeito consumiu nesses quatro anos de mandato. Feijoada, acarajé, coxinha, macarronada... nada passou batido.

Bruno Reis, ao inaugurar restaurantes populares, gosta de fazer uma boquinha
Bruno Reis, ao inaugurar restaurantes populares, gosta de fazer uma boquinha Crédito: Reprodução

Nas entregas dos restaurantes populares, por exemplo, ele fazia questão de experimentar a comida. São dez unidades, e oito foram entregues por ele. Se uma moradora oferecia um cafezinho com pão, não recusava. Há quem diga que esse apetite todo é porque ele é taurino, e talvez seja por isso que para compensar as calorias o gestor não abre mão de fazer atividade física.

A capoeira fez parte da infância, mas Bruno também já fez bicicleta, participa de corridas e compartilhou momentos em que estava se exercitando na academia. Quando resolveu dirigir o caminhão de coleta de lixo durante um evento no Centro Histórico, os assessores ficaram agoniados, porque não foi combinado, e os turistas se divertiram. Rir, chorar e dar bronca em público não é um problema para o gestor, que já se emocionou com relatos de moradores e chamou a atenção de secretário sem a menor cerimônia.

Na Lavagem do Bonfim e no desfile do 2 de Julho, os repórteres questionaram se o gestor tem alguma superstição. Ele riu, disse que sim, mas que não podia revelar. Nos bastidores a suspeita é que seja a camisa. Ninguém sabe com certeza quantas camisas azuis Bruno tem, mas elas são muitas e em diversos tons: básicas, polo ou social. Branco também é uma cor comum no guarda-roupa, mas pouca gente já o viu vestindo vermelho. Por que será? Um assessor contou um episódio.

“Quando a campanha começou, ele mandou comprar mais peças, mas não conseguimos encontrar. É que os apoiadores entraram na onda e esgotaram os estoques das lojas. Os vendedores contaram que as pessoas chegavam procurando camisas ‘igual ao azul de Bruno’. A solução foi encomendar de fora”.

Prefeito também curte cair na folia durante o Carnaval baiano
Prefeito também curte cair na folia durante o Carnaval baiano Crédito: Reprodução

Primeiro mandato

Diversidade também foi uma palavra muito usada pela imprensa quando Bruno anunciou o primeiro secretariado, durante um evento no Wish Hotel da Bahia, em dezembro de 2020. O gabinete dele foi considerado o mais feminino da história de Salvador. Ao todo, mulheres ocuparam o comando de dez das 24 secretarias e passaram a chefiar duas fundações do município.

O número de mulheres no secretariado de Salvador chamou a atenção, porque foi algo incomum. Na época, no governo do estado, por exemplo, eram apenas quatro secretárias e nos ministérios do governo federal, apenas duas. Questionado, Bruno Reis explicou que a escolha dos nomes foi feita com base na experiência de cada uma delas, e contou que prefere trabalhar com mulheres.

“O critério foi a competência e a capacidade. Tivemos a condição de contribuir para que mulheres tivessem posições de destaque, posições relevantes na prefeitura. A mulher vem com sua garra, sua sensibilidade, sua força de trabalho e, principalmente, com sua competência”, afirmou, na época.

Ele voltou a comentar sobre o assunto em outros momentos e lembrou que foi criado por mulheres - a avó e as tias professoras - depois que perdeu a mãe aos 9 anos e o pai na adolescência.

A pandemia de coronavírus foi um golpe duro que afetou os primeiros dois anos de mandato e a prefeitura precisou apertar o cinto para financiar as ações da saúde, assistência social e educação, entre outras áreas. A chuva também não deu trégua e foi preciso investir em obras de drenagem, contenção e encosta, entre outras áreas. Felizmente a pandemia passou, o Carnaval voltou e o eleitor viu um novo lado do prefeito.

Festeiro

O trio de Léo Santana estava descendo o Morro do Cristo, na Barra, e no meio da multidão, metendo dança, vinha Bruno Reis. Era 2023 e o Gigante estava puxando o trio no Pipoco, no circuito Tapajós. A cena inusitada do prefeito de Salvador pulando na pipoca viralizou nas redes sociais. Era o primeiro Carnaval de Bruno à frente da prefeitura, porque nos dois primeiros anos do mandato a festa foi cancelada por conta da pandemia.

