'A saúde pública será a prioridade no nosso governo', diz candidata da UP

Eslane Paixão é a quinta entrevistada da sabatina promovida pelo jornal CORREIO

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  • Millena Marques

Publicado em 16 de setembro de 2024 às 22:13

Candidata da UP, Eslane Paixão
Candidata da UP, Eslane Paixão Crédito: Divulgação

A candidata Eslane Paixão (UP) foi a quinta a participar da série de sabatinas do CORREIO com os postulantes à prefeitura de Salvador. Aos 31 anos, ela é presidente estadual da Unidade Popular na Bahia. Ela já foi candidata à vereadora de Salvador em 2020 e à deputada estadual em 2022 pela Bahia, mas não foi eleita em nenhum dos pleitos. A entrevista aconteceu nesta segunda-feira (16).

Veja os principais trechos da sabatina com foco nas propostas da candidata

De todos os seus projetos, qual você acredita ser o principal para o futuro de Salvador? (Pergunta geral para todos os candidatos)

O primeiro projeto nosso é a questão da saúde. A saúde pública será prioridade no nosso governo porque a gente vive numa cidade onde as famílias sofrem a dor de não ter um serviço de saúde pública de qualidade, que atinge a todos. A regulação é um problema no nosso estado, mas o atendimento básico da saúde não existe com totalidade em Salvador. Queremos priorizar a saúde para que seja de excelência.

Minha vida é marcada por uma luta em defesa da democracia e dos direitos humanos. Sempre ao lado das causas sociais e da esquerda. Sempre estive ao lado do presidente Lula e de lideranças como Boulos, que lidera pesquisas de opinião em São Paulo. Por que vocês mudam tanto de lado e de partido político? É difícil manter coerência? (Pergunta do candidato Kleber Rosa)

Nós da Unidade Popular sempre tivemos um lado, o lado do povo, da classe trabalhadora. Sempre estive desde os meus 16 anos na luta popular, na luta social. Desde então, me entendi como uma comunista revolucionário, que não abre mão dos seus princípios, de maneira alguma, por causa de governo, de recursos, cargos. Jamais vou abrir mão do meu partido. Sou muito feliz de dizer que construo a Unidade Popular. Por isso, é reafirmar aqui a importância de ter uma candidatura como a minha e a de Giovana (Ferreira), uma outra mulher negra, que é minha vice, que é trabalhadora, pois não basta ser negra, é preciso ter lado. Para nós, é muito importante reafirmar que somos a maioria da população soteropolitana. Nós, mulheres, não estamos nos espaços de poder e ainda sofremos com racismo, machismo e misoginia.

Quais medidas a candidata pretende adotar para reordenar o comércio ambulante que ocupa as calçadas e a frente das lojas, especialmente no centro da cidade? (Pergunta da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia)

Tenho dito que a classe trabalhadora não tem sido ouvida. Por isso, defendemos que esses trabalhadores e trabalhadoras precisam ser ouvidos. A gente sabe que aqueles que estão na linha de frente, que enfrentam o caos que é a organização da nossa cidade, também sabem como resolver os problemas. Essas pessoas que enfrentam sol, chuva. A gente tem escutado isso nas ruas. As medidas que hoje são implementadas goela abaixo não resolvem os problemas, as demandas não só dos ambulantes, mas de toda uma população que acessa um comércio que a cada ano que passa segue desorganizado. A nossa prefeitura será a prefeitura que vai ouvir a demanda dos trabalhadores e vai colocar em prática essas soluções. Temos muitas propostas para resolver a questão do desemprego.

O que pretende fazer especificamente em relação à geração de emprego para jovens, mulheres e negros, que sofrem mais com o desemprego?

