Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2022 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
A sensação de insegurança em Salvador tem feito potenciais proprietários considerarem, cada vez mais, a rotina do bairro antes de comprar um novo imóvel. O critério segurança do local ocupa o segundo lugar dentre os principais motivos listados na busca de uma casa nova, com 31%. O primeiro item da lista, interesse pelas características do imóvel, é o primeiro colocado, com 32%. Em seguida, a partir da terceira posição, aparecem, respectivamente: o desejo de deixar o aluguel (26%), ter área de lazer (24%), estrutura do imóvel (23%) e sentir-se seguro (21%). Os dados são da ferramenta de monitoramento de dados Data ZAP+ e contemplam entrevistas com usuários do serviço entre o 2º trimestre de 2021 e o 1º trimestre deste ano.
Residente em Boa Vista do Lobato, a bióloga Roseane Santos, 53, conta que segurança e realização pessoal foram os principais motivos que a fizeram comprar um empreendimento no Cabula. Isso porque ficaria mais tranquila mediante as possibilidades de mobilidade. “Ficava imaginando minha filha chegando tarde da faculdade. Um filho vem da faculdade, vai descer do ônibus, metrô e vai estar próximo de casa, não vai ter aquelas ruas perigosas. Um local onde não tenho medo de ficar esperando as minhas visitas chegarem. O que pensei foi a chegada na residência. Tem local que você tem que andar em becos, vielas até chegar em casa”, diz Roseane Economista da DataZAP+ Pedro Tenório revela que ficou surpreso ao ver a questão da segurança como prioridade, critério que nem entrou no pódio de outras cidades analisadas, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde o fator apareceu em quarto lugar. Ele lembra que a busca por características do imóvel é preponderante como motivação em diversas cidades, no entanto, a segurança não tinha aparecido tão perto do primeiro lugar em nenhuma delas. “Percebemos que existe esse problema de segurança na cidade [em Salvador]. Pelo menos no sentimento das pessoas”, ressalta.
Demanda dos clientes Corretora de imóveis, Géssica Novais afirma que, com o aumento da violência, a questão de localização tem sido crescente nas demandas dos clientes. Ela relembra quando apresentou um imóvel com todas as características físicas que os clientes queriam, no entanto, preferiram mudar devido à acessibilidade em horários avançados.
“Por conta dele [um dos interessados] sair de madrugada e chegar tarde do trabalho, eles deixaram de fechar um empreendimento que tinha todos os requisitos em infraestrutura. Tive que buscar além dos itens requisitados”, diz.
Para Géssica, a segurança se sobressai em relação às características da propriedade. A corretora ressalta que seus clientes que moram e têm grandes casas em bairros periféricos têm trocado os imóveis por apartamentos mais compactos. “A infraestrutura tem sido mais secundária, o que clientes buscam hoje é empreendimento bem localizado e possível dentro das condições financeiras deles”, completa.
A segurança dos bairros para os quais os moradores se mudam também prevalece sobre o número de quartos e tamanho da antiga moradia, acrescenta Géssica. “Eu morava na Massaranduba, bairro próximo à Ribeira. Minha rua era bem movimentada, mas toda hora tinha uma coisa diferente. Toque de recolher, guerra de facção. Minha mãe trabalha viajando. Sempre que eu saía ela ficava muito preocupada. Quando entrei na Ufba, usamos esse pretexto para mudar de bairro para outro lugar mais pacífico”, diz o estudante Marcos Henrique Vicente, 19 anos, que hoje reside no Cabula VI. Jaguaripe I, Vitória e Patamares têm metro quadrado mais caro de Salvador
Tanto a segurança, quanto a localização na orla elevam o metro quadrado dos empreendimentos, explica a corretora Géssica Novais. Bairros como Juagaripe I, Vitória e Patamares, dentro desse critério, são mais valorizados para a compra, conforme mostram os dados de maio do valor da unidade de medida de área. Assim, o custo é de R$ 10.202,09, em Jaguaripe I; R$ 8.537,43, na Vitória; e R$ 7.835,5, em Patamares, respectivamente.
Para o aluguel, Patamares (R$ 41,76) lidera, a Vitória (R$41,03) mantém o posto de segundo lugar e Piatã (R$36,37) assume o terceiro metro quadrado mais caro de Salvador. Os dados são do FipeZAP+, que leva em conta os apartamentos anunciados nos portais ZAP e Viva Real.
O economista da DataZAP+, Pedro Tenório, ressalta que o valor de venda é analiticamente diferente do aluguel. Ciclos de venda são mais longos, é uma decisão de longo prazo. A valorização em um bairro em venda, portanto, tende a durar mais. Já o aluguel é uma operação com prazo em média de 2 anos e concluído mais rápido, o valor é mais alinhado ao tempo real. Tenório acrescenta que existe variação nas taxas, a exemplo das reações na pandemia, quando houve perda de tração. Em períodos de flexibilização, “o efeito da taxa de juros vai se esvair” ao longo do tempo, fazendo com que o preços continuem crescendo, mas em ritmo menos acelerado.
Prova disso é o crescimento de 6,2% na venda de imóveis no primeiro trimestre de 2022, comparado ao mesmo período no ano anterior, segundo levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômica (Fipe). Em consonância, houve uma alta de 2,2% nos lançamentos de unidades por todo Brasil.
*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.