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Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2023 às 05:00
Após sucessivos adiamentos para pagamento dos 10% restantes da primeira parcela dos precatórios do Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental (Fundef), professores esperam que o Governo da Bahia deposite o rateio até o início de fevereiro. Segundo a Secretaria da Administração do Governo do Estado da Bahia (Saeb), o repasse vai ser feito até 10 de fevereiro. >
Educadores reclamam que a situação gera estresse entre a classe porque esperavam receber o valor total da primeira parcela até o final de 2022. Os beneficiados receberam 90% do valor inicial a que têm direito em setembro. Os outros 10% deveriam chegar até dezembro. O governo adiou a data depois de esticar o prazo de entrega dos requerimentos de quem reivindicava o pagamento mas não estava na lista de beneficiários. O resultado do julgamento de solicitações para inclusão dos nomes na lista de beneficiários dos precatórios foi publicado nesta quinta-feira (26) no Diário Oficial do Estado. >
Ao todo, 84 mil profissionais estão aptos para receber o abono. O saldo total dos 10% ronda R$ 140 milhões, valor que contempla pagamento aos recém-inclusos e saldo restante a quem recebeu a primeira parcela em 2022. O valor individual varia conforme a carga horária de cada professor. Saiba mais: Professores se revoltam ao receber menos do que o esperado de precatórios do Fundef Professores voltam às salas de aula, mas entrarão na Justiça por juros do Fundef Beneficiários do Fundef ganham mais 30 dias para atualização de cadastro e requerimentos>
Na primeira parte da parcela inicial a Bahia depositou R$ 1,041 bilhão dos precatórios do Fundef a 57 mil profissionais da educação. Depois, mais R$ 69,8 milhões foram distribuídos para 10.247 professores que constam entre os beneficiários, mas estão fora da folha de pagamento por não atuarem mais no Estado. >
Após pagamento que finaliza no dia 1º, mais duas serão enviadas para a Bahia pela União em 2023 e 2024. O montante da dívida chega a R$ 1,4 bilhão.>
A professora aposentada Maria da Silva, 70, conta que o pagamento dos precatórios é um misto de tristeza e felicidade. “É onde fica a expectativa de pagar o que devo, me livrar de cobradores, pagar empréstimo, mas [...] levaram nosso juros e desses 10% não vai chegar nem R$ 1 mil reais para mim”, diz. >
Embora tenha passado quase metade da vida em sala de aula, para Maria, os 37 anos como educadora ajudam muito pouco a pagar as contas. Ela hoje recebe R$ 2.050 da aposentadoria e precisa morar com a filha, porque não consegue arcar com os gastos sozinha. “Meu primeiro emprego foi em 1974 [...] e hoje estou dependendo de filhos, coisa que nunca passei na vida. Minha expectativa é que seja cumprida a promessa desse pagamento. Merecemos valor”, declara. Apesar da espera, as entidades que representam a classe não pretendem judicializar a questão, pois acreditam que o depósito vai acontecer conforme prometido pelo estado. Além disso, Aceb e APLB já carregam processos judiciais devido a outras polêmicas, como o não pagamento dos juros dos precatórios. >
A reportagem do CORREIO solicitou posicionamento da Seab mediante às cobranças dos professores sobre os precatórios. A entidade não retornou. >
Entenda o caso Os precatórios do Fundef são valores oriundos de julgamento judicial, no qual a União foi condenada a pagar a complementação das verbas do Fundef que deixaram de ser repassadas pelo Governo Federal para estados e municípios, entre 1998 e 2006, devido a um erro de cálculo. >
A conquista dos precatórios é fruto de uma luta da categoria há mais de oito anos, recorda o coordenador-geral da APLB, Rui Oliveira. “Fizemos reunião em 2014, trouxemos banca com advogados e inauguramos processo. Até aquela época diziam que não existia legislação para pagar precatório”. >
Foi aprovado, em setembro, durante sessão extraordinária na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia (Alba) o Projeto de Lei que regulamenta o pagamento do dinheiro do Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental (Fundef) para profissionais de educação. >
