Guilherme Caribé: quem é o baiano promessa do Brasil na natação

Aos 19 anos, nadador se prepara para a Olimpíada de Paris, em 2024

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  • Vinicius Harfush

Publicado em 17 de janeiro de 2023 às 05:00

. Crédito: Ricardo Sodré/SSPress/CBDA

Era novembro de 2021. Em entrevista ao CORREIO, o nadador baiano Guilherme Caribé classificou seu recorde sul-americano nos 50m livre conquistado em Lima, no Peru, como “assustador”. Os 22s37 o colocavam com a melhor marca da história da competição continental na categoria Juvenil B. Pois em novembro de 2022, aos 19 anos e já competindo na categoria Júnior 2 - a última antes da profissional -, Guilherme voltou a brilhar.

Disputando o Brasileiro Júnior, que aconteceu no Rio de Janeiro entre 6 e 10 de dezembro, Caribé venceu as provas de 50m e 100m livre e bateu o recorde nacional na categoria. No trajeto mais curto, fez 21s87, e nos 100m cravou 47s82. Para se ter ideia do que esses tempos representam para a natação no país, apenas o medalhista olímpico Bruno Fratus havia nadado na casa dos 21 segundos nos últimos quatro anos.  Guilherme Caribé no Brasileiro Júnior (Foto: Ricardo Sodré/SSPress/CBDA) Em comparação ao seu tempo nos 50m no Sul-Americano de 2021, Caribé baixou em meio segundo, colocando-o como o oitavo brasileiro na história a nadar abaixo dos 22s. Nos 100m o feito foi ainda maior: o tempo de Guilherme é o quarto melhor de um brasileiro na história e, além disso, se ele tivesse feito esse tempo na Olimpíada de Tóquio, teria ficado com o 5º lugar na prova.

O campeão olímpico César Cielo, por exemplo, tem sua melhor marca nos 100m de 46s91, menos de um segundo abaixo do jovem. Já nos 50m, Cielo é o recordista com 20s91. Porém, na época, era permitido o uso dos chamados supermaiôs, feitos de um material que repelia a água, o que propiciava aos nadadores ser alguns centésimos mais rápidos.Dessa vez, Caribé voltou a repetir o termo que usou há um ano. “É algo assustador, para falar a verdade. Sabendo que o trabalho tem dado certo, que temos marcas melhores que atletas olímpicos, sabendo a idade que eu tenho, é assustador porque projeto em cima de mim uma pressão e uma responsabilidade. Não é pressão ruim, é positiva, de que eu tenho a oportunidade de ter um caminho traçado e quem sabe eu ser um atleta do mesmo nível ou melhor que eles. É isso que eu busco”, disse.Guilherme conversou novamente com o CORREIO, falando de Salvador, onde aproveitou alguns dias após a disputa do Brasileiro Júnior no Rio. Mas os últimos meses de treinos e rotina foram bem distantes da família, dos amigos e do clima tropical. Isso porque, após o título sul-americano, Guilherme aceitou convite da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, onde mora desde agosto. Por lá, a média de temperatura no inverno é abaixo dos 13ºC. 

No último final de semana, inclusive, ele caiu na água e fez bonito na disputa do Grand Prix TYR Pro Swim Series, em Knoxville, no Tennessee. Caribé foi vice-campeão dos 100m livre com 49s15. Ainda foi terceiro colocado nos 50m borboleta (23s99) e quarto nos 50m livre (22s37).

Adaptação Para competir no Brasileiro, o baiano precisou passar por um breve processo de transição nos Estados Unidos. Isso porque, além da adaptação a um novo país, novos treinos e treinadores, Caribé precisou nadar em um estilo de piscina diferente, onde o tamanho é medido em jardas, e não em metros.  Guilherme está morando no Tennessee (Foto: Reprodução/Instagram) “Mudam muitas coisas. Tem a piscina de 50m, que é olímpica, tem a de 25m, que é semiolímpica, e a de jardas, que mede 22,86m. Essa mudança altera a contagem de braçadas, estratégia de prova, os tempos são mais baixos pela piscina ser menor... Tem todas essas diferenças”, explica. Na reta final da preparação para competir no Brasil, Guilherme Caribé buscou uma piscina que tivesse os 50m para fazer os ajustes para o torneio. 

