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Roberto Midlej
Publicado em 30 de abril de 2021 às 06:00
- Atualizado há um ano
O suíço Walter Smetak (1913-1984), que adotou a Bahia como sua terra a partir de 1957, foi um dos mais criativos construtores de instrumentos da história. Criou cerca de 150 desses “instrumentos-esculturas”, que ele mesmo chamava de “plásticas-sonoras”. É bem provável que você já soubesse isso. Mas a surpresa é que Smetak era também poeta e deixou centenas de textos inéditos.
Agora, 60 poemas dele serão publicados no site Poética de Smetak, que entra no ar hoje, às 19h. No mesmo horário, acontecerá uma live com a participação de Tuzé de Abreu; Ícaro Smetak, neto de Walter; e Uibitu Smetak, filho do músico. Os três selecionaram os poemas que estarão no site. Bárbara Smetak, filha e responsável legal pela salvaguarda do acervo, e Elaine Hazin, diretora-geral do Poética de Smetak, também participam da live. O projeto é realizado pela Somos Comunicação, com correalização da Via Press Comunicação. Uibitu Smetak, filho de Walter, é um dos curadores do projeto (foto: Dora Araújo) “A iniciativa condiz com as ideias do artista que sempre acreditou que as artes deveriam ser acessíveis. Inclusive Smetak experimentava criar instrumentos com materiais simples, baratos, como canos de PVC, vassouras, gravetos e outros. Criar um site gratuito que permita amplo acesso a parte do acervo de Smetak é uma proposta que populariza a obra do artista, que constitui parte relevante e ímpar da memória da cultura baiana e não pode ser esquecida”, diz Elaine Hazin.
Músicos como Adriana Calcanhotto, Russo Passapusso, Rebeca Matta e Carlinhos Brown recitam os poemas, sendo que alguns os transformaram em canções. O poeta James Martins, o escritor Emmanuel Mirdad e a jornalista Jéssica Smetak, neta de Walter, também participam da homenagem. Os músicos Jaques Morelenbaum, Vladimir Bomfim, Marco Scarassatti, Chico Gomes, além dos três curadores do projeto, compuseram as músicas.
Tom pessoal Os poemas estavam em três livros inéditos, preservados pela família de Smetak: A Aleatória, Mônada, e Canções - Para Crianças Grandes e Adultos Pequenos. “A poesia dele é muito pessoal, tem um lado mais íntimo, um aspecto mais interior”, ressalta Uibitu, que tem 50 anos.
Ele diz ter vivido muita coisa que está nos textos do pai: “Quando leio, volto para aquele tempo. Num poema, ele fala de uma lâmpada lilás e branca e lembro muito bem dessa lâmpada. Foi um período marcante dos meus dois até uns sete anos de idade”. Os poemas falam da casa no bairro da Federação e do ambiente familiar íntimo, segundo Uibitu, que é violinista com graduação em música pela Ufba e mestrado em artes cênicas. Adriana Calcanhotto recita um dos poemas (foto: Leo Aversa/divulgação) Uibitu, Ícaro e Tuzé escolheram 20 poemas cada um, numa primeira etapa. Depois, como algumas escolhas coincidiam, não chegaram aos 60 desejados. Em seguida, se reuniram virtualmente e fizeram uma nova seleção para completar o número. “Eu preferi não escolher os poemas mais ‘difíceis’, já que é para o ‘grande público’. Se colocasse algo mais difícil, até desestimularia as pessoas. Além disso, um poema longuíssimo não é ideal para um site ”, observa Uibitu.
Embora fosse nascido na Suíça e houvesse sido alfabetizado em alemão, Smetak - que chegou ao Brasil quando tinha 24 anos, indo primeiro para Porto Alegre - dominava bem a língua portuguesa e escreveu os textos no idioma que aprendeu no Brasil. “Falava com muito sotaque ainda, mas tinha vocabulário imenso em português. Lia muitos livros em português, muito mais que em alemão”, afirma Uibitu.
Tuzé diz que as ideias de Smetak são universais e cita Gilberto Gil: “Gilberto Gil certa vez escreveu um texto sobre Smetak onde diz mais ou menos: ‘detentor de vários recordes de profundidade’”.
Live hoje, às 19h, em tinyurl.com/yfjz8amm, com Tuzé de Abreu, Ícaro Smetak, Uibitu Smetak, Bárbara Smetak e Elaine Hazin. No mesmo horário, entrará no ar o site www.poeticadesmetak.com.br