A determinação foi de que a categoria receberá 80% dos precatórios - inicialmente o valor destinado aos professores seria de 60% -, os demais 20% serão encaminhados para melhorias estruturais de escolas no Estado.>
Após recebimento da primeira parcela na íntegra, a Aceb diz que ainda precisa resolver embargos da segunda parcela, visto que é preciso nova legislação para transferência do valor restante. A expectativa é adiantar a regulamentação para o débito cair até junho. >
São contemplados professores, coordenadores pedagógicos, diretores, vice-diretores e secretários escolares que ocuparam cargo público ou que estavam em emprego público, em efetivo exercício na educação básica da rede pública de ensino, no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2006. >
Também receberão os precatórios aqueles que ocupavam cargos comissionados do quadro do Magistério e professores contratados pelo Regime Especial de Direito Administrativo (Reda), que atuavam na educação básica no mesmo período. >
Estão incluídos servidores ativos e inativos, além de herdeiros daqueles profissionais que se enquadram nos mesmos critérios.Professores continuam na Justiça para pagamento de juros Meses após o depósito da primeira fatia dos precatórios do Fundef, entidades que representam os professores seguem em batalha judicial solicitando o valor dos juros sob a dívida pública. Presidente da Aceb, Marinalva Nunes calcula falta em torno de R$ 1 bilhão em torno dos juros. Além de judicializar a questão, ela diz que a instituição protocolou ofício na Procuradoria Geral do Estado (PGE) da Bahia para discutir o valor sem precisar dar continuidade na Justiça. APLB também recorre no Judiciário. >
Os educadores alegam que o Estado retirou os juros de mora do cálculo para pagamento da dívida. A presidente da Aceb explica que a categoria já sabia que isso iria acontecer, visto que o Projeto de Lei que regulamenta o pagamento do dinheiro do Fundef foi aprovado sem os juros de mora, mas a classe ainda vai lutar pelo benefício. >
A professora Marilene Medeiros, 52, é uma das que se sentiu prejudicada pela exclusão dos juros. Ela esperava receber R$ 50 mil e iria usar o dinheiro para concluir reforma na casa. A mãe de Marilene tem Alzheimer e o plano era construir uma suíte, quarto mais espaçoso e comprar cama hospitalar para a idosa. Porém, a professora recebeu R$ 14 mil e deve receber menos de R$ 1 mil em fevereiro - os 10% restantes. >
“Com o que recebi só consegui pagar o cartão [de crédito] e pronto. Estava ansiosa pelos precatórios para conseguir finalizar a construção. Agora comecei a obra mas não terminei porque esse era o valor que teria como fazer”, lamenta. >
O coordenador-geral da APLB, Rui Oliveira, reclama que o único estado que não pagou com juros foia Bahia. Ele cita Amazonas, Ceará e Rio Grande do Norte como outras unidades que somaram o rendimento à taxa definida. Ao CORREIO, a Seab não se manifestou sobre as acusações. Educadores também cobram pagamento com correção da URV Outra cobrança da categoria que corre na Justiça é a correção da Unidade Real de Valor (URV). Oliveira, da APLB, comenta que há discussão na PGE-BA para agilização da execução do reajuste e a expectativa é que o governo pague a dívida ainda este ano. Mais de 30 mil funcionários da educação serão beneficiados. >
“Entramos na Justiça e ganhamos. Agora está na fase de execução, é preciso apresentar todos os contracheques da época até hoje para que seja feito cálculo. Como ninguém tem contracheque igual é necessário que cada um traga [na APLB] para fazer cálculo individual”, orienta. >
A URV trata-se de uma dívida trabalhista desde 1994 criado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante a troca de moedas. O coordenador-geral da APLB explica que é necessário reajuste de 10,1% no pagamento da folha dos colaboradores da época, sendo que funcionários do Legislativo e Judiciário já receberam o saldo, com exceção de quem está no Executivo, como os professores da rede pública. *Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>