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Gabriel Galo
Publicado em 7 de julho de 2018 às 20:37
- Atualizado há 2 anos
Estão definidas as semifinais desta Copa 2018 com apenas dois títulos mundiais somados em seus quatro participantes. França e Inglaterra são os porta-estandartes de títulos passados, contra as virgens Bélgica e Croácia. É a menor quantidade de títulos nesta fase de uma Copa do Mundo desde 1966, quando a Alemanha ostentava seu único caneco – e com a ressalva daquele ser apenas a oitava edição do maior torneio de futebol do planeta.
A renovação continua com outros dados que espremidos advogam pela causa da insurgência dos uma vez mais fracos. Foram 19 Copas seguidas com Brasil e Alemanha na semifinal – em 1930 foi a única vez sem um ou outro, que sequer tinha os germânicos em campo. Se uns dizem que a camisa pesa, nunca isto fez tão pouco sentido. Porque esta renovação não vem de agora. Não é surpresa que Inglaterra, Bélgica e França tenham chegado.
Esta percepção é corroborada por uma base forte e bem formada. A Inglaterra é a atual campeã mundial sub-20, vencendo em 2017. Quatro anos antes, era a França a vencedora. Os ingleses não se deram por satisfeitos, e ganharam, também em 2017, o mundial sub-17. Não é pouco e é um excelente indicativo de sua tentativa de voltar a brilhar entre as seleções.
Os franceses possuem uma geração jovem e muito habilidosa, com nomes como Griezmann, Pogba e Dembelé, e ainda com a joia Mbappé. Pois já pisaram em solo russo como favoritos. Vinham com a decepção de terem sido batidos por Portugal na final da Eurocopa em casa em 2016. Mostrou-se um grupo que amadureceu rapidamente. Não se abalou contra os argentinos, dominou as ações contra um Uruguai sem Cavani e chegou sem sustos.
Sua adversária será a Bélgica e sua geração dourada. Favorita em diversos campeonatos passados, é a primeira semifinal que este grupo disputa. Assim, tiram do ar aquela aura de seleção boa de bola mas condenada pela história a permanecer injustiçada. Chegam embalados por terem batido o gigante Brasil.
Do outro lado da chave, a Inglaterra enfrentará a Croácia, que foi chegando e duas disputas de pênaltis em sonolentos jogos de mata-mata. Prevaleceram, no ápice de um grupo talentoso, capitaneados por Modric. Se não podem ser considerados surpresa, ao mesmo tempo nunca foram os preferidos nas bolsas de apostas.
Diante de tamanha realocação de poderes, chorarão os conservadores, os tradicionalistas. Choram desde a eliminação da Itália, pois “Copa sem a Azzura não é Copa. Vimos Alemanha fora, Argentina em seguida, Brasil depois… Ficou o novo, o trabalho de longo prazo, a confluência da inovação em catarse. Renovar-se é tarefa obrigatória inclusive para os grandes de camisa enorme, como provou a Alemanha em 2014.
Dói ver o Brasil fora, mas não é possível dizer que quem chegou não tenha, por fim, merecido. Sequer podemos achar ruim. Pelo bem do futebol, quanto mais equipes fortes e campeãs, melhor para o esporte. Espalha-se a brasa do possível e de que projetos bem estruturados dão certo. Traz ares de democracia participativa, não mais de oligarquia concentradora. Nações de todos o mundo: UNI-VOS!
E se, ainda assim, alguém continuar pensado que está faltando poderio aos quatro semifinalistas, descrente da relevância e importância de quem pede passagem, relembro as palavras da verdade do profeta Belchior:
“Você pode até dizer eu estou por fora, ou então que eu estou inventando. Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem.”
E o novo veio em 2018, de uma vez só, disruptivo. Veio na velocidade de Mbappé, na classe de De Bruyne, na inteligência de Modric, na precisão de Harry Kane. Assumamos e concedamos à pauta irrevogável: o mundo é deles.
Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo.