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Itens da ceia de Natal estão 25% mais caros em Salvador e Região este ano

Chester teve o maior aumento entre os itens e reajuste foi de 63%

  • D
  • Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2022 às 05:30

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

O que é o Natal sem peru, Chester ou tender no centro da mesa, ou os tradicionais salpicão, queijo do reino e rabanada? Apesar dos itens serem parte do banquete especial esperado em toda ceia, em 2022 está mais difícil de completar o menu. É que a ceia de Natal encareceu 25% em Salvador e Região Metropolitana (RM), segundo levantamento feito pela reportagem do CORREIO.

A estimativa teve como base dados da inflação acumulada nos últimos 12 meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pesquisa de preços em mercados da capital. 

Protagonista na mesa natalina, o Chester aumentou, em média, 63%, sendo encontrado por R$ 85 em 2021 e R$ 129,99 em 2022. Na lista dos que mais encarecem ainda estão o leite (46,05%), ingrediente comum em sobremesas, e cebola (178,6%), usado na salada de maionese e farofa. 

Dos 22 produtos listados no levantamento, 19 sofreram alta. O queijo do reino (14%) que no último ano estava à venda por uma média de R$ 113, agora encontra-se por R$ 129,99. O tradicional panetone (21%) segue a tendência: de R$ 6,99 para R$ 8,49. 

O aumento vai desde produtos básicos, como farinha de trigo (43,46%), de mandioca (25,1%) e ovo (18,45%) até as bebidas, com refrigerante e água (11,23%) e cerveja (17,18%). 

Na contramão, apenas três registraram queda, a carne de porco (10,24%), o arroz (2,27%) e o tomate (16,58%). 

Para lidar com o encarecimento da ceia de Natal, a professora Jussara Ribeiro, 65, já está pensando no que fazer. “Sempre encomendava a ceia completa, vinha o peru, a farofa, o arroz e a salada. Todo aparato do Natal. Só que esse ano ficou muito caro. Pra economizar a gente mesmo vai fazer a ceia”, conta. 

O menu caseiro também terá adaptações. Ao invés do peru, a mesa natalina de Jussara terá estrogonofe acompanhado de arroz, salada e sobremesa. Nas bebidas, o vinho tinto vai dar lugar para o vinho branco e refrigerante. “A decoração também fiz toda. Para não ficar cara eu mesmo bolei, fiz a toalha, árvore com o que tinha de arranjo. Tudo é reaproveitado para diminuir as despesas”, afirma.  O preço da ceia pronta que Jussara comprava foi de R$ 300 para R$ 450 (Foto: Acervo Pessoal) Já segundo um levantamento da Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), com dados do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE), os produtos alimentícios natalinos estão com aumento médio de 18,48% em relação ao mesmo período do ano passado, tanto em Salvador quanto na região metropolitana. O aumento desse ano foi maior do que o de 2021. Na ocasião, a média de aumento nos valores dos itens da ceia de Natal estava 11,7% mais caros, se comparado com 2020, tanto em Salvador quanto na região metropolitana.

Quem puxa a lista e é a grande vilã deste ano é a cebola com elevação de quase 170%. Os pescados estão com aumento médio de 4,89%. O arroz, tradicional acompanhamento, também registrou variação leve, de 2,63%. E quem quiser economizar é só colocar mais tomate no prato que vai dar certo. Esse produto está com queda de quase 20% em média no acumulado dos últimos 12 meses.

Outros ingredientes para compor o peixe, por exemplo, vão se juntar à cebola e dificultar a composição neste ano. Para regar o prato com um azeite, por exemplo, o consumidor terá que pagar em média 11,2% a mais do que no ano passado. 

A nutricionista Gabriela Nóbrega, professora do curso de Nutrição da Unifacs de Salvador, listou os produtos de uma ceia de Natal baiana básica, intermediária e mais completa. 

Na básica, geralmente vai uma proteína animal, peru ou chester, que são as mais tradicionais; arroz simples ou com cenoura e passas; farofa simples, com manteiga, cebola e sal; salada de batata com maçã e maionese; e alguma entrada, que pode ser amendoim torrado, alguns salgados ou pãozinho delícia, além dos clássicos ovinhos de codorna. Já com relação a sobremesas, também são feitas as mais tradicionais, como pudim e rabanada. Segundo a nutricionista, essa ceia sairia por cerca de R$ 250. 

Já em uma intermediária, as pessoas costumam utilizar duas proteínas animais, que pode ser peru ou chester, acompanhadas de filé, peixe ou salpicão. Além disso, a mesa também pode ser composta com um arroz mais elaborado, com cenoura e passas, sem faltar a farofa. De entrada, pode ser feita uma tábua de frios, com salame ou peito de peru, dois ou três tipos de queijos e frutas. O queijo brie com geleia de damasco ou frutas vermelhas também é uma opção recorrente. Geralmente são feitas duas sobremesas, uma mais simples e uma mais elaborada, que pode ser um pavê e um cheesecake. Para preparar um banquete desses, o consumidor não deve gastar menos de R$ 400. 

