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Diário da Série B: Centelha de melhoria

Confira o sétimo capítulo da saga do Vitória no Brasileirão

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Galo
  • Gabriel Galo

Publicado em 10 de junho de 2019 às 20:11

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Anderson Stevens/ Sport Club do Recife

Melhora, só com muito esforço retórico. Mas na hora do desespero, o auto-engano é poderoso. Sport 3×1 Vitória.

***

Recife, 8 de junho de 2019

Rodada 7 de 38

Só a torcida na causa

A semana que antecedeu o jogo no Recife foi agitada. E o agito partiu, como sempre, da torcida rubro-negra.

Diante do marasmo da comunicação institucional , da falta de ações de aproximação com o público e de um sentimento de que o moral estava em nível mínimo, um grupo lançou uma campanha para alavancar o orgulho de ser Vitória. Assim, surgiu a hashtag #NãoJogarAToalhaJamais.

Rapidamente, as redes sociais foram tomadas por mensagens de exaltação do clube. Apesar dos pesares, apesar do momento, apesar do afastamento, apesar do sofrimento…

Quando a inépcia se forma e faz ruma, só a torcida na causa para não deixar a peteca cair.

Apropriação e deturpação

A comunicação do clube resolveu tomar para si a ação. Numa primeira olhada, seria uma premiação do esforço da arquibancada. Um movimento genuíno da torcida que se transforma em campanha corporativa! A influência se constrói assim!

Mas quando adicionado este item à narrativa adotada no clube, vê-se que a forma e a mensagem nas entrelinhas contém um perigo escondido.

Quando o clube inclui a mensagem #NãoJogarAToalhaJamais em suas publicações, cria um ambiente de não contestação. Afinal, questionar o clube poderia ser interpretado como alguém que não é fiel incondicional, que não é tão torcedor, que está prestes a jogar a toalha.

Não é, portanto, a ação única em si, mas como ela compõe a retórica da atual direção. Subliminarmente, cobrar e questionar se torna “jogar a toalha”.

Assim, apropria-se um movimento bem arquitetado de parte da torcida e o transforma em blindagem para a incompetência administrativa. Deturpa-se, pois, totalmente a intenção nobre do movimento.

Mas a torcida não se dobra. Atenta, não cede às chantagens e prossegue na luta.

Em time que está perdendo…

No campo de jogo, diante da necessidade urgente por resultados urgentes para escapar da vergonhosa 19° posição, provocou várias alterações na equipe titular. Pela frente, o Sport, companheiro de rebaixamento em 2018, mas que briga na outra ponta da tabela, galgando posições pelo G4.

Se o ditado diz que em time que está ganhando não se mexe – o que não é necessariamente verdade -, o oposto confirmaria a tese de que em time que está perdendo se mexe em tudo.

Assim, Van faria sua estreia na problemática lateral direita, o esquema com 3 volantes era enterrado, Leo Gomes passaria um tempo meditando no banco de reservas e carregaria Nickson consigo. Numa ponta, Wesley, jovem recém-chegado da base do Palmeiras, iria pro jogo e Ruy viraria não apenas titular, mas também capitão do time.

Ah, essa camisa branca… (suspiro)

(Pausa pra digressão. O Vitória foi a campo com seu uniforme branco. E há de se admitir, o padrão novo da Kappa é muito bonito. Ainda mais quando visto na foto com Verena. É muito crush pruma foto só…. E veja como há justiça nesse mundo. No dia seguinte, pela Copa do Mundo de Futebol Feminino, Cristiane sapecou 3 nas redes jamaicanas. Estivesse ela no Vitória, jogaria só aqueles 15 minutos finais para descansar Verena com o jogo ganho…)

Buraco na defesa

Na hora do pra valer, o Vitória se postou mais adiantado em campo, como prenunciava a escalação. Com um pouco mais de organização na saída de bola, rondava a área do Sport. Mas na hora de definir…

Ruy maltratava a bola e o juízo da torcida. Capa tropeçava nas próprias pernas. Van com atribuições meramente defensivas deixava Ruan Levine sem companhia.

