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Priscila Natividade
Publicado em 29 de abril de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Que a vida não tá fácil para o bolso, muita gente sabe e vive: pouco dinheiro para grandes despesas. Porém, é preciso admitir que a culpa pode não estar só na crise, mas também dentro de você, naquele gasto que parece inocente ou em uma compra compulsiva. Admita, muitas vezes é o consumidor que sabota o próprio orçamento. >
E os especialistas em finanças são unânimes em afirmar que quase sempre esse boicote passa por atitudes ‘despreocupadas’ e repetidas. Eles listaram, pelo menos, cinco situações nas quais o consumidor precisa ficar atento para não cair na armadilha que ele mesmo criou. >
“Autossabotagem financeira é repetir atitudes que prejudicam o orçamento e iniciam dívidas que parecem inofensivas, mas que vão crescendo e vira aquela bola de neve”, explica o diretor de produto e tecnologia do Guiabolso, Julio Duram. >
A plataforma elaborou um teste, a pedido do CORREIO, para ajudar a identificar a autossabotagem e como combatê-la (ao lado). Entre os principais ‘sintomas’ da autossabotagem estão, ainda, a pouca importância que se dá a gastos pequenos e confundir crédito com renda. >
“O consumidor alivia esse gasto adicional pagando um pouco menos em outras despesas, aperta um pouco o cinto aqui ou ali, e contorna tudo. O problema é repetir esta estratégia sempre”, avalia o especialista.>
Duram acrescenta: “O alerta precisa ser acionado quando o mês fica maior que o salário. Uma grande ajuda é se conhecer de verdade. Saber o que e quanto ganho, como e porque gasto. Quanto mais organizado for para gerir as despesas, os ganhos e para estabelecer as metas, mais difícil vai ser ficar no vermelho”, pontua. >
FIQUE ALERTA 'Quanto mais dinheiro gastamos em compras esporádicas, menos guardamos', afirma Reinaldo Domingos (Foto: Divulgação) ‘Eu mereço’ Quem nunca se deu essa ousadia, principalmente na hora de gastar um pouco além do orçamento? Segundo o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e criador do canal Dinheiro à Vista, Reinaldo Domingos, a frase pode ser verdadeira, mas é um gatilho para as compras por impulso. “Quanto mais dinheiro gastamos em compras esporádicas, menos guardamos para alcançar sonhos maiores (e mais caros)”, alerta. Por maior que seja a tentação e o merecimento, é preciso planejar. “É importante ter objetivos bem definidos”. >
'A soma pode assustar no final de 30 dias', alerta Julio Duram (Foto: Divulgação) Gastos ‘pequenos’ Ainda que a corrida do Uber tenha sido barata e que o cafezinho tenha sido pago com as moedinhas da carteira, não se iluda: elas também precisam ser contabilizadas. Se é de grão e grão que a galinha enche o papo - como diria o ditado - os pequenos gastos podem comprometer uma boa fatia do orçamento, quando cada centavo é somado. “A soma pode assustar no final de 30 dias. E se combino transporte e alimentação, o susto pode ser maior quando a fatura chega ou se consulta o saldo no banco”, alerta o diretor de produto e tecnologia do Guiabolso, Julio Duram. >
'É parar e analisar o orçamento, buscar restruturar as condutas e adequar suas contas', aconselha Rafael Villard (Foto: Divulgação) Não saber de fato quanto ganha por mês Confundir o salário líquido com o bruto, misturar o que ganha com os limites do cartão de crédito e do cheque especial são só alguns comportamentos que acabam levando o consumidor ao endividamento. E o erro não está no momento de fazer as contas, mas na hora de adequar o que realmente ganha ao padrão de vida, como afirma o economista e presidente da TeamUrso Cursos Online sobre Economia, Rafael Villard. “Nesse momento a pessoa deve parar e analisar o orçamento, buscar reestruturar as condutas e adequar suas contas”. >
