Samuel Rosa faz o previsível em estreia solo. E isso é uma ótima notícia

“Nunca pensei algo como ‘eu preciso soar diferente’", revela o cantor que está lançado o álbum Rosa

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  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de junho de 2024 às 00:01

Samuel Rosa
Samuel Rosa Crédito: Lorena Dini/divulgação

Quando veio ao Brasil no ano passado, Paul McCartney fez um show em Brasília que não estava previsto na agenda e foi anunciado de última hora. Na plateia da Casa do Choro, onde a apresentação aconteceria, haveria apenas 500 pessoas. E só teria direito a ir ao espetáculo aqueles que tivessem comprado ingresso para o show do ex-beatle no estádio Mané Garrincha - na mesma cidade - e que houvessem sido contemplados num sorteio.

Além dos sorteados, pouquíssimos artistas foram convidados. Um dos privilegiados foi Samuel Rosa, ex-vocalista do Skank e com fama de beatlemaníaco. A experiência de ver seu ídolo num show intimista foi inesquecível para Samuel e um momento lhe tocou especialmente: a apresentação do clássico Hey Jude, com Paul cantando e tocando piano , sem nenhum outro instrumento.

Samuel, que já estava iniciando a carreira solo, pensou:

"Esse cara, que é um dos mais criativos da história da música pop, se rendeu a importância de Hey Jude e está ali tocando de um jeito simples uma música que ele compôs aos 28 anos e ele está com 80 anos agora!"

Samule Rosa
cantor e compositor

Foi como um recado para o mineiro: se aquele gênio, mesmo como todo potencial que tem, não se preocupou em se reinventar, por que Samuel deveria buscar uma revolução em sua carreira?

E foi mais ou menos com esse espírito que nasceu o álbum Rosa, estreia de Samuel na carreira solo, que chega hoje nas plataformas de música. Então, neste novo trabalho, o fã do músico vai perceber que a essência da banda continua presente na carreira solo do mineiro de 58 anos. E, claro, não poderia ser muito diferente, afinal é o mesmo compositor e mesmo vocalista que esteve à frente do grupo por 30 anos.

Mas a semelhança com o som do Skank está longe de ser um problema, afinal estamos falando de uma das bandas mais importantes da história do pop rock nacional, que deixou hits como Garota Nacional e álbuns inovadores e ousados como Cosmotron.

Ainda assim, Samuel prefere apontar algumas diferenças entre o novo álbum e sua antiga banda: “É diferente do Skank! Tem coisas que eu não usava muito no Skank ou que usava com menos frequência. Então, tem nuances que aparecem na sutileza. Espero que essas diferenças apareçam ao longo do trabalho e de forma natural”. As diferenças, no entanto, não foram uma meta que Samuel buscou obsessivamente, diz ele próprio.

Limites

“Nunca pensei algo como ‘eu preciso soar diferente’. Quero meramente me exercer, até porque não dá pra ir muito além do que eu sei. Já mostrei diferentes vertentes suficientes pras pessoas me mapearem e terem ideia do que sou. E eu tenho limites. Não queria meter os pés pelas mãos: queria simplesmente fazer músicas do jeito que sei fazer”, revela o músico.

Talvez o ouvinte brinque de associar as novas canções a antigas do Skank: Segue o Jogo lembra Balada do Amor Inabalável; Rio Dentro do Mar tem sonoridade semelhante a Dois Rios; Me Dê Você remete a Calango, álbum de 1994. Mas tem muita coisa diferente também, como Não Tenha Dó - uma bossa com clima sessentista - e Aquela Hora, que tem influência do indie rock.

Samuel diz que o processo de compor foi mais “íntimo” do que na época em que integrava uma banda. 

"No Skank, nos últimos discos, eu compunha com todo mundo. Mas nesse disco, eu compunha a música de manhã, levava para o estúdio à tarde e a gente ia ‘limpando as canções’, revela."

Samuel Rosa
cantor e compositor

Mas, se você já está com saudades de ver Samuel nos palcos, pode se preparar: em agosto, ele começa a turnê da carreira solo e em 28 de setembro, chega a Salvador, para cantar na Concha Acústica. E, além das novas canções, vai ter também os clássicos do Skank: “De forma alguma, vou deixar de tocas as canções que fiz no Skank. Como disse o Sting: as bandas são meros veículos; o que importa mesmo é a obra. E eu sou menor que essas músicas”.