E a recomposição era falha. Do lado esquerdo, Wesley, sobrecarregado como única alternativa ofensiva, abria buraco que não bem coberto. Do lado direito, Ruan não retornava para recompor a segunda linha de defesa.

Desta forma, atacando sempre contra 6, o Sport encontrava espaço livre. E exatamente neste cenário, abriu 1 a 0.

Wesley, um achado

Fruto da negociação que levou Luan ao Palmeiras, Wesley chegou ao clube sem alarde. Com a contusão de Felipe Garcia e o novo esquema de volta com 3 atacantes, o ex-palestrino ganhou de presente a vaga de titular no ataque. E surpreendeu.

Rápido e incisivo, concentrava em si todas as ofensivas. Só que o deserto de gente para compartilhar a bola fazia com que apelasse para a individualidade. E o garoto não se fez de rogado.

Quando de um lado tem Capa e do outro Ruy, o jeito é ir sozinho. E carregou, buscou tanto o meio para o arremate quanto a linha de fundo. E num desses lances, entregou cruzamento na medida para Anselmo Ramon marcar belo gol e empatar a partida!

Só que o Sport de Guto Ferreira rapidamente entendeu por onde o perigo chegava. Condensou marcação e a partir dali, um até certo ponto envolvente Vitória se tornou previsível.

Velhos problemas

Só que o amontoado de problemas técnicos, táticos e físicos são demais para um cavaleiro solitário dar conta.

Numa saída de bola pretensamente tocada, mas apenas atabalhoada, Ronaldo entrega na fogueira prum afobado Gabriel Bispo, que dali entregou no pé do jogador do Sport pra fazer 2 a 1.

Poderia ter chegado o terceiro a qualquer momento, dada a liberdade dos pernambucano nos contra-ataques sempre em maioridade numérica. E ele veio no segundo tempo, em belo chute sem contestação de fora da área. Sport 3×1 Vitória.

Os velhos problemas continuam ali, como fantasmas sem livramento. Goleiro sem confiança, laterais temporários, volância em retrocesso (corre, Marciel, pelo amor de Deus, criatura!), meias que não produzem e uma profusão de saliências abdominais que não condizem com a boa prática de esporte de alto rendimento.

Melhora, mesmo que fingida

A reação foi de buscar um alento de melhoria, por mais frágil que fosse. Alguns comentários seguiram na linha do “time competitivo por um tempo”.

Ignora-se conscientemente que em outros jogos o time foi competitivo (e até superior) por um tempo. Que ensaios de saída de bola mais qualificada já se viu antes.

A questão que atormenta é a falta do próximo passo. De uma maior solidez defensiva, de um preparo físico mais adequado, de que tolas falhas individuais não prejudiquem o time como em todo jogo.

Mas aí, há de se reconhecer a necessidade de se fiar em qualquer sombra de melhora para não bater o desespero. Assim, que se exalte Wesley, o bom jogo de Anselmo Ramon, a torcida pela volta do futebol de Ruan Levine, a dupla de zaga que parece ter sido encontrada, os lampejos de organização e a pausa salvadora da Copa América.

O resto, deixa quieto. Não mexe ali que é só desmantelo. Até porque, quando a realidade é ver a equipe atolada no mais que vexatório último lugar da Série B, um pouco de auto-engano é premissa para que não se jogue a toalha ainda na sétima rodada.

Guardada, no entanto, permanece a certeza. Precisa-se de mais. De muito mais.

Gabriel Galo é baiano, torcedor do Vitória, administrador e escritor, cronologicamente falando. É autor de “Futebol é uma matrioska de surpresas: Contos e crônicas da Copa 2018”, disponível na Amazon.

O Diário da Série B é uma série de 38 capítulos, escritos após cada jogo do rubro-negro. Texto originalmente publicado no site Papo de Galo.