E não parou em Léo Santana. Naquele ano, Bruno saiu no bloco de Bell Marques, dançou arrocha na pipoca de Thiago Aquino e desceu a Rua Chile vestido de Filho de Gandhy, para desespero da equipe de segurança que tentava organizar, mas o público ignorava as orientações e partia em busca de selfies e vídeos. Bruno parou, cumprimentou os eleitores e fez até o L - de Léo Santana -, enquanto metia dança.

De cima do trio, o Gigante reconheceu o prefeito e mandou um salve, que Bruno, empolgado, respondeu com um sonoro “Feliz Carnaval, Salvador”. A folia rendeu muitas resenhas. Ele foi chamado de “delícia” por ninguém menos que Anitta, usou colar de Gandhy nos encontros com a imprensa, visitou camarotes, recebeu famosos, e teve até ligação pessoal para Ivete Sangalo para pedir que Veveta participasse do encerramento do Carnaval. A fama de festeiro correu a cidade.

Bruno Reis fez três contribuições importante para a festa mais famosa de Salvador. Na gestão dele foi criada a Melhor Segunda-Feira do Mundo da folia. O ex-prefeito ACM Neto (União Brasil) tinha criado o Fuzuê e o Furdunço, no fim de semana que antecede o Carnaval, e o Pipoco de Léo Santana, na terça-feira, véspera da folia. A segunda era o único dia que permanecia sem atividades pré-carnavalescas.

O prefeito fez uma parceria com Xanddy Harmonia para que o cantor reproduzisse no Circuito Tapajós, em 2024, o projeto de sucesso que já vinha realizando há anos nos verões de Salvador. A primeira edição da Melhor Segunda-Feira do Mundo no Carnaval ficou lotada.

A segunda contribuição do gestor para o Carnaval gerou polêmica. O anúncio da construção de uma passarela para os vendedores ambulantes, na Barra, rendeu um debate acirrado envolvendo a prefeitura, a categoria e órgãos de fiscalização. Segundo o município, o objetivo era retirar as bancas da avenida para que os foliões tivessem mais espaço e acomodar os trabalhadores em um local mais adequado. No final, a passarela funcionou e deu tão certo que será ampliada até as imediações do Barravento, na folia de 2025.

Mas Bruno Reis disse que o maior legado da sua primeira administração no Carnaval é a revitalização da folia no Centro. “Na segunda-feira de Carnaval praticamente empatou (o número de pessoas nos dois circuitos): 861 mil, na Barra/Ondina, contra 836 mil, no Campo Grande. Tinha pelo menos 20 anos que isso não ocorria nessa cidade, e nós fizemos isso, criamos produtos e divulgamos o Carnaval do Centro”, afirmou.

Na edição de 2024, o Campo Grande teve apresentações de grandes artistas, como Carlinhos Brown, BaianaSystem e Ivete Sangalo. A cantora, que não se apresentou em 2023 no circuito, voltou à Avenida no ano em que completou 30 anos de carreira. “Foi a nossa gestão que salvou o Carnaval do Centro, e isso ninguém jamais vai tirar”, celebrou Bruno Reis.

Outros esforços para a revitalização do Centro Histórico foram a transferência do Natal do Campo Grande para a Praça Municipal, o Terreiro de Jesus e o Pelourinho. Houve também a criação do Distrito Cultural do Centro Histórico e Comércio, mudou a sede da Guarda Municipal para o bairro e ampliou o número de eventos realizados na região.

Depois de quase dez anos em cargos de comando do Município, Bruno brinca que ganhou cabelos brancos, a visão precisou de óculos e a audição já não é a mesma, provocando riso nas plateias, mas quem trabalha com ele afirma que ele é ativo e focado no trabalho, então, é bom preparar o fôlego, porque serão mais quatro anos pela frente.

Barro Branco: o primeiro desafio

Bruno Reis chegou às pastas de comando da prefeitura através da assistência social, quando foi escolhido para comandar a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps), em 2015. Um mês e meio depois, um temporal atingiu Salvador com força. Na madrugada de uma segunda-feira, 27 de abril, a chuva persistia e o solo encharcado cedeu na comunidade do Barro Branco. Um paredão de terra soterrou moradores, casas e carros. Foram 11 mortos. A tragédia comoveu a cidade.

