'Enfrentar a questão do desemprego é uma bandeira urgente', diz candidato do PCB

Giovani Damico é o terceiro entrevistado da sabatina promovida pelo jornal CORREIO

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  • Millena Marques

Publicado em 12 de setembro de 2024 às 22:59

Candidato do PCO, Giovani Damico
Candidato do PCB, Giovani Damico Crédito: Divulgação

O candidato do PCB, Giovani Damico, foi o terceiro a participar da série de sabatinas do CORREIO com os postulantes ao Palácio Thomé de Souza. Ele tem 32 anos, é geógrafo, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e professor da rede básica de ensino do estado. A entrevista aconteceu nesta quinta-feira (12). 

Veja os principais trechos da sabatina com foco nas propostas do candidato

A demanda por estrutura de saúde é crescente. O senhor enxerga a parceria e a contratação de instituições privadas para a prestação desse serviço? (Mauro Adan, Associação de Hospitais e Serviços de Saúde da Bahia - Ahseb)

Para organizar o Sistema Único de Saúde (SUS) temos a premissa importante que é um trabalho estável. Para a gente organizar o nosso plano municipal de saúde, a gente precisa que os nossos profissionais de saúde tenham uma continuidade no trabalho. Isso é importante para termos uma estratégia de atenção primária, de atenção especializada, que deem conta dessas demandas crescentes e emergentes que não cessam. Junto a isso, considero que seria uma tentativa de tapar o sol com a peneira querer transferir a responsabilidade do SUS para a iniciativa privada. A realização de exames está cada vez mais difícil pelo SUS. A gente não vê, na prática, uma redução de custo com essa transferência de recursos do SUS para empresas privadas. A nossa estratégia tem que ser focada na organização de sistema público de saúde, inclusive na oferta de exames.

As alterações realizadas nos últimos anos no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) favorecem a construção de grandes prédios na orla da cidade. Qual a proposta do candidato para o PDDU: manter como está ou modificá-lo? (Pergunta do candidato Victor Marinho)

Essa é uma questão interessante. A gente sabe que os planos diretores têm uma legislação própria. Um dos aspectos que precisam ser observados é o caso de diversas moradias de Salvador não cumprirem o valor habitacional. É um ponto que deve ser enfrentado, fora os terrenos, que também estão voltados para especulação imobiliária. Então, o plano diretor de Salvador vai precisar olhar com uma atenção especial esse aspecto do déficit habitacional, claro, linkando com a questão do meio ambiente da nossa cidade.

Os trens do Subúrbio (responsabilidade do governo do estado) foram extintos. Caso sua gestão se concretize, haverá um modal levando do Subúrbio para a Nova Rodoviária, 29 de Março e Paralela? (Perfil do Instagram do Ponto Falei)

O Subúrbio Ferroviário está desconectado dos modais existentes na nossa cidade. O fechamento do trem do Subúrbio foi o tiro de misericórdia em uma situação já calamitosa. Refletindo sobre a situação do trem, a gente cometeu um verdadeiro crime contra a população do Subúrbio. Quando você subtrai um modal sem uma alternativa para colocar no lugar, é uma violência. O VLT precisa se tornar uma aposta importante. A gente pode, como transporte de massa, ter algumas linhas de metrô organizadas pela prefeitura, apostar no bondinho VLT e outras mais. O transporte aquaviário foi abandonado na nossa cidade, já teve um potencial importante em Salvador e pode ser retomado.

Existe uma intenção de compor o secretariado e as empresas ligadas à prefeitura com nomes de negros e negras? (Pergunta de Vovô do Ilê, presidente do bloco Ilê Aiyê)

Certamente isso vai acontecer porque a forma como entendemos de construção de política traz dentro dela, com muita naturalidade, uma participação de muitos agentes. Não é por decreto, mas acho que é um fluxo natural que a gente tenha uma participação de segmentos negros, inclusive, nos órgãos de gestão do governo. É um princípio como enxergamos as lutas políticas, se organizando e chegando ao poder. A gente precisa de pessoas que tenham um engajamento político, porque nos ajuda a pensar projetos que estejam atrelados com que a população tem anseios. Ao mesmo tempo, precisamos de uma dimensão técnica porque não temos como perder de vista que vários de nossos desafios precisam de estudos apurados, de contato com a academia, com a pesquisas e instrumentos de gestão que já foram testados em outras localidades. Serão indicações com dimensões políticas e técnicas fortes.

A segurança pública é de responsabilidade do governo estadual. Mas, em uma eventual gestão do senhor, a prefeitura irá colaborar para reduzir a violência na cidade?