'Reveja suas prioridades e se reorganize com disciplina. Esse é o caminho', indica Ricardo Maila (Foto: Divulgação) Fuga do problema Por mais que uma dívida tire o sono ou traga muita dor de cabeça, não dá para apertar o botão e se desligar dela, porque o efeito bola de neve vai chegar com força no orçamento. A dica do especialista em gestão financeira e diretor da Plano Consultoria em Finanças Pessoais, Ricardo Maila, é encarar suas finanças como elas são. “Com o endividamento vem a desmotivação e a reação reforçada de não querer encarar os problemas e, então, se evita falar sobre as dívidas apesar da pressão das cobranças. Reveja suas prioridades e se organize com disciplina. Esse é o caminho”. >
'É difícil, mas não impossível. Comece com pouco', recomenda Annalisa Dal Zotto (Foto: Divulgação) Gastar tudo (e além) Ainda que o salário seja pouco e o malabarismo para esticar a grana seja necessário, não dá para gastar como se não houvesse amanhã, como aconselha a planejadora financeira e sócia da Par Mais Investimentos, Annalisa Dal Zotto. “Ainda estamos vivendo um momento de forte desemprego e crise, mas mesmo antes, quando as coisas estavam melhores, as pessoas tinham a mesma dificuldade de poupar. É difícil, mas não impossível. Comece com pouco. Trace um objetivo, ele vai ajudá-lo a tornar isso um hábito”, destaca a especialista em finanças pessoais. >
VOCÊ SE AUTOSSABOTA FINANCEIRAMENTE*? >
1. Você sabe quanto ganha por mês?>
a) sim, o valor líquido, já com todos os descontosb) sei por cima, mas talvez me esqueça de algum desconto c) acho que sei, mas vou errar d) nem me importo com isso >
2. Com que frequência usa o cheque especial?>
a) nuncab) quase nuncac) quase sempred) sempre>
3. O que você faz quando vence a fatura do cartão de crédito?>
a) paga o valor totalb) paga o que consigo, mas mais que o mínimoc) paga o mínimod) não paga >
4. Qual seu pensamento quando vai as compras? >
a) pesquiso preços, barganho descontos e só compro o que precisob) posso me dar algum luxo de vez em quandoc) me jogo nos desejos, depois penso como pagar d) ainda bem, agora posso compensar aquela frustração>
5. Você sabe quanto gasta no dia a dia?>
a) sim, cada centavob) sei por cima, mas não cada detalhec) não tenho controle e me assusto quando o dinheiro “some da conta” ou chega a fatura do cartãod) não tô nem aí>
6. Qual sua reação quando as contas não fecham e fica no vermelho?>
a) isso nunca aconteceu comigo, mas se acontecer uso minha reserva de emergênciab) analiso o que ganhei e gastei pra definir o melhor caminho pra me livrar desse incômodoc) aproveito o limite da conta ou parcelo no cartão de crédito e pago conforme dá d) de novo? Já não é mais novidade pra mim!>
PONTUAÇÃO>
a) 100 pontosb) 60 pontosc) 25 pontosd) 0>
RESULTADO>
0 - 150 pontos - Perigo! O nível de autossabotagem está bem alto. E a bola de neve da dívida já deve estar ladeira abaixo. >
150 - 300 pontos - Sinal Amarelo O gatilho já foi disparado e o processo está em curso, mas você já percebeu o problema. >
300 - 450 pontos - Quase lá Você pode estar sendo negligente com algumas coisas, mas demonstra preocupações importantes. Se começar a se conhecer melhor vai conseguir ficar mais seguro. >
450 - 600 pontos - Aí sim! Mandando bem =) Dificilmente você vai cair na tentação de se autossabotar. E se fizer isso, vai perceber rápido e tentar mudar esse jogo. >
*(Teste elaborado pelo Guiabolso)>
DICA DA SEMANA: VENÇA O BOICOTE>
Negando as aparências... Para o professor de economia e finanças da Saint Paul Escola de Negócios, Carlos Honorato, não dá para negar uma situação crítica e caminhar no rumo oposto ao que aponta o seu orçamento: “No caso financeiro, autossabotagem está relacionada à dificuldade de aceitar uma situação de crise ou gastos e que leva o individuo a perpetuar o erro”, diz. O primeiro passo é reconhecer que está sabotando o seu dinheiro. “O segredo é ter consciência do problema, aceitar e definir, sem emoções, o caminho de saída dessa crise”.>
E.. disfarçando as evidências Não dá para negar os gastos e o padrão de despesas que se tem. “O problema não é dever, mas não perceber que o comportamento financeiro - excesso de gastos, consumo compulsivo e endividamento - está aumentando (o problema)”. Para por fim ao ciclo, coloque o sonho na frente. “Gerencie suas finanças, planeje gastos e foque no que deseja”.>