Já em uma ceia mais completa, a família costuma usar três proteínas, peru ou chester, filé, peixe ou camarão, além de dois tipos de arroz, ou um arroz e uma massa, e opções de saladas mais elaboradas, com grão-de-bico, por exemplo. O salpicão, batata gratinada, farofa simples ou elaborada também podem compor a mesa. De entrada, podem ser utilizadas mais de uma opção. A mesa de frios pode ter os produtos da intermediária, mas entra com quatro ou cinco tipos de queijo, frutos secos, castanhas, uvas, cereja, morango, pêssego, nectarina e um mix oleaginosas. Outra opção são os antepastos com torradinhas. Para montar esse banquete, o consumidor deve gastar mais de R$ 600.

Embora os preços tenham subido acima da média geral da inflação na região de Salvador, a dica e orientação da Fecomércio-BA é pesquisar e barganhar, sobretudo os produtos que são frescos comprados em mercados e peixarias. Pode-se, ainda, pensar em juntar mais familiares e amigos para comprar uma quantidade maior e tentar reduzir o preço médio.

"É importante se atentar a dias específicos de promoções em alguns supermercados e monitorar os preços para saber se vale a pena o deslocamento para comprar. E dê preferência para produtos, como frutas, da estação, pois está em maior oferta, o que contribuiu para ter preços mais acessíveis”, aconselhou o consultor econômico da Federação do Comércio, Guilherme Dietze.

E agora, faço o quê? A dica da presidente do Movimento de Donas de Casa e Consumidores da Bahia (MDCCB), Selma Magnavita, é substituir por produtos nacionais e frutas em alta na estação brasileira. Ela dá o exemplo da castanha-de-caju, que pode ser trocada pela castanha-do-pará, assim como o peru pode dar lugar para outras carnes. 

“A tradicional ceia com vinhos, frutas secas e peru é um costume europeu”, diz. “Pode fazer salada com bastante batata, substituir o bacalhau por frango. Nas frutas, a manga está mais barata do que a maçã”, analisa. 

Para o economista Fernando Agra é importante seguir um passo a passo. A primeira orientação é planejar - mapear os preços e listar a média de quantas pessoas vão para a festa a evitar exageros nas compras -, ainda é possível dividir os pratos entre os membros da família. O terceiro passo é procurar as frutas da estação, seguido de montar um menu com dois pratos principais, dois acompanhamentos e duas sobremesas. Ele ainda alerta para as compras de última hora - quando os preços tendem a crescer - e no cartão de crédito: “Nessa época do ano as pessoas acabam se descontrolando e começando o ano seguinte já endividados”.  

Agra é responsável por um levantamento nacional que calcula a variação da ceia de Natal. Para 2022, o crescimento foi de 16,2%. Os “vilões” - produtos com maior alta no Brasil - são maçã (41,4%), melão (38,34%) e farinha de trigo (35,40%). Itens fora da lista de inflação do IBGE, como panetone, queijo do reino e Chester, não foram considerados. 

Segundo o economista, são vários fatores que contribuem no crescimento. Para alimentos in natura (não processados), é a relação de oferta e demanda que define as taxas, com influência de problemas climáticos que agravam a produção dos produtos. Já para alimentos em geral, o desabastecimento provocado pela pandemia permanece afetando as cadeias estruturais, assim como há interferência do dólar, que aumenta os preços de importação e estimula a exportação - saída de produtos brasileiros.  A reportagem solicitou os preços da ceia de Natal para a Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio - BA), que fez levantamento no último ano, mas informou que não fez em 2022. Já a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) disse que a pesquisa anual ainda está em desenvolvimento. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos na Bahia (Dieese) e IBGE comunicaram que não fazem pesquisas com o recorte para produtos de Natal. 

Cesta básica de Salvador é a segunda mais barata do país  Mesmo custando R$ 550,67, a cesta básica de Salvador tem um dos menores valores de todo país. A capital baiana está atrás apenas de Aracaju (SE) - R$ 511,97, mostrou levantamento mais recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos na Bahia (Dieese) - neste caso, referente a novembro.

Segundo dados de outubro, no acumulado dos últimos 12 meses, produtos utilizados no dia a dia, mas também presentes na ceia natalina estavam entre os que tiveram maior aumento nos preços médios, a exemplo do leite integral (55,24%), pão francês (29,90%) e farinha de mandioca (28,74%). Mas de setembro para outubro apresentaram queda: 5,67%, 0,14% e 0,62%, respectivamente. 

A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ana Georgina, explica que a posição acontece porque a composição das cestas no Norte e Nordeste difere do Sul e Sudeste. Nos estados nordestinos a pesquisa não considera a batata, troca a farinha de mandioca ao invés da farinha de trigo e a quantidade de carne considerada é menor. São 6kg nos cálculos do Sul e 4,5kg no Nordeste e Norte. Os parâmetros seguem decreto nacional para cálculo de cesta básica. 

Apesar das diferenças, Ana ressalta que há cestas do Nordeste que se destacam entre as mais caras. É o caso de Fortaleza (CE) - R$ 622,57 - , em 11º lugar na lista de 17 capitais citadas. Os preços das cestas também recebem influência do poder aquisitivo da população, dado que para um valor aumentar é preciso ter alta demanda, ou seja, alto número de consumidores. *Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

*Colaborou Laiz Menezes