Nós não temos uma solução para imediato. Essa solução não existe. Não adianta a gente dizer que vai triplicar a Guarda Municipal e achar que isso vai resolver o problema. Ou mudar os calibres das armas. O primeiro passo necessário é uma mudança de estratégia de construção de segurança pública, que não dá para ser feito da noite para o dia. Para nós, a Guarda Municipal deve ser uma força que trabalhe a prevenção. Um lado é prevenção no sentido pragmático (câmeras, iluminação pública, as praças movimentadas). Por outro lado, a Guarda Municipal tem que estar atrelada a uma estratégia de prevenir que o jovem ingresse no mundo do crime. Se a gente não tiver estratégias que inibam a entrada do jovem na criminalidade, a gente vai continuar vendo um problema que só se agrava. São novas facções chegando e a gente vê o drama dessa chegada.

Como pretende resolver a questão do desemprego ?

O nosso projeto tentou expor com clareza. Primeiro, temos uma mudança de mentalidade. O poder público precisa se olhar e se propor a ser responsável pela geração de emprego e renda. Não vamos esperar que as vagas de emprego sejam magicamente ofertadas. O poder público vai se tornar um agente por três frentes. A geração direta de emprego por meio da abertura de empresas pelo poder público, como uma empresa municipal de construção civil, orientada para a construção de moradia e obras de interesse e infraestrutura social. A estratégia também de iniciar algumas frentes voltadas para a industrialização da nossa cidade. Temos dois pontos importantes: a economia cooperativa, que tem um potencial grande, para trazer para o trabalho formal quem está na informalidade. O terceiro ponto, quando a gente olha para o atual cenário da nossa cidade, quem mais gera renda são as pequenas produções. Se a gente expandir as pequenas produções, o retorno social é muito grande.

De todos os seus projetos, qual você acredita ser o principal para o futuro de Salvador? (Pergunta geral para todos os candidatos)

Sendo muito sincero, evitamos hierarquizar quando vamos dar uma resposta para a nossa cidade porque são muitas urgências. Mas ao olhar para realidade da nossa cidade, entender que enfrentar a questão do desemprego é uma bandeira muito urgente e, ao mesmo tempo, tem um poder de incidência de outras questões que afligem a população. Elencaria essa questão porque ela se liga a várias outras questões. A gente está falando também de geração de moradia, enfrentamento e combate ao racismo, de dar melhores condições de vida a mulheres trabalhadoras que são chefes de lar. Esse é um ponto que aflora com maior intensidade, embora eu não goste muito de hierarquizar porque são muitas as questões urgentes na nossa cidade.

Qual a sua proposta para trazer investimentos industriais para Salvador? (Leitor do CORREIO - Diogo Henry)

Não tem hoje uma estratégia para atração de investimentos industriais. Precisamos de uma estratégia para atrair investimento, mas também estabelecer um polo onde a prefeitura esteja abrindo algumas frentes. Salvador tem potencial e pode se tornar inclusive uma ponta de lança na questão de energia renovável. Está no nosso programa tornar Salvador produtora e pioneira na produção de placas solares e no estímulo de outras formas de energia renovável. Hoje, o Ceará tem apostado, por exemplo, nas células de hidrogênio, ainda que timidamente. Salvador pode também se tornar pioneira e atrair um segmento importante e que vai ser, certamente, uma fronteira tecnológica nos próximos anos. Isso, claro, tem que ser consorciado com a Ufba, Uneb e Senai Cimatec.

O PCB não tem vereadores. Como pretende negociar a votação de projetos na Câmara Municipal?

Essa é uma pergunta que desperta certa preocupação no eleitorado. Eu acho que precisamos de estratégias, que não sejam aquelas de fatiar a máquina pública. Eu acho que é um grande desafio. A solução muito clara é chamar o terceiro ator de grande importância, que é o nosso eleitor. Se a gente pega o PDDU, há um contraste do que a Câmara e a prefeitura discutiram com o que a população está espelhando enquanto seus interesses. Então, quando a gente traz a participação da população, movimentamos a máquina pública no sentido muito mais próximo aos interesses da população.

Quais são suas considerações finais?

A gente tem um projeto engajado e com uma prioridade muito clara, que está atrelado aos interesses da população que mais precisa. Isso significa que estamos fazendo e construindo um projeto que não sai só na nossa cabeça. Pelo contrário, se conecta no cotidiano da cidade, das comunidades, e daí chegamos nessa síntese dessas demandas da sociedade para a nossa cidade, que é ao mesmo tempo uma cidade tão rica e tão pobre. A gente abraça como uma responsabilidade do poder público mudar essa realidade. Sou professor, então, tenho obviamente, um compromisso grande com a educação. Precisamos rever essa educação para uma escola que convide o aluno a permanecer, que a escola seja um espaço de criatividade, conectado com o futuro, onde o jovem se sinta presente em um projeto de sociedade.

*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva