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Vinicius Harfush
Publicado em 2 de outubro de 2019 às 00:02
- Atualizado há 2 anos
Depois de proporcionar encontros com o jornalista e escritor cubano Leonardo Padura e com o filósofo francês Pierre Lévy, o Fronteiras do Pensamento trouxe para Salvador duas referências quando o assunto é negritude e feminismo. Na noite desta terça (1), as paulistas Djamila Ribeiro, filósofa e pesquisadora, e Lilia Schwarcz, professora e antropóloga, encerraram a edição 2019 do projeto, no Teatro Castro Alves.
Djamila abriu a noite e deu ênfase no discurso debatido nos seus livros, Quem Tem Medo do Feminismo Negro? (2018) e O Que é Lugar de Fala?. “É importante entender e fazer uma investigação profunda sobre as consequências do olhar colonial, principalmente por colocar o negro como ‘o outro’. Pensar o lugar de fala é discutir a restituição da humanidade”, disse.
A professora de história Desiane Brito, 30, viu no evento como uma oportunidade de reforçar um discurso imprescindível para a formação dos jovens. “Pra mim é super especial presenciar e participar de um momento como esse. Uso bastante a literatura delas dentro das salas de aula. Os meninos estão aprendendo o que é o lugar de fala e outros temas sensíveis e que precisam entrar na abordagem deles de uma maneira muito clara”, afirmou Desiane. Djamila Ribeiro filósofa (Foro: Betto Jr. / CORREIO) E tudo o que é debatido e exposto em cima do palco não fica só lá. A presença Djamila lembrou a historiadora Michele Sodré, 30, serve de exemplo: “É algo que me deixa muito feliz. A mim e a todas as mulheres negras. Eu costumo dizer que intelectuais negras e negros sempre existiram, mas sempre foram inviabilizados. Acho que Djamila tem o poder de romper essas barreiras e isso abre caminho para muita gente tentar se colocar nesse espaço”, disse Michele.
Em sua fala, Lilia Schwarcz lembrou de como o racismo estrutural se aproveita da ideia de invisibilidade social do povo negro, principalmente das mulheres, atingindo diversos setores da sociedade. “O racismo vem de uma zona de silêncio no meio social. Mas tudo que aparenta se manter em silêncio tem muito barulho social”, completou. Schwarcz ainda fez questão de falar e questionar as mortes da vereadora carioca Marielle Franco e da garota Ágatha Moreira, vítimas de uma violência social que se direciona à comunidade negra. Lilia Shwarcz é antropóloga e professora (Foto: Betto Jr. / CORREIO) Durante o debate, que contou com a participação do público através de perguntas enviadas às palestrantes, Lilia Schwarcz reforçou a importância da conquista de espaço da população negra, principalmente dos jovens. “Os direitos adquiridos devem ser mantidos”, afirmou Lilia, citando uma reportagem que leu sobre a formação de 12 médicos negros na Universidade Federal do Recôncavo (UFRB). A matéria foi publicada pelo CORREIO no dia 22 passado.
O Fronteiras do Pensamento é patrocinado pela Braskem e Governo do Estado e tem apoio da Rede Bahia.
*com orientação da editora Ana Cristina Pereira