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Laura Fernades
Publicado em 19 de novembro de 2018 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
O bem-estar de quem anda de bicicleta, de quem tem autoestima e autonomia. Para quem busca qualidade de vida, não faltam opções na segunda edição da Virada Sustentável, que começa no dia 29 e segue até 2 de dezembro com mais de 150 atrações gratuitas em cerca de 35 espaços de Salvador. São projetos que estimulam a mobilidade urbana, a preservação da memória e da identidade, sendo boa parte deles dedicados à valorização da negritude. La Frida Bike (Foto: Helen Salomao/Divulgação) “Quando se pensa em bem-estar, a gente pensa em estar bem consigo mesmo”, destaca a coordenadora artística do La Frida Bike, Jamile Santana, 26 anos, um dos projetos da Virada. Movimento de cicloativistas e feministas negras, o La Frida estimula a inclusão da mulher negra periférica nos planos de mobilidade urbana, através da bicicleta. “Vivemos em uma instituição racista que exclui a população negra”, justifica.
Em seguida destaca que as metrópoles são construídas “em uma perspectiva segregacionista”, com “as pessoas negras nas periferias e as pessoas brancas de classe média nos grandes centros”. Diante dessa e de outras questões, o La Frida propõe uma roda de conversa durante a programação da Virada, para falar sobre a mulher negra, o direito à cidade e a bicicleta como ferramenta de autonomia.
Chamado de Ciclovivências: Como a Bicicleta Mudou a Minha Vida, o evento acontece dia 1º de dezembro, às 16h, na Casa La Frida, no Santo Antônio Além do Carmo, com participações como a youtuber Nátaly Neri e a produtora e modelo Céu Bacelar. A ideia é falar sobre o bem- estar da mulher negra, “mais vulnerável, excluída e subalternizada nos espaços urbanos”, e valorizar a bicicleta como ferramenta de inclusão, a partir da autonomia.“A gente entende o bem-estar da mulher negra como esse lugar de se autogerir, de ter autocuidado e autoamor”, explica Jamile. “Ter autonomia é ter autoestima. A sensação de andar de bicicleta - por trabalhar a musculatura e liberar serotonina e endorfina no corpo - faz também com que você tenha essa sensação de alegria. Liberdade gera autoestima”, garante. Luma Nascimento, idealizadora do PresentYZmo (Foto: Mavi Morais/Divulgação) Narrativas Assim como o La Frida, o projeto PresentYZmo também questiona as desigualdades territoriais e sociais. Uma das 150 atrações da Virada, ele estimula a autonomia na cultura digital, especificamente de meninas, mulheres e jovens afrodescendentes. “Pessoas que ainda são afastadas dos acessos, do desenvolvimento artístico e da produção de narrativas a partir de suas reais vivências”, destaca a pedagoga Luma Nascimento, 27, idealizadora do PresentYZmo e vice-presidente do bloco afro Os Negões.
Durante a Virada, o projeto que acaba de nascer vai realizar um festival com projeções mapping, exibições de filmes, instalações, oficinas sobre cultura digital, rodas de conversa, brechó, shows e performances. No dia 29, por exemplo, a instalação artística SuperAfro vai marcar as ruas com sete lambe-lambes que homenageiam personalidades como Marielle Franco (1979- 2018) e Moa do Katendê (1954-2018).
Outro destaque são as oficinas com a fotógrafa Mavi Morais, criadas a partir do conceito “filme de celular” que busca incentivar pessoas a produzirem suas próprias narrativas com recursos acessíveis, como o celular e a criatividade de cada um. Um dos resultados da ação é a série de imagens feitas com a própria Luma, de roupa neon, pelas ruas de Salvador.