Naquele outono foram registrados deslizamentos também no Marotinho, com mais óbitos, e na Suburbana, com desabrigados. Enquanto o prefeito ACM Neto montava um gabinete de crise, o novo secretário precisou organizar uma operação de guerra, junto com a subsecretária Ana Paula Matos, para atender os milhares de desabrigados e desalojados. Anos depois, Bruno afirmou que esse tinha sido o maior desafio da carreira política.

Após a tragédia, a prefeitura desenvolveu um projeto de requalificação para a comunidade do Barro Branco e Bruno, na ocasião vice-prefeito e secretário municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), ficou responsável por conduzir o processo. A entrega ocorreu em agosto de 2020. O conjunto habitacional tem 16 mil m², com quatro torres e 120 apartamentos. Foi realizada uma obra de contenção no barranco e oferecidos equipamentos de lazer. “As noites de pesadelo, sem sono, com medo de ocorrer uma tragédia agora dão espaço para esperança”, disse Bruno, na época.

Pandemia: o segundo desafio

É difícil imaginar Salvador sem festa de Réveillon, Lavagem do Bonfim e Carnaval, mas foi assim nos dois primeiros anos de mandato de Bruno Reis. A pandemia de covid-19 superou a tragédia no Barro Branco em termos de desafio para a gestão e drenou as economias do município. As contas deixadas pelo antecessor, ACM Neto, estavam no azul, o turismo crescendo e a economia em desenvolvimento. O vírus foi uma rasteira e o tema surgiu no discurso de posse do novo gestor.

“Faremos tudo o que está ao nosso alcance para imunizar o mais rápido possível nossa população. Não importa a nacionalidade da vacina, o que importa é a sua eficácia e segurança. Se há uma coisa que peço a Deus todos os dias é que possamos o mais breve possível voltar à normalidade nas escolas, nas ruas, nas praias, na rotina de Salvador. A capital que se destacou no combate à pandemia estará na linha de frente da vacinação contra a covid-19”.

Nesse período, Bruno autorizou a abertura de gripários e de hospitais de campanha, iniciativa que começou na gestão de ACM Neto, e passou a usar uma frase que seria repetida à exaustão. “A tarifa do transporte público não remunera mais o sistema”. O problema do transporte se aglutinou, um dos consórcios quebrou e o município precisou assumir a operação das linhas da antiga CSN. O vírus obrigou o fechamento de praias, bares e restaurantes, cancelou shows, sacudiu a economia e tirou quase 9 mil vidas na capital. “Foi o maior desafio da minha gestão”.

Bruno já foi presidente de grêmio e deputado

O que muita gente desconhece é que, antes de fazer carreira no município, Bruno Reis atuou no Legislativo. Natural de Petrolina (PE), ele mudou com a família para Juazeiro (BA), quanto tinha 5 anos, e viveu a maior parte da infância na cidade. Comunicativo, o gosto pela política começou cedo. Ele integrou o grêmio estudantil do Colégio Nobel e o Diretório Acadêmico da Universidade Católica do Salvador, onde cursou Direito.

Durante a faculdade, Bruno foi estagiário e, depois, assessor na Câmara de Vereadores. Nessa época, ingressou no antigo PFL e conheceu ACM Neto, se tornando mais tarde assessor político do amigo. Em 2010, Bruno lançou a própria candidatura e foi eleito deputado estadual, com 55.267 votos, e em 2014, foi reeleito com uma das mais expressivas votações do estado à época, 89.607 votos. Na Assembleia Legislativa, Bruno foi escolhido Destaque Parlamentar de 2011 e 2012 pela imprensa especializada. Foi ainda o deputado mais assíduo e um dos mais atuantes.

Bruno Reis assumiu a Semps, em 2015, a convite de ACM Neto. Em 2016, eles venceram as eleições municipais, Reis se tornou vice-prefeito e, em 2019, passou a comandar a Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra). Na época, afirmou que tinha como objetivo reduzir e antecipar os prazos das entregas.

Reis ficou responsável por tocar obras como a requalificação da Avenida Sete de Setembro, da Praça Castro Alves e do Terreiro de Jesus, além da construção do Museu da Música e do Arquivo Público de Salvador. Os investimentos no Centro Histórico ultrapassavam os R$ 300 milhões. Bruno também cuidou das Muralhas do Frontispício, dos Arcos da Ladeira da Montanha e da recuperação do Elevador do Taboão, que entrou em operação durante a gestão dele como prefeito, em 2021.