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Priscila Natividade
Publicado em 6 de janeiro de 2019 às 08:15
- Atualizado há 2 anos
O baiano não pode nem imaginar, mas no momento que ele abre uma latinha de bebida é mais uma embalagem de alumínio reciclada que mantem a Bahia no topo da coleta de latinhas de alumínio entre os outros estados do Nordeste. No país, ocupa a sétima posição. E nesta época de sol, calor, verão e contagem regressiva para o Carnaval, o aumento no volume de latinhas coletadas neste período comparadas a outros meses do ano, chega a um acréscimo de 20%. Sim, é muita lata.
Os dados foram divulgados pela Latasa Reciclagem, que recicla 1,2 latinhas a cada duas que o consumidor vê em cima da mesa. Uma das 29 unidades de coleta da companhia está localizada em Salvador, no bairro de Pirajá. A latinha que sai daqui vai para a fábrica, em Pindamonhagaba, em São Paulo, onde passa por toda transformação que vai torná-la matéria-prima e outra vez, uma latinha de alumínio. E isso não vai demorar muito tempo: o consumidor pode voltar a beber na mesma latinha em 28 a 60 dias.
Segundo o gerente do setor de coletas da Latasa Reciclagem, Rafael Chagas, a transformação chega a 200 mil toneladas por ano em todo país. “Os meses de novembro e dezembro são os melhores meses de coleta na Bahia. Carnaval, nem se fala. A festa responde por grande parte das latinhas que saem do estado para reciclagem”, pontua.
Cadeia circular E aí chega a hora de entender a cadeia que envolve todo esse processo de reciclagem da latinha de alumínio. A convite da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), o CORREIO visitou os centros de coleta e as indústrias de transformação do metal, localizados em Pindamonhagaba (SP). O município paulista é conhecido como capital da reciclagem de alumínio por concentrar a maior parte da cadeia que envolve desde seu reaproveitamento até a fabricação de novas embalagens.
Primeiro, as latinhas que são coletadas pelas cooperativas de catadores espalhadas em todo Brasil que chegam aos centros de coleta, onde são selecionadas as latinhas que tem condições de serem recicladas. Elas são prensadas e seguem para a próxima etapa: a fábrica da Latasa. Nesta fase, a latinha passa por uma linha que retira todas as impurezas, depois é picotada e vai para o forno - coisa de 700º de temperatura.
As latinhas processadas se transformam em ligas de alumínio que vão servir de matéria-prima. “Essa fábrica de Pindamonhangaba só trabalha com sucata. Todo o processo de reaproveitamento das latinhas na produção do alumínio reduz em 95% o consumo de energia, comparado ao alumínio extraído da bauxita”, destaca o diretor de negócios da Latasa, Gilson Bento.
No estágio seguinte, a liga que saiu da Latasa chega até a fábrica de embalagem da Novelis, que vai laminar o alumínio, ou seja, deixá-lo na espessura para a fabricação da lata. A capacidade instalada da unidade paulista também no município de Pindamonhagaba é de 200 mil toneladas/ ano de folhas. Em 2017, 24 bilhões de latinhas de alumínio foram fabricadas, o dobro do volume de 10 anos atrás.
A unidade anunciou recentemente, um investimento de R$ 650 milhões na fábrica de Pinda, que deve expandir a capacidade de produção de chapas em 100 mil toneladas/ano e da capacidade de reciclagem em 60 mil toneladas/ano. A expansão elevará a capacidade total da fábrica de Pinda para cerca de 680 mil toneladas/ano e a de reciclagem para 450 mil toneladas/ano.
No centro de coleta da Novelis, em Salvador, atualmente, são compradas uma média mensal de 36 milhões de latas usadas. Estima-se que o estado da Bahia tem uma geração mensal de aproximadamente 100 milhões de latas. “100% das latas de bebida no Brasil hoje usam alumínio e metade das cervejas produzidas por aqui usam embalagens de alumínio. E o mais importante é que o alumínio de uma latinha pode ser reciclado infinitamente. Estamos utilizando o mesmo conceito da cadeia de latinhas para expandir o segmento automotivo, o setor que tem crescido mais rápido nos últimos tempos no uso do alumínio na fabricação de carros”, destaca o diretor de operações da unidade, Daniel Freire.