“Assumi o estilo neon para descrever o comportamento do visível ignorado por persistências sociais traduzidas em negação e desigualdades. Neon e fluorescente são diferentes, mas ambos ascendem no escuro. Estamos sempre visíveis”, garante. Além disso, Luma destaca que a ideia do PresentYZmo é estimular jovens afros a viverem o presente, o que se traduz em “sustentabilidade corporal e criativa em plenitude na autoconfiança e bem-estar no querer produzir algo”. Zumvi Arquivo Fotográfico reúne mais de 30 mil imagens (Foto: Lázaro Roberto/Divulgação) Memória Outro destaque da programação é a participação do Zumvi Arquivo Fotográfico, cujo acervo com mais de 30 mil fotos ilustra, revitaliza e preserva a memória da população negra baiana. Além de uma exposição no Forte de São Diogo, na Barra, a programação inclui, no dia 29, às 17h, uma roda de conversa com o fotógrafo, arte-educador e fundador do Zumvi, Lázaro Roberto, e com o doutor em Educação pela Universidade de São Paulo Edson Lopes Cardoso, do Irohin.
Com fotografias e jornais, o Zumvi e o Irohin contam a história negra a partir de imagens positivas. “O povo negro sempre tem a imagem associada a algo ruim, ao tráfico de drogas, à marginalidade, e o Zumvi e o Irohin tratam o negro a partir do aspecto afirmativo”, destaca o historiador José Carlos, um dos responsáveis pelo acervo do Zumvi e mestre em história da África, diáspora e dos povos indígenas, pela UFRB.A preservação da memória, segundo o historiador, está associada à autoestima. “A valorização da memória negra é a valorização do povo negro. A memória vem como elemento para construir essa imagem de poder. Isso está associação ao bem-estar, né? Você entender que você é alguém. A valorização da memória dá cidadania às pessoas”, resume José Carlos.Esse e outros tipos de bem- estar fazem parte da programação da Virada Sustentável, que vai muito além da ideia de meio-ambiente e entende que a sustentabilidade inclui um aspecto cultural importante. “É imprescindível que estejamos bem de saúde, mental, física e espiritual, e isso é fundamental para que a gente consiga buscar uma saúde coletiva”, destaca Alice Barreto, 36, condutora do Movimento Salvador Meu Amor, que corredena realiza o evento em Salvador. “Para além do meio- ambiente, é importante pensar esse fluxo de riquezas e relações em tudo o que a gente desenvolve na vida”, completa.
Criado em 2011, em São Paulo, pelo Instituto Virada Sustentável, o festival tem patrocínio da Braskem, via Lei Rouanet, e apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério do Meio Ambiente e Prefeitura de Salvador.
Outros destaques da Virada Sustentável
Tour Gastronômico na Feira de São Joaquim Roteiro da aula-tour inclui paradas em seis pontos da Feira, no dia 1º de dezembro, às 9h. O ponto de encontro acontece na Casa Rainha do Mar e passa por lugares como uma loja de artesanato tradicional, com bate-papo com o dono; e uma loja de acarajé. O tour segue por dentro do mercado do peixe, com um bate-papo antigos barraqueiros, e termina com um almoço de comidas típicas. Tour Gastronômico na Feira de São Joaquim (Foto: Léo Preto/Divulgação) Festival Afrobafo Roda de conversa “Deixa-me ser então” fala sobre racismo, machismo e homofobia na arte, com participação da poeta Lívia Natália e da contadora de histórias Helena Nascimento. Programação inclui intervençã do Coletivo Afrobapho (foto), da artista Ana Dumas e um pocket show com Visionárias da Quebrada. Dia 1/12, 14h30 às 20h, Teatro Gregório de Mattos. Festival Afrobafo (Foto: Maiara Cerqueira/Divulgação) Maratona de hows gratuitos Programação da Virada Sustentável reúne seis atrações em dois dias de shows no Anfiteatro Dorival Caymmi, no Parque da Cidade. No dia 1/12 tem apresentação de Pedro Pondé, às 11h, Zuhri, às 13h30, e Tássia Reis (foto), às 15h30. Já no dia 2/12, a programação conta com o OQuadro, às 11h, Larissa Luz (foto), às 13h30, e Àttøøxxá, às 15h30. Larrisa Luz, Àttøøxxá e Tássia Reis estão entre as atrações musicais da Virada Sustentável Serviço O quê: Virada Sustentável Quando: Do dia 29 ao dia 2/12 Onde: Vários espaços de Salvador como Parque da Cidade, Centro Cultural da Barroquinha, Lagoa do Abaeté,Parque São Bartolomeu, Solar do Unhão, Ladeira da Preguiça, Forte de Santa Maria Entrada gratuita Programação completa: www.viradasustentavel.org.br