No papo, o nadador também lembrou que, mesmo de longe, uma figura que sempre foi tão presente em sua vida quando morava em Salvador segue colada com ele. Seu ex-treinador no Cepe Stella Maris, Rafael Spinola, também um amigo da família, mantém contato constante, seja na troca de mensagens informais ou nas conversas sobre os treinamentos nos EUA.

“Várias coisas mudaram para mim nos últimos meses por conta da mudança de treinos e treinadores, mas Rafael continua sendo muito presente, perguntando como estou nos treinamentos, como foi a adaptação, o que tem de diferente, porque ele também quer aprender muito. E eu tento passar para ele. Rafael está sempre presente e sempre estará. Ele foi um dos que me colocaram nesse mundo, me ajudou a construir o que tenho. Foi por todos esses anos treinando com ele que eu pude vir para os Estados Unidos”, afirma Caribé.

Daqui, Spinola segue na torcida para seu ex-atleta e diz que as conversas são importantes para que ele entenda cada fase e se adapte às dificuldades. “O que eu converso muito é para dar força para que ele entenda que, por enquanto, são flores, começo de namoro [risos]. Explico para que ele tenha calma porque umas horas vão ser mais cansativas, que não vai ser relaxado e gostoso. Que a rotina às vezes pega e o treinamento aperta. E mesmo ele tendo essa melhora significativa a cada ano, é para ter paciência”, alerta.

Nome promissor da natação da Bahia e do Brasil, Guilherme Caribé não deixa de pensar nos seus próximos passos na natação, que incluem a preparação para a Olimpíada de Paris, em 2024. Rafael ressalta que manter os “pés no chão” - com o perdão do trocadilho - é um passo importante para não se deixar levar pela ótima fase que vive. E, para ele, não há dúvida de que Guilherme está no caminho certo. 

“É importante manter os pés no chão, ser humilde e saber que ele vira referência, o holofote está em cima dele. Então tem que entender que a partir desse momento ele e outros nesse nível são atletas do Brasil, celebridades. Mas com o nível de educação familiar dele, do nosso grupo, não o vejo sair dessa linha. Continua muito focado e tranquilo. Tenho certeza que ele vai continuar evoluindo e pegar uma medalha na Olimpíada”, acredita Spinola.

E se depender do esforço e dedicação do nadador, a disputa em Paris será muito bem-vinda para, quem sabe, fazer parte do currículo do jovem baiano. A partir de 2023, ele já compete na categoria absoluto, com todos os nadadores profissionais.“Meu foco é me manter forte nos 50 e 100 metros livre. Depois desses resultados no Rio vejo que é realmente possível [pensar em Olimpíada]. Um sonho se tornando realidade. Esse ano de 2023 completo de treinamento é algo que realmente me incentiva, é possível buscar essa medalha. Ainda temos muito o que melhorar, analisamos muito minhas provas e tem como baixar o tempo. Acho que é algo realmente possível”, afirma o nadador.“Ele sendo medalhista olímpico eu me aposento. Faltam seis anos para eu me aposentar, mas acho que anteciparia. Tenho outros objetivos pessoais e acho que vou ajudar muito mais a natação fazendo isso depois”, diz Rafael, ao projetar uma medalha de Caribé em Paris.

O atual desempenho nas piscinas não é visto com bons olhos por Rafael apenas pela parceria e confiança que tem no atleta, mas também no impacto que isso tem para a natação baiana. Nesse mesmo Campeonato Brasileiro conquistado por Guilherme, outros três nadadores do estado conquistaram o lugar mais alto do pódio no Rio de Janeiro.

Dan Spinola, filho de Rafael, é dois anos mais novo que Guilherme e levou o 1° lugar nos 100m peito, batendo o recorde baiano absoluto (envolvendo todas as categorias), além do 2º lugar nos 200m peito com recorde de tempo na categoria Júnior 1.

Celine Bispo, que também tem 17 anos e atua na Júnior 1, treinada por Murilo Barreto no Yatch Clube da Bahia, levou o 1º lugar nos 100m borboleta, nos 100m livre e nos 50m livre, batendo o recorde baiano absoluto nas duas primeiras. Enzo Ibanez, da Associação Atlética da Bahia, conseguiu, na categoria Sênior, medalhas de prata nos 200m costas, com recorde baiano absoluto, e nos 200m medley.