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Gabriel Galo
Publicado em 11 de julho de 2019 às 16:05
- Atualizado há 2 anos
Mesmo em casa e depois da pausa para a Copa América, Vitória amplia sequência de vexames e perde para o Cuiabá. Vitória 0x1 Cuiabá.
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Salvador, 9 de julho de 2019
Rodada 9 de 38
Preparação escondida
Na medida em que a Copa América se aproximava, trazendo consigo quase 30 dias de futebol de seleções, e que o Vitória acumulava derrotas vexatórias, havia a crença em dias melhores. A salvação seria a pausa providencial que interromperia a saga de competições de clubes (exceção às séries C e D, diga-se, que é terra onde sol não bate).
Só que tinha uma armadilha na cocó, pronta pro bote. A mesma pausa que dava em Chico, dava em Francisco, ora, pois.
E o Vitória se escondeu. Natural que a cobrança diminuísse pela falta de destaque, e os mandatários trataram de fingir que tudo estava bem. Se ninguém cobrava mais enfaticamente pra gerar monta que justificasse um retorno, calados ficaram.
Assim, ficou nas mãos de Osmar Loss, técnico cujo sobrenome é um destino, sob os olhares autocráticos de PC, a reconstrução de um elenco sem coesão.
Não tinha como dar certo.
Contratações de peso
Dado o histórico problema de preparação física rubro-negro, entenderam tudo errado quando foram buzinar na orelha que a pausa também serviria para que fossem, enfim, feitas contratações de peso.
Só que esta fala antiga do futebol tinha que ser explicada muito bem explicadinha nos mínimos detalhes aos gestores redivivos, que permanecessem com alma de antanho.
Os tais de peso vieram, ora, com peso de sobra, ornando com um elenco defasado fisicamente, em viés mantido desde 2014. Isso é que é coerência!
E aí…
E aí que a terça-feira, 09 de julho, chegou. Expectativa não era tanta, mas havia aquele fio que, se puxado, explodiria em formato de “eu já sabia”, catarse coletiva!
Mas gato escaldado tem medo de água fria. Meio de semana, jogo no infame horário das 19:15h, chuva, um pouco de frio, trânsito, a avó no caratê… E pouco mais de 3 mil abnegados desembestaram a descer a encosta rumo às arquibancadas do uma vez sagrado Barradão. (será que ainda é? Do jeito que andam profanando o santuário…)
Os 11 que somados, valem 2
E o 11 titular de Loss (valhei-me minha Nossa Senhora das Mais Sádicas Ironias, que nome é esse) provocou arrepios. Não aquele de pé de ouvido, mas aquele do vento frio com a espinha gelada e um espectador gritando “não abra essa porta!”
Iam direto para o campo Zé Ivaldo, Marciel, Ruy e Gedoz, formando a espinha dorsal dos gorditos de PC. Os 3 novos contratados, famosos “quem?”, já assumiriam de prima a titularidade. E ainda haveria a volta de Matheus Rocha.
E fica a pergunta: quem aguenta tanta injúria?
Feio, muito feio
Bola em campo chorando de tristeza pelo tratamento esdrúxulo oferecido pelo selecionado manco da casa.
Não vou comparar com os babas de Soterópolis que tem uns que vestiriam a camisa e goleariam o São Bento, certeza.
Não vou também comparar com o brioso futebol da várzea, por mais absoluto respeito ao futebol da várzea, que não merece ser comparado com qualquer coisa.
A culpa é sempre dos outros
Após sacramentado o vexame no placar em Vitória 0x1 Cuiabá, sairão à tona as desculpas em farrapos de uma gente que não enxerga suas próprias incompetências. Presos ao mundo paralelo da realidade distorcida, a culpa é sempre dos outros.
Apesar dos anos se vendendo como solução única e definitiva para o clube e afundar ainda mais a instituição com um discurso que já nasceu ultrapassado.
Apesar da carreta de contratações enfadonhas que nada acrescentam.
Apesar da comunicação capenga.
Apesar de acossar e chantagear o torcedor.
Apesar de um elenco que há 5 anos não sabe o que é uma boa forma física para prática de um esporte de alto rendimento, sendo boa parte contratada na atual (indi) gestão.
Apesar dos inúmeros avisos sobre o disparate que foi contratar o Burse com carimbo sudestino.
Apesar de perder para um time recém-promovido da Série C que tem curta história e faturamento quase nulo.
A culpa é sempre dos outros.
Do horário da partida. Da CBF. Da queda da premiação. Dos fantasmas de presidentes passados.
Um dia esta culpa foi de Osório (com boa dose de razão, diga-se). Já foi de Edílson e até de Felipe.
Inventam-se bichos papões para se agasalharem no vitimismo que precisa de um inimigo para ser sempre o coitado. Despeje doses extras de frases prontas, “marxismo cultural”, “ideologia partidária” e outros afins para manter uma massa não pequena de apoiadores incondicionais.
Sobre torcer criticamente
Apontar os erros não é questão de torcer contra. É questão de querer corrigir o rumo do que está claramente afundado.
Mas a tentação de escrever uma história “contra tudo e contra todos” é grande demais. “Como um time que ninguém acreditava se superou e provou ao mundo do que era capaz.”
O conto de fadas que todos querem ter, sei lá pra quê. E ignoram o fato de que a “volta por cima” dos desacreditados é meramente exceção. Todos querem ser exceção.
Mas aí, a cereja do bolo vem em mais um áudio vazado. Outra vez mais, incompreensivelmente, contra a própria torcida.
Sempre a culpa é justamente do elo que mais sofre com os tantos pernas-de-pau em atividade. Que gasta o suado dinheiro para acompanhar o time do coração, apesar da razão pedir arrego.
Agora, a falácia do momento é a do boleto que não foi pago.
Pois, então, proponho algo mais radical.
Ora, se a culpa é sempre dos outros e sua magnificência mítica de escolhido divino não consegue superar as agruras e obviedades do mundo terreno, desce daí. Desce do cargo porque não tem dado conta.
E se a culpa é da torcida, como já pontuei em inúmeros artigos, ela está pronta para assumir de vez a bronca. Já que vai cair nas costas do rubro-negro a responsabilidade do erguimento, que seja nos termos dela.
O que certamente não vamos fazer é nos calar diante do absurdo.
Não há pensamento positivo que supere a mais absoluta incompetência.
Gabriel Galo é baiano, torcedor do Vitória, administrador e escritor, cronologicamente falando. É autor de “Futebol é uma matrioska de surpresas: Contos e crônicas da Copa 2018”, disponível na Amazon.
O Diário da Série B é uma série de 38 capítulos, escritos após cada jogo do rubro-negro. Texto originalmente publicado no site Papo de Galo.