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Editais vão fomentar recuperação da biodiversidade na Amazônia, Mata Atlântica, cerrado e caatinga

No Norte do Brasil, objetivo é transformar arco da destruição em área de restauração

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 16 de maio de 2024 às 14:00

Encontro reúne representantes da América Latina e Caribe Crédito: Donaldson Gomes/CORREIO

Não basta ser verde e capturar carbono para ser sustentável, este foi o alerta que Tereza Campello, diretora socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) durante um painel na 54ª Reunião Anual dos da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide). A executiva, que já foi ministra do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil, alertou que, mais do que medir pegada de carbono, é importante que as instituições financeiras de fomento ao desenvolvimento atentem para a preservação e a recuperação da biodiversidade.

Entre as iniciativas do Bndes neste sentido, ela ressaltou linhas de crédito para o restauro das florestas Amazônica e Mata Atlântica, das áreas de caatinga e do cerrado brasileiro. Na Amazônia e Mata Atlântica, o objetivo é viabilizar a recuperação de 6 milhões de hectares, transformando a área que hoje é conhecida como o arco da destruição no arco da restauração. “O desafio do mundo não é só reduzir as emissões. Temos que começar a capturar carbono. A única tecnologia em escala no planeta para isso é plantação de árvores, é o restauro florestal”, avaliou.

No início deste ano, o Bndes anunciou a destinação de R$ 187 milhões para restaurar 15 mil hectares de florestas na Amazônia e na Mata Atlântica. No final do ano passado, foram anunciados também R$ 42 milhões, através do edital Floresta Viva, para áreas do cerrado e do Pantanal. Segundo Tereza Campello, neste edital as áreas de cerrado na Bahia não foram incluídas, mas a previsão é de ampliação das ações. Para a caatinga, foram R$ 50 milhões. “Queremos fazer um trabalho de recaatingamento”, explicou.

“Acho que ter a biodiversidade no centro do debate é algo fundamental. A emergência climática acabou apagando, ou diminuindo este debate sobre a diversidade”, avaliou. Para ela, a facilidade para medir as emissões e captura de carbono tornaram o cálculo o centro das discussões e escantearam a biodiversidade. “Se tudo for carbono equivalente, vamos cometer erros gravíssimos, com impactos terríveis no médio e longo prazo”, alertou. “A perda de biodiversidade e seus impactos estão sendo menosprezados”.

Para ela, a agenda da biodiversidade nos bancos de desenvolvimento deve atender a três frentes de trabalho: evitar financiar iniciativas que substituam matas nativas e expulsem populações locais; criar salvaguardas com base no histórico dos territórios; e induzir ações consideradas estratégicas no fortalecimento da biodiversidade.

“Produzir soja em áreas que antes eram degradadas captura carbono, mas é verde? Nosso papel é o de induzir o desenvolvimento, não simplesmente avaliar se está emitindo ou não”, acredita.

Para o diretor de planejamento do BNB, José Aldemir Freire, o diálogo com as comunidades é um passo fundamental nas discussões sobre a preservação da biodiversidade. Ele citou como exemplo a atuação do banco em projetos voltados para a transição energética. “Nós temos uma participação importante em projetos para a produção de energia eólica e solar. Precisamos dialogar sobre o desmatamento e sobre os incômodos que são trazidos por algumas iniciativas”, diz. Segundo ele, o BNB já trabalha com a ideia de incorporar as comunidades locais mais intensamente nas discussões.

Na abertura da Alide, na última quarta-feira (dia 15), o presidente do BNB, Paulo Câmara, destacou a importância do financiamento dos bancos de desenvolvimento para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. “Tenho plena convicção de que juntos construiremos um futuro melhor para os nossos países e para toda a região”, destacou.

“O tema central desta reunião, ‘O financiamento do desenvolvimento face aos atuais desafios globais’, é de extrema relevância para o momento que vivemos. Em um contexto internacional marcado por incertezas e instabilidades, torna-se ainda mais relevante que as instituições financeiras de desenvolvimento unam forças e busquem soluções inovadoras para superarmos os obstáculos e construirmos um futuro mais próspero para nossos povos”, afirmou o presidente do Banco do Nordeste.

O jornalista Donaldson Gomes está em Fortaleza (CE), acompanhando o encontro a convite do BNB.