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Carmen Vasconcelos
Publicado em 12 de julho de 2021 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Durante toda a vida profissional, a bancária Taianne Amador, 28, enfrentou o desafio de lidar com a própria timidez nos processos seletivos. O nervosismo chegava especialmente quando precisava falar para uma plateia. A situação só mudou quando, depois de ficar desempregada e precisar vender doces para garantir a sobrevivência, fez um curso sobre mercado financeiro, promovido pela parceria da Febraban, do Instituto Ser + e da faculdade Zumbi dos Palmares, em Salvador.
“Iniciei o curso em novembro de 2019 e finalizei em março de 2020 e, certamente ele foi o divisor de águas, pois, além de conhecer mais sobre minha área, a minha autoestima e o empoderamento do ser negro foi muito bem trabalhado”, conta. Para superar o comportamento retraído, a solução para a bancária foi conhecer mais sobre a própria ancestralidade e se aprimorar na área de atuação. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio estima que 70% dos jovens têm dificuldade de encontrar um emprego não por falta de oportunidades , mas por timidez (Foto: Divulgação) Casos como o de Taianne são mais comuns do que se imagina e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD/IBGE) estima que 70% dos jovens têm dificuldade de encontrar um emprego não por falta de oportunidades ou capacitação, mas por timidez e ausência de um posicionamento.
Autoestima A psicóloga Taiane Mara De Filippo reconhece que a conjuntura socioeconômica do Brasil dificulta a busca do emprego e que a conquista da tão desejada carteira assinada nem sempre uma questão de vontade pessoal ou postura. Para ela, a autoestima está relacionada a forma como cada um se relaciona com o mundo externo. A psicóloga Taiane Mara De Filippo defende a crença no papel que cada um desempenha ou pode desempenhar como um diferencial no mercado de trabalho (Foto: Arquivo pessoal) “Acreditar que cada um de nós tem o seu papel e a sua importância no mundo vai fazer diferença quando nos colocarmos para este mundo, quando a gente disser para o mundo quem nós somos, até mesmo na hora de buscar uma colocação no mercado de trabalho”, esclarece. A outra dica importante é ter uma postura ativa diante da busca por essa vaga no mercado de trabalho. Taiane De Filippo defende que é fundamental que o jovem e demais interessados na vaga de trabalho busque informações sobre a empresa/instituição onde se pretende ingressar, que se estude a cultura da empresa e perceba como é possível contribuir para aquilo que esperam da função. “Durante o processo seletivo e na entrega de currículos seja o mais honesto possível com o seu entrevistador”, completa.
A diretora de Educação e Diversidade do Instituto Ser + Ednalva Moura sugere que os jovens também invistam na capacitação pessoal, identificando cursos de idiomas e que busquem acesso à cultura para ampliação de repertório. “Vale também desenvolver uma participação ativa nas redes sociais de relacionamento profissional, além de buscar as iniciativas de juventude para engajar/prover mudanças significativas no ecossistema em que vive, pensando na agenda 2030”, orienta.
Brilho pessoal
Ednalva Moura defende que a autoestima é fundamental na busca pela oportunidade e recolocação, pois através dela é revelada a identidade pessoal. A educadora acredita que alguém que está bem consigo mesmo consegue expressar brilho e motivação para ousar novos desafios profissionais.
A educadora defende que as posturas inadequadas nas entrevistas de empregos, por exemplo, são demarcadas por comportamentos reativos, falta de comunicação assertiva, comprometimento consigo mesmo (horário, diálogo, responsabilidade e com seus clientes internos e externos). além das premissas, valores e ética apreendidos no processo de educação não formal e informal. Ednalva Moura reconhece a importância de reforçar a estima do jovem nos processos de capacitação como uma forma de ajudar ao auto conhecimento e a descoberta das potencialidades (Foto: Divulgação) “Normalmente nos projetos sociais, investimos na realização de atividades comportamentais que perpassam pelos aspectos psicossocial e no fortalecimento das inteligências emocionais, assim o jovem faz autocrítica de si mesmo, reconhece suas potencialidades e o seu talento, sendo capaz de gerir sua vida pessoal e profissional”, finaliza.
Timidez não é doença
A psicóloga Taiane De Filippo destaca que timidez não é doença e que ser tímido/tímida pode ser apenas um modo possível de existir. “A busca por psicoterapia deve ser considerada se a timidez estiver atrapalhando muito a vida dessa pessoa, mas, vale entender o quanto é necessário mudar e o quanto pode ser apenas um modo de viver a vida, sem querer estar nos holofotes”, explica, destacando o cuidado com os rótulos, que promovem estigmas, impedindo mudanças.
Ednalva Moura, por sua vez, sugere que os tímidos trabalhem o autoconhecimento. “Quando nos empoderamos da nossa trajetória pessoal, facilita a comunicação e o marketing pessoal, que são fundamentais nos processos seletivos e de recolocação profissional”, completa.Para mais informações: sermais.org.br