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Empreendedorismo 50+: experiência e propósito impulsionam novos negócios

Profissionais com mais de 50 anos transformam vivências e conhecimentos em negócios com propósito, inovação e autonomia.

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 7 de abril de 2025 às 05:06

Rosangela Correia atuou durante quase três décadas atuando na construção civil até fundar o Instituto Amadurecer, Crédito: Acervo pessoal

Se reinventar após os 50 anos já não é mais um gesto de ousadia. É uma escolha cada vez mais comum entre quem enxerga na maturidade uma oportunidade de recomeçar com mais propósito, autonomia e liberdade. Com bagagem profissional e uma vida inteira de aprendizados, muitos têm buscado no empreendedorismo uma forma de seguir ativos no mercado de trabalho, e de dar novo sentido à própria trajetória.

Segundo a pesquisa "Empreendedores 50+: o Futuro do Brasil", da consultoria Empreendabilidade, quem tem mais de 50 anos tem maiores chances de sucesso ao abrir o próprio negócio. O levantamento mostra que 15,6% dos empreendedores com idade entre 55 e 64 anos mantêm suas empresas ativas por mais de três anos e meio, bem acima dos 3,8% registrados entre jovens de 18 a 34 anos. O estudo também aponta que pessoas com mais de 55 anos já representam 30,7% do total de empreendedores no país.

Rosangela Correia atuou durante quase três décadas atuando na construção civil até fundar

o Instituto Amadurecer, que prepara pessoas para vivenciarem a maturidade de forma saudável, ativa, autônoma e participativa em Salvador. “Com o passar do tempo, algo começou a me inquietar profundamente: nenhuma construtora parecia atenta ao envelhecimento da população, mesmo diante dos sinais claros da inversão da pirâmide etária. Essa ausência de olhar diante de uma transformação tão evidente acendeu um alerta em mim. Percebi que o etarismo, silencioso e estrutural, atravessava e cegava até mesmo a um setor tão estratégico e potente quanto o da construção civil na capital baiana”, conta.

Foi há 11 anos que a inquietação de Rosangela se transformou em propósito. Ao perceber que o envelhecimento, então uma questão pessoal, era na verdade um desafio coletivo, ela iniciou uma jornada marcada por estudos, pesquisas e muito trabalho. A transição de carreira, diz, não foi fácil.

“Quando decidi fazer a transição de carreira depois dos 50 anos, já estava impactada com a

gravidade do cenário do envelhecimento populacional e com o avanço acelerado da virada da pirâmide etária. Via que nada era feito - era sempre mais do mesmo: resistência e resistência a tudo! Era fruto de uma cultura claramente etarista e preconceituosa, que mantinha o envelhecimento em total invisibilidade social. Mas eu já tinha consciência de que algo precisava ser feito, e havia em mim um dever pessoal me convidando a olhar para isso, a agir”, diz.

Desde que iniciou a nova jornada, Rosangela vem promovendo workshops, exposições fotográficas, capacitações e eventos voltados para o público 50+. Ela também apresentou à Prefeitura de Salvador projetos como o Cidade Modelo da Longevidade, que propõe transformar a capital baiana em referência nacional no envelhecimento ativo, com infraestrutura adequada, oportunidades de recolocação no mercado e estímulo ao empreendedorismo maduro.

“A ideia nasceu do meu incômodo em ver tantas pessoas maduras sendo subestimadas, silenciadas ou colocadas à margem da sociedade - afastadas do direito de viver e envelhecer sem serem discriminadas ou excluídas apenas por não serem mais “jovens”. Percebi que não adiantava construir qualquer coisa para esse público se a sociedade sequer reconhecia o direito de ser visto”.

Para o especialista em gestão de negócios Rafael Torres, mentor de empreendedores seniores, uma das maiores vantagens desse público é justamente a bagagem que carrega, com maturidade emocional, resiliência, visão de longo prazo e mais cautela na tomada de decisão.

“A maior dificuldade, no entanto, é lidar com as transformações digitais. Muitos ainda enfrentam insegurança com ferramentas tecnológicas, redes sociais e sistemas de gestão online. Além disso, o preconceito etário ainda existe e pode limitar oportunidades, especialmente em alguns setores”, explica.

