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Ana Camila Esteves
Publicado em 21 de abril de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Em tempos de isolamento social, proliferaram pelas redes sociais dicas de filmes para ver em casa. Além dos serviços de streaming como Netflix, Mubi, Petra Belas Artes, entre outros, muitos diretores, produtoras e agências de filmes têm disponibilizado seus acervos de forma gratuita ou com descontos generosos por tempo limitado.
Por ser curadora e realizadora da Mostra de Cinemas Africanos (em SP) e do cineclube Cine África (em Salvador), muitas pessoas vieram me perguntar como faz para assistir filmes do continente durante este período de confinamento. A realidade da distribuição e difusão dos cinemas africanos ainda é de muita ausência. Por mais que o continente produza milhares de filmes por ano e marque presença nos mais expressivos festivais do mundo, ainda assim é bem difícil vê-los nas salas comerciais e nas plataformas de streaming.
Fiz um levantamento do que existe de filmes africanos nos serviços disponíveis no Brasil atualmente, e o resultado é desanimador: com exceção da Netflix e do Telecine Play, não consegui encontrar nada de substancial nos catálogos das outras plataformas. Até mesmo o Petra Belas Artes, reconhecido pela excelência do acervo, só tem um título africano disponível: Amante, de Mohamed Bem Attia, produção da Tunísia. Através de uma história de amor, o longa mostra a Senegal contemporânea (Foto/Divulgação) A Netflix é, sem dúvida, o serviço que mais está investindo nos filmes africanos atualmente em nível global. O catálogo disponível para o Brasil tem mais de 40 títulos produzidos na África, entre os quais estão os “originais Netflix”, aqueles cujos direitos foram adquiridos pela plataforma por tempo ilimitado. Um deles é o Atlantique, dirigido pela franco-senegalesa Mati Diop, adquirido na ocasião em que ganhou o prêmio do júri no Festival de Cannes 2019, onde fez história por ser o primeiro filme dirigido por uma mulher negra indicado ao maior prêmio do festival.
Em 2018 a Netflix também adquiriu Lionheart, filme nigeriano dirigido e protagonizado pela Geneviève Nnaji, após sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Com esses dois movimentos seguidos, é esperado que a plataforma siga prestando atenção nos cinemas africanos contemporâneos e colaborando para diminuir a distância entre eles e o público brasileiro. A produção sulafricana Queen Sono é a primeira série africana da Netflix exibida no Brasil (Foto: Divulgação) Em 2020, a Netflix deu mais dois passos à frente. Estreou a série Queen Sono, produção totalmente africana, a primeira da plataforma, criada por Kagiso Lediga na África do Sul e com locações em vários países africanos. Outros projetos de séries africanas já estão confirmados, como o drama adolescente Blood & Water e a série animada “Mama K’s Team 4”.
Recentemente, a plataforma divulgou um cast de 14 diretores nigerianos com os quais deve trabalhar nos próximos anos. O foco no cinema nigeriano não é à toa: o país tem uma das maiores indústrias de cinema massivo do mundo, Nollywood, com grande apelo junto ao público, e os maiores sucessos de bilheteria da Nigéria estão disponíveis na Netflix no Brasil: Casamento às Avessas e Cinquentonas, entre outros.
PRESTE ATENÇÃO
Em termos de qualidade, o Telecine Play se destaca. Apesar de não ter muitos títulos como a Netflix, os poucos que oferece são muito relevantes. O destaque vai para Rafiki. Dirigido pela queniana Wanuri Kahiu, o longa emocionou a plateia de Cannes com a história de amor proibido entre duas garotas. Outro destaque é o Uma Temporada em Paris, dirigido por um dos realizadores mais celebrados do continente, Mahamat-Saleh Haroun, natural do Chade. Rafiki fala fala do amor proibido de Kena e Ziki no Quênia. O filme é uma dos bons títulos do Telecine Play Também encontramos no acervo o Chateau Paris, dirigido pelo burquinense Cédric Ido, além do Papicha, longa argelino dirigido por Mounia Meddour. Em comum a todos esses títulos está o fato de terem sido distribuídos comercialmente no Brasil, o que facilita o processo de licenciamento da plataforma junto às distribuidoras.
Com uma oferta tão grande serviços de streaming no Brasil, a injustificada ausência de filmes africanos aponta a necessidade de que plataformas e distribuidoras desbravem esse universo. Por ora, vale a pena vasculhar os acervos da Netflix e do Telecine Play e começar a descobrir filmes tão diversos em narrativas, estéticas e temáticas.
Alguns destaques
Atlantique (Senegal, 2019) O longa conta a história de amor proibida entre Ada e Souleimane com elementos fantásticos, como pano de fundo para uma visão social da Senegal contemporânea. Netflix
Lionheart (Nigéria, 2018) Adeze, uma mulher que trabalha na empresa de transportes do pai, se prepara para assumir seu lugar na diretoria, mas é surpreendida com a escolha do tio para o posto. Netflix
Queen Sono (África do Sul, 2019)
A trama gira em torno de Queen Sono, que tenta descobrir a verdade por trás da morte de sua mãe, uma heroína da luta anti-apartheid da África do Sul.
Rafiki (Quênia, 2018)
Kena e Ziki são duas adolescentes que se apaixonam e têm de enfrentar o desafio de viver este amor em um país onde relações LGBT são consideradas crime. Telecine Play
Uma Temporada na França (França, 2017)
O africano Abbas vai para a França com os filhos para fugir da guerra civil em seu país, mas seu pedido de asilo é negado, fazendo com que ele tenha que partir. Telecine Play