Viúva de Marielle publica longo desabafo em rede social: '2.202 dias de espera'

Ela lembrou que um dos presos chegou a receber as famílias de Marielle e Anderson logo após o crime: 'sorriso cínico'

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Publicado em 24 de março de 2024 às 12:10

Marielle e Monica eram companheiras
Marielle e Monica eram companheiras Crédito: Reprodução

A viúva de Marielle Franco, a vereadora e arquiteta Monica Benício, escreveu um longo desabafo em suas redes sociais neste domingo (24), após a prisão de três suspeitos de participação no assassinato da parlamentar e do seu motorista, Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018.

No texto, Monica fala da longa espera até que o caso fosse desvendado. “Foram 2.202 dias de espera. Seis anos e 10 dias dessa dor que hoje não acaba, mas que encontra, finalmente, um momento de esperançar a justiça e paz, e isso é apenas uma parte do que Marielle e Anderson merecem. E nesse domingo chuvoso de março, a verdade começou a ser desvelada. O que, diante da nossa dor, é o tempo de uma vida inteira depois daquele 14 que marcou mais do que nossas vidas, marcou a nossa carne e o próprio Estado democrático de direito”, disse.

Foram presos neste domingo, operação da Polícia Federal, os supostos mandantes do crime: o deputado federal Chiquinho Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão, e o ex-chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, apontado como a pessoa que tentou obstruir a investigação.

Após a notícia da prisão, Monica foi à sede da Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, onde estão os três suspeitos. A viúva de Anderson, Agatha Arnaus, também foi à unidade.

Ainda em nota pública que lançou em sua rede social, Monica destacou o nome do ex-chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro. “Se o nome de integrantes da família Brazão não causa surpresa ao ser revelado, a investigação da Polícia Federal traz ainda mais um integrante desta odiosa trama: Rivaldo Barbosa, o então chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Seu nome anunciado mostra que a Polícia Civil não foi apenas falha, foi cúmplice deste crime. Rivaldo, que recebeu as nossas famílias logo após Marielle e Anderson serem assassinados, com o sorriso cínico que só as mais corruptas das burocracias podem produzir, nos dizendo que o caso seria uma prioridade máxima para ser solucionado o mais rápido possível. Seu nome envolto nessa execução brutal só demonstra o tamanho do abismo que vivemos no Estado do Rio de Janeiro, com instituições amplamente comprometidas nas teias mais podres do crime, da corrupção e do mercado de mortes”.

Leia a nota na íntegra:

Foram 2.202 dias de espera. 6 anos e 10 dias dessa dor que hoje não acaba, mas que encontra, finalmente, um momento de esperançar justiça e paz. E isso é apenas uma parte do que Marielle e Anderson merecem. Nesse domingo chuvoso de março, a verdade começou a ser desvelada. O que, diante da nossa dor, é o tempo de uma vida inteira depois daquele 14 que marcou mais do que nossas vidas - marcou a nossa carne e o próprio Estado Democrático de Direito.

A Polícia Federal realizou hoje uma operação para prender não um, mas três mandantes do assassinato brutal de Marielle e Anderson. Se os nomes de integrantes da família Brazão não causam surpresa ao serem revelados, a investigação da PF traz ainda mais um integrante desta odiosa trama: Rivaldo Barbosa, o então chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. O anúncio do seu nome mostra que a Polícia Civil não foi apenas falha, mas cúmplice deste crime.

Rivaldo, que recebeu as nossas famílias logo após Marielle e Anderson serem assassinados, com o sorriso cínico que só as mais corruptas das burocracias podem produzir, nos dizendo que o caso seria uma prioridade máxima para ser solucionado o mais rápido possível. Seu nome envolto nessa execução brutal só demonstra o tamanho do abismo que vivemos no Estado do Rio de Janeiro, com instituições amplamente comprometidas nas teias mais podres do crime, da corrupção e do mercado de mortes.

Um passo decisivo foi dado, mas a luta por justiça que nossas famílias travam nesses longos seis anos não termina na manhã de hoje. Não descansaremos até que haja, enfim, uma sentença. E iremos além. Não descansaremos até que todos os sórdidos poderes que dominam este Estado sejam, enfim, derrotados.

À Polícia Federal, ao Ministério da Justiça, e ao Governo Federal, ao Ministério Público do Rio de Janeiro e ao Ministério Público Federal, expressamos o nosso mais profundo reconhecimento pelo compromisso de fazer valer este sopro de esperança. Há luta pela frente, e estaremos cada vez mais fortes para enfrentá-la.

Hoje vence a democracia. Hoje Marielle e Anderson começam a ter justiça por suas vidas ceifadas. Não descansaremos até que a justiça seja feita de forma plena. Por Marielle e Anderson, por nossas famílias, pela democracia do Brasil.

Monica Benicio, viúva de Marielle Franco, e Agatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes