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Antônio Meira Jr.
Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 11:30
Desde o final de novembro, diversas denúncias do Sindicato dos Metalúrgicos, Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e investigações do Ministério Público expuseram situações de trabalho degradantes no canteiro de obras da fábrica que a BYD está construindo em Camaçari. O espaço já abrigou a fábrica da Ford no passado.
Na semana do Natal, a situação ficou insustentável quando uma força tarefa integrada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), pela Defensoria Pública da União (DPU) e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF), mostrou que os trabalhadores chineses que atuavam no local estavam em situação análoga à escravidão. Depois desse escândalo, o fabricante chinês soltou um comunicado sobre uma nova conduta.
A empresa disse nesta quinta-feira (16) que contratou uma construtora brasileira para realizar as adequações nas obras da fábrica de Camaçari. Essa construtora fará os ajustes necessários para que o MTE suspenda os embargos parciais e a obra seja totalmente retomada. No entanto, o nome da nova construtora e o plano de ação não foram divulgados.
A BYD diz que criou um comitê de compliance - conjunto de procedimentos e práticas que uma empresa deve seguir para estar conforme as leis, normas e regulamentos - para acompanhar de perto a conclusão da obra. A primeira reunião aconteceu no dia 8 de janeiro, quando o comitê foi oficialmente instituído, e a segunda aconteceu na manhã desta quinta-feira (16).
De acordo com a empresa, ele é formado por representantes da BYD, escritórios de advocacia, especialistas em direito trabalhista e segurança do trabalho, além de um consultor independente, que estão se reunindo periodicamente para acompanhamento e cumprimento da legislação brasileira e para implementar melhorias nos processos durante todas as etapas da construção do complexo fabril.
A BYD diz que esse comitê é responsável também por avaliar as condições de trabalho, alimentação, segurança e moradia dos funcionários terceirizados. O fabricante reforça "o comitê tem total liberdade para atuar na correção de qualquer eventual problema que possa surgir".
Ainda no comunicado, a BYD diz que "as obras estão avançando em ritmo acelerado", o que contradiz o texto deles, que cita ainda existirem embargos do MTE.
Ainda segundo a BYD, a Fase 1.1 do cronograma que prevê a produção local no sistema SKD, vai começar ainda durante o ano de 2025, sem especificar o mês. A empresa informa que "os demais detalhes da construção estão sendo reavaliados e serão divulgados oportunamente".
Quando deixou de produzir em Camaçari, a Ford atuava com a manufatura completa de produtos. Ou seja, desde a estampagem da carroceria, montagem e produção de motores. No sistema de SKD, sigla em inglês que remete a Semi Knock-Down, várias partes são pré-montadas em subconjuntos pelo centro de produção.
Em resumo, quando iniciar sua produção em Camaçari, a BYD estará apenas montando um carro produzido na China e chegará ao Brasil até com a carroceria pintada.
Nos emplacamentos de automóveis e comerciais leves no ano passado, a BYD ainda não conseguiu ter o êxito esperado para o gigante movimento de propaganda e de lançamentos que tem feito. A empresa fechou o ano na décima posição, com 3,09% de participação, o que equivale a 76.811 veículos, volume inferior ao de marcas mais discretas, como Nissan (3,52%).
Percentualmente, o aumento de emplacamentos foi muito grande, de 328%, porém essa empresa partiu de uma base muito baixa em 2023: 17.937.