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Do Estúdio
Publicado em 19 de maio de 2020 às 17:22
- Atualizado há 2 anos
O número de desempregados registrado no primeiro trimestre de 2020 já passa dos 12 milhões. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD). Segundo o IBGE, a taxa de desemprego entre os jovens brasileiros de 18 a 24 anos também aumentou, chegando a 27,1% nos três primeiros meses deste ano.
Os registros indicam ainda que esses valores são mais acentuados entre as mulheres e aqueles que se autodeclaram pretos ou pardos. Um dos fatores que explicam esse cenário é a dispensa de vários trabalhadores temporários, que foram contratados no final de 2019 e depois demitidos por conta da pandemia.
Mas entre todos os números, gráficos e estudos disponibilizados pelas pesquisas, estão as histórias de pessoas que tentam diariamente encontrar trabalho. Entre elas, está Adriana Sacramento. Aos 24 anos, a jovem que mora na capital baiana está sem trabalhar desde julho de 2019. Sua última ocupação foi como operadora de telemarketing. Durante o período que ficou sem trabalhar, ela até tentou fazer outras atividades. “Entrei em alguns cursos, faculdade, mas ainda não concluí nada. A falta de emprego fez com que eu desistisse. Sem emprego não tem dinheiro, fica complicado”, explica.
Adriana também acredita que a ausência de qualificação a impede de ser selecionada para as vagas de emprego. “As oportunidades já são poucas para quem tem qualificação, para quem não tem é pior”, afirma. Para se manter durante esse período, a jovem tem feito alguns trabalhos autônomos. “Fiz faxinas e só. Tenho algumas economias que guardei quando saí do emprego. Atualmente estou me organizando para montar meu negócio, algo voltado à culinária. Sempre tive esse sonho. Amo cozinhar”, declara.
Nas circunstâncias atuais, em que o novo coronavírus mexeu com todos os setores da sociedade, Adriana não cria muitas expectativas quanto às novas contratações. “Eu acredito que será mais complicado ainda, pelo menos no início, as coisas irão acontecer com mais lentidão, já que a economia do nosso país teve um grande impacto negativo”, conclui.
Quem concorda com a afirmativa da jovem é a economista Izabella Maria da Silva Viana. Mestre em Economia e Doutoranda em Estatística, Izabella reitera que de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o impacto da Covid-19 fará com que o mundo passe por experiência semelhante à Grande Depressão de 1929, com retração do PIB mundial.
A economista explica: “a recessão, na prática, engloba uma série de fatores que impactam diretamente na economia, como a redução da produtividade das indústrias, aumento do desemprego, a diminuição do poder de compra das famílias e a redução dos investimentos no país.
”Para entender melhor o vínculo que existe entre esses dois fatores, a economista esclarece: “há uma relação direta entre a recessão econômica e a taxa de desemprego. Quando não há circulação de renda na economia, como por exemplo, o consumo de serviços, ocorre a retração econômica. É um efeito multiplicador, com a redução dos níveis de empregos e circulação de renda. Isso pode ser visto também nos níveis de investimentos, quando os investidores estão mais cautelosos em injetar dinheiro na economia quando há níveis baixos de crescimento”, esclarece. A economista Izabella Maria da Silva Viana (Foto: arquivo pessoal) Além disso, a alta do desemprego entre os jovens pode ser ainda mais danosa, causando prejuízos que podem durar por muito tempo. “A curto prazo ocorre o aumento das solicitações em seguro-desemprego. A longo prazo há perda de qualificação, redução da renda futura e consequentemente da produtividade. Neste cenário, haverá o aumento dos custos do Estado, pois será necessário que os recursos sejam elevados para ofertar serviços públicos e benefícios sociais”, conclui Izabella.
O IBGE revelou que o desemprego cresceu em 12 estados brasileiros no 1º trimestre de 2020, se comparado com o 4º trimestre do ano passado. Entre os estados com as taxas mais elevadas, estão: Bahia (18,7%), Amapá (17,2%), Alagoas e Roraima (16,5%). As menores taxas foram observadas em Santa Catarina (5,7%), Mato Grosso do Sul (7,6%) e Paraná (7,9%).
Faz parte desse grupo a jornalista de Juazeiro, Bahia, Elinete Souza de Carvalho,36. Sem trabalhar há 5 meses, a última ocupação que conseguiu foi em uma área completamente distinta do jornalismo. O que conseguiu foi uma vaga como operadora de caixa em uma loja de produtos químicos e de limpeza. Para se manter durante o período que está desempregada, a jornalista tem feito algumas prestações de serviço e também conta com o apoio de seus familiares. Elinete até pensa em investir mais nos estudos, mas o momento não é propício. “Pretendo muito fazer uma especialização, mas desempregada e com aluguel para pagar não tem como”, justifica.
A jornalista também não está muito otimista quanto a situação do desemprego no país. “Apesar de algumas empresas terem demitido muitos funcionários e pretender contratar novos servidores quando a pandemia acabar, acredito que tudo isso vai afetar ainda mais a crise econômica no país e, consequentemente, vai aumentar o índice de desemprego”, completa.
Fonte: Esther Santana - Agência Educa Mais Brasil