Segundo Rafael, muitos desses empreendedores chegam com ideias maduras, fruto de suas experiências anteriores. Outros ainda têm dúvidas básicas e precisam de mais apoio, especialmente em relação a planejamento, finanças e marketing. Por isso, segundo ele, a mentoria é essencial para dar mais segurança nessa fase de transição.

“O Sebrae, por exemplo, é uma das instituições que oferece apoio específico para esse público, com projetos voltados para o público maduro, como o Empreender 50+, que oferece oficinas adaptadas à realidade e ritmo desse grupo. A ideia é trabalhar tanto o lado técnico quanto o emocional, fortalecendo a autoconfiança”, explica o especialista.

No entanto, o acesso a crédito para esse público ainda é um entrave. Ainda de acordo com o especialista, a idade muitas vezes é vista como um risco, o que dificulta o financiamento mesmo quando o plano de negócios é sólido. “Precisamos de linhas específicas que compreendam a realidade desse público. Faltam incentivos fiscais, capacitação e crédito facilitado. O que temos hoje ainda é muito pontual.”

Mesmo assim, o especialista diz que o empreendedorismo 50+ é uma tendência que veio para ficar. Para quem está nessa faixa etária e deseja empreender, mas ainda sente receio, Rafael deixa um conselho:

“Estamos vivendo uma mudança estrutural. Empreender após os 50 não é mais exceção, mas uma alternativa concreta de vida. Comece pequeno, estude bastante e, acima de tudo, busque apoio. Nunca é tarde para recomeçar com propósito”.

Para Isabel Ribeiro, gerente adjunta da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia e presidenta do Conselho Regional de Economia da Bahia, o empreendedorismo sênior vem ganhando força no Brasil, impulsionado tanto pelo envelhecimento da população quanto pela busca por propósito, independência financeira e realização pessoal. Esse movimento, segundo ela, é uma tendência irreversível, com grande impacto social e econômico.

“A chamada ‘economia prateada’ é ouro”, destaca Isabel, referindo-se ao potencial de consumo da população com mais de 50 anos. Segundo dados do Sebrae, esse grupo tem capacidade de movimentar R$ 1,6 trilhão por ano no país. O crescimento da expectativa de vida e a maior longevidade ativa também tornam esse público um campo fértil para o empreendedorismo e para a criação de soluções voltadas às suas necessidades.

Entre os tipos de negócio mais comuns entre os empreendedores 50+, estão consultorias, cursos, serviços digitais e atividades ligadas à sustentabilidade e ao artesanato. “Esses negócios permitem que pessoas maduras utilizem habilidades adquiridas ao longo da vida, criando oportunidades de sucesso e realização”, afirma Isabel. Ela lembra que muitos transformam paixões em empreendimento — como floriculturas, assessorias esportivas e cursos de idiomas.

O impulso para empreender pode vir por necessidade, como após uma demissão ou aposentadoria, mas também por oportunidade. A experiência acumulada e a visão estratégica tornam esse grupo capaz de identificar nichos promissores. “Há ainda quem deseje dar um novo sentido à vida”, explica Isabel, ressaltando que o autoconhecimento e a busca por propósito são elementos fortes nessa fase.

Mas nem tudo são facilidades. O acesso a crédito ainda é um obstáculo para parte dos empreendedores mais velhos, embora haja avanços, como o Programa Acredita, que oferece linhas diferenciadas. Além disso, muitos enfrentam dificuldades com a adaptação tecnológica e o preconceito etário. “O etarismo ainda é uma barreira real. Mas, apesar disso, muitos superam os desafios com resiliência e rede de apoio”, pontua.

O Sebrae, atento a esse cenário, desenvolveu o programa Sebrae 50+, voltado especificamente para esse público. A iniciativa oferece capacitação, inspiração e oportunidades de networking. Um exemplo foi o evento “Visão 50+: Empreendedorismo com Maturidade”, que reuniu palestrantes e uma feira de empreendedores seniores. “É um espaço importante para troca de experiências e fortalecimento da autoestima empreendedora”, diz Isabel.

