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Gabriel Galo
Publicado em 25 de julho de 2019 às 13:45
- Atualizado há 2 anos
Londrina, 23 de julho de 2019
Rodada 11 de 38
Agora vai?
Ao fim do jogo contra o Criciúma, os 3 pontos mais a alma lavada e enxaguada eram traduzidos como prenúncio de melhorias. Sim, basta um zagueiro adversário falhar e assegurar o gol rubro-negro para que tudo vire festa.
E é, pois, assim que tem que ser. Quem não está acostumado a comer melado, toma banho em banheira cheia dele. E ainda posta no YouTube para conseguir seus minutos de fama.
Fazia, até, um certo sentido a empolgação. Fora um segundo tempo intenso e bem jogado por parte da equipe rubro-negra. Marcação alta, construções bem feitas, evolução, harmonia, desejo.
Para efeito de agora vai, até mesmo esquecia-se do primeiro tempo que antecedeu a glória, em que se malhou o Judas na festa julina, sendo o Judas, neste caso, o torcedor do Vitória, que apanha sem nem saber de onde vem a cinta.
Mas, sim, para todos os efeitos, era pra embalar!
Mas não vai chover…
Só que no Paraná, ao contrário da Bahia, inverno é período de seca. Das brabas. Época de se ficar dezenas de dias sem ver uma gotinha de chuva que seja. É nada e é nenhuma.
Fato, pois, que não choveria.
Ah, minha Nossa Senhora das Tempestades Fora de Hora, como é que é a dança da chuva mesmo? É que só assim, reza a crença, pro Vitória vencer…
À distância
Londrina fica no norte do Paraná, quase beijando o sudoeste paulista. É pólo importante para o estado, ponto de escoamento de produção do interior agropecuário paranaense com os grandes centros urbanos do Sudeste. É a segunda maior cidade do estado, a quarta maior da região Sul, e, até poucos dias atrás, era terra de Claudio Tencati, que veio, viu e perdeu pelo Vitória, mas com trajetória vencedora no azulino.
Assim, às 21:30h de uma terça-feira árida, mas com agradável temperatura, que o escrete rubro-negro sairia dos vestiários, cantaria o hino e brocaria os londrinenses até promover o exorcismo da inhaca.
À torcida caberia torcer à distância, plugada na TV, com o sentimento renovado, mas com a pulga sempre atrás da orelha. Afinal, o Londrina briga na outra ponta da tabela, sem ver o mundo de cabeça para baixo.
Parece que foi!
E o começo de jogo parecia que o descarrego fizera efeito. O Vitória avançava organizado. Levava perigo à meta oponente. Vez ou outra o Londrina chegava, mas sem tanto perigo.
E quando ainda era manhã no jogo, Felipe Gedoz, o sobressalente 10 rubro-negro, cobrou falta com categoria (ou seria catiguria?) e abriu o placar.
E não era que tinha ido?
Londrina 0x1 Vitória.
Só que ainda restava um dia inteiro de jogo. E aí é que está o problema. Apesar de julho, os festejos juninos perduram, para alegria de todos que se refestelam na maior e mais bela festa popular nordestina. Porque, sabe como é, festa junina tem sabor de milho e amendoim. E o sistema defensivo rubro-negro tem aquela aparentemente infindável tradição de entregar a paçoca…
Mas acabou fondo…
Pois foi assim que, no quando para o intervalo faltava menos de minuto, longe, lá de longe, onde toda a beleza do mundo se esconde, um sacrista de branco pegou de jeito. A bola sassaricou no caminho, fez que ia, voltou, foi pra lá, nada!, veio pra cá, enganou o uruguaio goleiro, empatando a contenda em 1x1.
Pois vista aí a camisa que evita a corneta em tão pouco tempo. Larguemos eufemismos para abrandar a realidade dos fatos. Digamos que a bola era “defensável”, porque dizer outra coisa, aparentemente, é proibido. Sabe como é, a culpa não é do goleiro que falha, mas da torcida que não vibra positivamente o suficiente – assim manda a cartilha do mandatário, aprendida com afinco pelo séquito.
(Entendam: apesar do pouquíssimo tempo no Barradão, o goleiro é, disparado, a melhor opção que temos.)
E foi no morrer manso da bola nas redes rubro-negras que o velho trauma de verões passados ressurgiu. Quebrou-se o elo de confiança. Você conhece aquele “xá comigo, que eu garanto”? Pois então…
Everton Sena, o pilar sensato da zaga, antes, tinha saído contundido. Mais um. Contusão depois da pausa, depois de preparação específica, depois de 30 dias sem desgaste excessivo.
Na volta, bastou 1 minuto para a virada chegar.
Aos 3, Chiquinho entregou de lambuja o terceiro gol londrinense.
Num decorrer de parcos 5 minutos, 3 gols sofridos.
O time estava entregue. Sem forças para reagir, como se a derrota fosse inevitável. Um triste bando em campo, despedaçado psicologicamente, sem eira, nem beira.
Assim se fez Londrina 3×1 Vitória. Parecia que ia, foi, mas acabou fondo.
E tem jeito?
Não é questão de orçamento. É impossível dizer que o orçamento rubro-negro é menor que o do Oeste, de quem sofremos uma derrota vergonhosa antes da pausa. Ou do Cuiabá, de quem perdemos no Barradão na reabertura dos trabalhos.
Há tempos se faz necessário enfatizar os problemas de ordem física, de ordem tática e de ordem psicológica.
Baixar a guarda, como se lutar contra a certeza da derrota fosse irrelevante, é inaceitável. Vagar desordenadamente, depois de quase 2 meses de trabalho, é inaceitável. Ver jogadores se contundindo na volta da pausa, depois de 30 dias sem exigência física que sature o corpo, é inaceitável.
Mas, aparentemente, o absurdo da incompetência é irrelevante diante do maior problema do Vitória, segundo a gente que o rege: a falta de vibração positiva.
Se para estes é isto que impede o crescimento, melhor, como torcida, por as barbas de molho.
Porque pensar positivo é a única alternativa dos incompetentes.
Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor. A opinião do autor não necessariamente reflete a do jornal.