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Portal Edicase
Publicado em 8 de abril de 2025 às 15:09
Um recente levantamento realizado pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca, revela que crianças que crescem com pouco acesso a áreas verdes têm até 55% mais chances de desenvolver distúrbios psicológicos ao longo da vida adulta. O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences , acompanhou mais de 900 mil crianças ao longo de uma década, estabelecendo uma relação direta entre o contato com a natureza e a saúde mental. >
No Brasil e em outros países, profissionais da infância vêm relatando um crescimento significativo em sintomas como irritabilidade, déficit de atenção e comportamentos compulsivos entre crianças que passam a maior parte do tempo em ambientes urbanos, com poucas oportunidades de brincadeiras em áreas naturais. De acordo com um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde (MS), de 2014 a 2024, o atendimento a crianças de 10 a 14 anos relatando sintomas de ansiedade cresceu cerca de 2.500% no Sistema Único de Saúde (SUS). >
O jornalista e pesquisador norte-americano Richard Louv, autor do livro “ A Última Criança na Natureza “ , é uma das principais vozes sobre o tema. Em sua obra, ele cunhou o termo “transtorno do déficit de natureza”, para se referir às consequências físicas e emocionais da desconexão infantil com o mundo natural. “As crianças estão sendo privadas de uma fonte essencial de aprendizado, saúde e equilíbrio emocional. A natureza oferece estímulos únicos que nenhuma tecnologia consegue reproduzir”, afirma. >
Além dos impactos psicológicos, o contato com ambientes naturais favorece o desenvolvimento motor, cognitivo e social. Um estudo do National Institute for Health and Welfare , da Finlândia, concluiu que crianças que brincam diariamente em áreas verdes apresentam menores níveis de inflamação no organismo e microbioma intestinal mais saudável, além de maior capacidade de autorregulação emocional. >
O cenário contrasta com a realidade de muitas crianças urbanas. Dados da ONG britânica The Wildlife Trusts indicam que elas passam, em média, menos de uma hora por dia ao ar livre — tempo inferior ao de prisioneiros em regime fechado. Da mesma forma, o período médio de tela entre crianças de 5 a 12 anos já ultrapassa quatro horas diárias, segundo levantamento da Common Sense Media (organização que oferece educação para famílias menos privilegiadas). >
Diante das evidências, especialistas defendem uma mudança de postura urgente por parte de escolas, famílias e formuladores de políticas públicas. Iniciativas como trilhas educativas, hortas escolares, atividades pedagógicas ao ar livre e acesso facilitado a parques urbanos são apontadas como estratégias eficazes para reverter o quadro. >
“O contato com a natureza não é recreação: é uma necessidade vital para o desenvolvimento humano “, resume Richard Louv. Em um mundo cada vez mais tecnológico, reconectar as crianças ao ambiente natural pode ser a chave para formar adultos mais saudáveis, resilientes e conscientes. >
Para apoiar os pais no processo de inserção das crianças em um contato mais próximo com a natureza, Viviane Candotta Gabriel, bióloga de formação e educadora ambiental da Associação Ambientalista Copaíba, lista 5 dicas fáceis de implementar no dia a dia. Confira! >
Mesmo que você more em áreas urbanas, parques, praças e espaços verdes próximos podem se transformar em “expedições” para observar plantas, insetos e pássaros. Incentive a curiosidade da criança com perguntas como: “que tipo de árvore é essa?” ou “quantos tipos de folhas diferentes conseguimos encontrar hoje?”. >
Cultivar hortaliças, temperos ou flores em vasos, canteiros ou jardineiras ensina sobre ciclos da natureza, responsabilidade e paciência. É uma atividade sensorial e envolvente que estimula o cuidado com o ambiente e a alimentação saudável. >
Deixe as crianças se sujarem. Brincar com barro, areia e folhas é essencial para o desenvolvimento motor, emocional e imunológico. O contato com o solo, inclusive, favorece a diversidade do microbiota intestinal, essencial para a saúde. >
Andar com lupas, binóculos ou caderninhos de anotação para observar insetos, aves ou pequenos animais transforma qualquer passeio em uma experiência científica e divertida. Anotar o que foi visto estimula a atenção e o interesse pela biodiversidade. >
Quando não for possível sair, livros sobre a vida animal, documentários sobre ecossistemas ou até criar um terrário com as crianças podem aproximá-las do mundo natural. O importante é cultivar o olhar curioso e respeitoso com a vida ao redor. >
Por Milena Almeida >