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Diário da Série B: O que os olhos não veem…

Confira o oitavo capítulo da saga do Vitória no Brasileirão

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Galo
  • Gabriel Galo

Publicado em 13 de junho de 2019 às 19:40

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Roberto Vazquez/Estadão Conteúdo

A esperança da torcida rubro-negro acabou em pouco mais de 30 segundos, na partida contra o Oeste.

***

Barueri, 11 de junho de 2019

Rodada 8 de 38

Trinta segundos.

Bastou meia volta de um minuto para que a expectativa não se criasse. Ao torcedor do Vitória não é permitido sonhar.

Três gols.

O Oeste em 2016 empatou 17 jogos na Série B, mesma quantidade em 2017. Em 2018, um recorde de 19 empates. Neste 2019, começou o campeonato empatando 5 dos primeiros 7 jogos. Mas do Vitória, até quem só empata, ganha. Oeste 3×0 Vitória.

Quatro vitórias.

São parcos 4 triunfos em um semestre inteiro. Goleadas e vexames em profusão. O ponto alto do Vitória no primeiro semestre de 2019 foi ver Messi treinando no Barradão.

Esse negócio de torcer.

Futebol é entretenimento. Futebol é paixão. Mas futebol também uma relação comercial.

Ir a um estádio de futebol, assim como escolher se associar a um clube, é uma decisão também financeira. Conta-se o valor do ingresso, do estacionamento, do tempo perdido no trânsito, de comer algo – principalmente água.

O torcedor paga para torcer. Jogadores e diretoria, recebem para trabalhar.

Existe, portanto, uma relação hierárquica clara. E ela deve ser compreendida para se estabelecer uma relação saudável. Ainda mais quando colocada em contexto a realidade de Salvador e da torcida do Vitória. Salvador é uma das capitais mais pobres do Brasil. Proporcionalmente, a torcida rubro-negra é ainda mais popular.

Assim, a arquibancada do Barradão, torcer e cobrar o time, é um dos raros momentos em que o torcedor pode se postar como “patrão”, um degrau acima na escala do poder.

Só que resolveram arrancar pela raiz este escape.

Então, o que resta? O que faz valer a pena? A tranquilidade de se dizer torcedor “de verdade”?

Ora, por favor!

Que conta é essa que vale a pena ver um time em campo em que 5 titulares 3 dos reservas mais utilizados estão obviamente fora de forma? (confirmado em áudio pelo presidente). Que exigência absurda é esta de cobrar do torcedor que ele banque a conta para que um bando de descompromissados receba o seu desmerecido salário?

Futebol é entretenimento, mas no caso do Vitória é só o sofrimento. As histórias de superação, do torcedor que não abandona nunca, que vira historinha bonita no stories do clube, não se sustenta em território além do individual.

Insisto: a arquibancada é reflexo do que se vê em campo.

Como, então, questionar quem vira as costas? Como se pode admitir que os outros aceitem e queiram sofrimento aliado a um gasto financeiro provavelmente pesado no orçamento? Fazer plano com o dinheiro e o sofrimento dos outros é fácil e covarde.

Mas futebol é também paixão. E aí é que se cria o conflito em todos nós. Racionalmente, esta maluquice de torcer sem ter qualquer contrapartida é só isso: coisa de maluco. Mas somos apaixonados. Não é possível nos livrarmos da paixão que nos define.

Assim, permanecemos gravitacionando em torno do Barradão. Estamos destruídos pela relação abalada. Mas esperando aquela mensagem que chama pra perto, a DR que restaura a ordem.

― Volta. Não vivo sem você.

― Você vai mudar?

― Eu já mudei. Neste tempo todo, vi que o errado era eu.

E, pois, voltamos, comprometendo orçamentos e desgastando cordas vocais, mas felizes da vida por poder andar junto com quem amamos.

31 dias.

Entre o vexame de Barueri e a volta a campo contra o Cuiabá, são 31 dias completos sem jogo. Melhor assim. Ninguém aguentava mais.

Diante da metralhadora de desmantelos que se fez do Vitória, o descanso forçado cria a esconderijo perfeito. Em um mês cheio de futebol de seleção, Copa do Mundo Feminina e Copa América Masculina, o alvo muda. Não teremos que aturar “atletas” e outros “profissionais” que parecem ter como compromisso único afundar o Vitória.

A realidade fica guardada, e no guardado evita de nos dar um tapa na cara, expondo suas entranhas.

O que os olhos não veem, o coração não sente.

E talvez voltemos lá no mês pra frente com um fiapo de esperança renovada, imaginando que de lá pra frente tudo vai ser diferente.

Gabriel Galo é baiano, torcedor do Vitória, administrador e escritor, cronologicamente falando. É autor de “Futebol é uma matrioska de surpresas: Contos e crônicas da Copa 2018”, disponível na Amazon.

O Diário da Série B é uma série de 38 capítulos, escritos após cada jogo do rubro-negro. Texto originalmente publicado no site Papo de Galo.