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Publicado em 2 de setembro de 2021 às 20:05
- Atualizado há 2 anos
Paulo Carneiro não dirige mais o Vitória. O presidente foi afastado do cargo na noite desta quinta-feira (2), quando o Conselho Deliberativo aprovou, em reunião extraordinária, o parecer da Comissão de Ética que recomendava o afastamento do dirigente por 60 dias, motivado por indícios de gestão temerária. Com isso, o estatuto prevê que o vice-presidente Luiz Henrique assume a função temporariamente.
A votação ocorreu sem surpresa. A maioria esmagadora dos 79 conselheiros presentes votou a favor do afastamento. Foram 76 manifestações nesse sentido, além de três abstenções e nenhum voto contrário. Do lado de fora do Barradão, alguns torcedores protestaram, pedindo a saída do dirigente.
Assim, chega ao fim – ao menos temporariamente - a segunda passagem de Paulo Carneiro na presidência do Leão. A primeira durou 14 anos, de 1991 a 2005. A segunda, pouco mais de dois, entre 24 de abril de 2019 e hoje.
Um fim melancólico para um dirigente que voltou ao clube justamente pela esperança de reviver os melhores dias da sua gestão na década de 90, mas que no campo sai mais próximo do desempenho de 2005, ano em que renunciou após o rebaixamento do Vitória para a Série C do Campeonato Brasileiro.
Nesta passagem recente, o rubro-negro não chegou sequer a uma final de Campeonato Baiano nem de Copa do Nordeste. Na Série B, fez duas campanhas brigando contra o rebaixamento e atualmente está em 18º lugar, dentro do Z4.
Os indícios de gestão temerária que pesam contra o dirigente incluem o adiantamento de remuneração pessoal durante a pandemia - enquanto o clube está devendo salários a jogadores e funcionários - e a ausência de contrato com uma empresa (Magnum) que recebeu R$ 3,5 milhões do Vitória. O período afastado é para que as informações sejam investigadas.
Isolamento político Ao longo do dia, o próprio Paulo Carneiro já demonstrava ciência do que aconteceria na reunião à noite e criticou o processo que culminou no seu afastamento. "Olha a vergonha que passa o Vitória por causa desse bando de traíras. Clube dos traidores, clube dos conspiradores. Esse clube está doente. Eu sou o sexto presidente em sete anos. Ninguém consegue terminar o mandato porque esses conspiradores de plantão não deixam”, disse Carneiro, que direcionou as críticas mais ferozes ao presidente do Conselho Deliberativo, Fábio Mota, e ao ex-presidente do clube, Alexi Portela Júnior. Ambos o apoiaram na eleição de 2019, cujo mandato termina em dezembro de 2022.
Embora teoricamente Paulo Carneiro possa retornar em novembro e cumprir mais um ano de mandato pela frente, nos bastidores do clube o clima entre os conselheiros é de que a saída é sem volta - a batalha deve ganhar o ambiente judicial nos próximos dias. E isso se explica pelo contexto do Vitória.
A volta dele à presidência só foi possível em 2019 por causa da insatisfação generalizada com as administrações de Ivã de Almeida (2017) e depois Ricardo David (2018-abril 2019), ambos eleitos por chapas de oposição, o que fez as principais lideranças do clube superarem as desavenças e se unirem em torno do nome de Paulo Carneiro. Ele então foi lançado candidato com o apoio crucial de Alexi Portela Júnior, Manoel Matos e Ademar Lemos Júnior.
No entanto, com o passar do tempo, os três romperam com o presidente, sendo o modelo de gestão de Paulo Carneiro - somado à insatisfação com os resultados do time nas competições - um dos principais fatores. O isolamento do dirigente foi se ampliando ao ponto dele perder também o apoio dos presidentes do Conselho Fiscal, Jailson Reis, e do Conselho Deliberativo, Fábio Mota. Este último, em abril, instituiu a Comissão Especial que elaborou o relatório apreciado nesta quinta.
A reportagem tentou contato com Luiz Henrique, agora presidente interino do clube, mas não obteve sucesso. É um quadro inicialmente ligado a Alexi Portela, porém de perfil mais técnico do que político.