Ela também destaca que muitos desses empreendedores já chegam ao Sebrae com ideias bem estruturadas, enquanto outros estão em fase de amadurecimento. “É comum que tragam uma bagagem de trabalho anterior e algum recurso guardado. Mas todos, em geral, buscam se planejar bem para essa nova etapa”, afirma.

Na avaliação da economista, o empreendedorismo 50+ é uma tendência consolidada, com mais chances de sucesso e estabilidade do que em outras faixas etárias. “Essa geração tem coragem, conhecimento e vontade de fazer diferente”, enfatiza. E deixa um conselho para quem ainda hesita em dar o primeiro passo: “Acredite em si mesmo. Comece pequeno, busque capacitação, planeje-se bem e construa uma rede de apoio. A maturidade é uma grande aliada do sucesso”.

Para Isabel Ribeiro, gerente adjunta da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia e presidenta do Conselho Regional de Economia da Bahia, o empreendedorismo sênior vem ganhando força no Brasil, impulsionado tanto pelo envelhecimento da população quanto pela busca por propósito, independência financeira e realização pessoal. 

“Nos últimos anos, o número de empreendedores sêniores no Brasil tem crescido expressivamente, evidenciando a importância crescente do empreendedorismo sênior para a economia do país e o visível envelhecimento da população brasileira. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a quantidade de idosos vai duplicar no mundo até 2050, no Brasil esse contingente vai quase triplicar.”

O crescimento desse público também representa uma nova oportunidade para o mercado consumidor. A chamada “economia prateada” tem atraído olhares não só por seu poder de compra, mas também por sua influência cultural e social.

“A inovação das soluções em produtos e serviços para a população madura começa a ser percebida como fundamental, assim como sua representatividade no audiovisual (campanhas publicitárias, filmes, séries, novelas etc.). Afinal, a chamada ‘economia prateada’ é ouro! Segundo o estudo da FGV, pessoas com mais de 65 anos são 17% da fatia dos 5% mais ricos do país. Também de acordo com o Sebrae, essa parcela da população tem potencial de movimentar R$ 1,6 trilhão por ano, no Brasil. Então, se há perspectivas de expansão para consumidores mais maduros, cria-se, do outro lado, perspectivas e ideias de negócios para empreendedores mais maduros.”

Entre os negócios mais procurados por pessoas acima dos 50 anos, diz Isabel, destacam-se aqueles que aproveitam o conhecimento e habilidades acumuladas ao longo da vida, como consultorias, cursos, e-commerce e atividades criativas.

Ainda de acordo com ela, empreendedores 50+ têm uma vasta experiência e habilidades que podem ser aproveitadas em diversos tipos de negócios, como consultoria e mentoria e artesanato e produção local. Esses tipos de negócios, aponta, permitem que empreendedores maduros utilizem suas habilidades e conhecimentos adquiridos ao longo da vida, criando oportunidades de sucesso e realização pessoal.

A motivação para empreender pode variar bastante, indo da necessidade à realização pessoal. Muitos encontram no empreendedorismo uma forma de seguir ativos e engajados após a aposentadoria.

“Empreendedores 50+ no Brasil buscam empreender tanto por necessidade quanto por oportunidade. […] Além disso, muitos buscam empreender para alcançar realização pessoal e independência financeira, transformando paixões e hobbies em negócios lucrativos. Esses fatores mostram que o empreendedorismo 50+ é uma resposta tanto às necessidades econômicas quanto ao desejo de aproveitar oportunidades e realizar sonhos.”

Isabel afirma conhecer diversos exemplos inspiradores de pessoas que empreenderam após os 50 anos, transformando experiências e paixões em novos caminhos.

“Conheço pessoas que aproveitaram experiências acumuladas para iniciar empreendimentos, por exemplo, arte terapia, atividades de consultoria, atletas maduros que criam assessorias presencial ou online, mentoria (aconselhamentos), ou investem em coisas pelos quais são apaixonados, como gastronomia, floricultura, cursos de língua, sites especializados em literatura, dentre outros.”