Mais etapas Da Novelis, as lâminas seguem para a unidade da Ball Corporation em Jacareí, em São Paulo, que vai fabricar o corpo, a tampa e o anel da latinha de alumínio. Entre os principais clientes da Ball estão empresas como a Ambev, responsável por cervejas como a Skol. O grupo tem oito fabricas de latas de alumínio espalhadas no Brasil e três só de tampas como a de Simões Filho, localizada em território baiano.
Uma latinha leva em média 27 minutos para ficar pronta e cada bobina da lâmina chega a confeccionar 1 milhão de latinhas. A linha de produção compreende também a pintura da embalagem, que vai para o armazém pronta para ser enviada para até fábricas de bebidas. “Ao todo, nós fabricamos 30 tamanhos diferentes de latas. Só no último ano foram vendidas 13,2 bilhões de latinhas. Atualmente, atendemos a 56% do mercado”, destaca o gerente de produção da Ball, Leandro Oliveira.
PRIMEIRA LATA RECICLADA VAI COMPLETAR 30 ANOS
Em 2019, o Brasil vai completar 10 anos que a primeira latinha foi reciclada no país pela Latasa. De lá para cá, o mercado do alumínio no Brasil saiu do zero e detém a mais de 10 anos consecutivos o recorde mundial de reciclagem de latas de alumínio, com 97,7% de aproveitamento. Evolução se faz presente até na espessura da lata, que tem a metade da que tinha antes.
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Segundo dados mais recentes da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), o consumo doméstico de alumínio no Brasil no último ano chegou a 1.263 toneladas. A maior parte deste montante foi de embalagens, que respondeu por 37,2%, seguida do segmento de transportes (16,5%) e da construção civil (12,2%).
Para o presidente executivo da entidade, Milton Rego, a cultura do brasileiro em relação ao consumo de bebidas ajudou a consolidar a cadeia e estimular a reciclagem. Só no primeiro semestre deste ano foram 258.5 toneladas de embalagens fabricadas, crescimento de 18,7%, em comparação com o mesmo período de 2017, quando foram feitas 217.7 toneladas do produto.
“A cadeia circular do alumínio passou por uma estruturação do setor como o todo, o que outros países ainda não conseguiram desenvolver, como por exemplo, no que diz respeito aos catadores, as cooperativas e toda a estrutura de coleta”.
E os brasileiros não gostam apenas de beber na latinha, mas também de coletar. O Brasil é o maior catador de lata do mundo. Logo em seguida vem o Japão com 92,4% do índice de reciclagem e a Europa com 71,3%. “Apesar de serem países com uma maior cultura de separação no ponto de vista da coleta, o alumínio gera renda a um número enorme de famílias aqui no Brasil”.
No entanto, ainda que consolidado, o ciclo do alumínio no Brasil, ainda tem barreiras que comprometem a economia circular. Uma delas está na otimização da logística do processo de coleta e de reciclagem. “É preciso que haja um crescimento de programas municipais de coleta seletiva. O fato de você catar em um lugar e levar para processar em outro tem um preço muito alto”, completa o diretor da Abal.
SOBRE O ALUMÍNIO
Custo - A energia utilizada na reciclagem do alumínio é 95% menor, do que o gasto na fabricação do metal primário.
Linha de produção - Uma latinha reciclada leva em média 27 minutos para ser fabricada.
Reciclagem - O ciclo de vida da latinha de alumínio leva de 28 a 60 dias para voltar para o consumidor.
Flexibilidade - Qualquer tipo de alumínio pode ser reciclado infinitas vezes.
Versatilidade - Além das latinhas, segmentos como o setor de automóveis e da construção civil cada vez mais vem utilizando a liga como matéria-prima tanto na fabricação de automóveis como de portas e janelas, por exemplo.