Nós defendemos a criação de empresa pública de transporte para resolver. Criando essa empresa, nós pretendemos gerar mais empregos, inclusive, para esses setores da juventude, homens e mulheres, negros e negras, que são a maioria da população. A gente entende que o setor privado, que administra setores estratégicos da nossa sociedade, não está preocupado em garantir o bem-estar da população, mas sim o lucro. Então, de fato, abrindo essas vagas, fazendo esses concursos e contratações nos setores estratégicos, vamos criar frentes de trabalho e emprego.

Caso seja eleita prefeita, se empenhará para promover o ensino fundamental? (Fórum de Entidades Negras da Bahia – Feneba)

Vamos começar pela valorização da nossa educação. Com os estudos que a gente tem, se fosse investido em educação no nosso município, começando pelo aumento do piso das professoras, a gente não teria a sobrecarga que temos hoje no ensino das nossas crianças. A gente precisa pagar esse piso dos professores para garantir que outras medidas estruturais aconteçam e que não seja em algumas escolas, mas em todas as escolas da rede municipal.

Quais são as áreas que, hoje, no orçamento público irão perder recursos para os investimentos citados por você?

Não há um setor que vai perder. A gente acredita que um imposto deve ser criado - fruto de muito estudo, de muitas avaliações - onde o patrão, o empregador, seja obrigado a pagar esse valor. O imposto que não seja descontado no salário do trabalhador. Hoje, utilizamos o transporte coletivo principalmente para trabalhar, não é para o lazer, para um momento de folga. Se nós utilizamos o transporte coletivo para poder gerar lucro ao patrão, nada mais justo que esses (patrões), paguem.

O que a candidata pensa sobre ter mais psicólogos nos colégios municipais?

Eu acho extremamente importante porque vivemos em uma sociedade capitalista que nos adoece a todo instante. Não só as macro violências que a gente passa - ainda mais nós, população negra - então, para mim, é muito urgente. Eu participei de um debate da Defensoria Pública que tratava dessa questão da educação na primeira infância, e uma professora falou sobre a importância de ter uma educação interligada com a saúde pública, onde os agentes de saúde estejam presentes nas escolas. Onde a família possa ter esse espaço na educação dos filhos, e uma escola preparada, com psicólogas concursadas, devidamente contratadas e pagas, porque devemos valorizar esses profissionais, que são essenciais.

Qual é a proposta da candidata para as pessoas em situação de rua? (Leitor do CORREIO, Pedro Luís Alves)

Queremos a criação de centros de acolhimento para que essas pessoas possam voltar a ter uma vida digna, para poder se organizar, para, inclusive, ter acesso ao primeiro emprego, à educação, a um atendimento mínimo, básico, de qualidade. Parece que quando a gente fala de uma determinada proposta, ela parece estar isolada, mas não está. Quando a gente fala em resolver a questão do transporte coletivo da nossa cidade, a gente fala sobre pessoas que não conseguem emprego, que não têm acesso à renda. Então, que elas tenham acesso ao transporte coletivo para rodar a cidade e procurar um emprego.

Você é a única mulher na disputa pela prefeitura de Salvador. Quais são as políticas que pensa em implementar para essa parte da população? Qual será o espaço destinado às mulheres em sua administração?

Todos os espaços para nós, mulheres negras. Tem pessoas que não aceitam que mulheres negras, como eu, pobres, trabalhadoras. A gente sabe que o tratamento é diferente. Então, teremos todos os espaços e não seremos cota. Assim como no meu partido, Unidade Popular, nós mulheres, negros e negras, não somos cota. É muito bom deixar isso aqui registrado, porque há organizações, partidos e setores que subestimam o papel da mulher negra, o nosso intelecto, a nossa capacidade.

Quais são as considerações finais?

A gente faz política que é feita do povo para o povo, que não se vende, que não se corrompe. Estamos cansados desses políticos corruptos que estão aí há anos, governando para si próprio, fazendo carreira, enriquecendo às custas da política. Queremos fazer muito mais, mas para isso precisamos de mais pessoas conscientes, organizadas, dedicadas, que se voluntariem para poder construir o trabalho que a gente já constrói.