Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2024 às 21:23
Os investigadores, que apuram a fuga de dois detentos no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, disseram que relatórios de inteligência de 2021 e de 2023 alertaram o Ministério da Justiça sobre problemas na penitenciária.
Segundo a investigação revelada pela imprensa nacional, os dois fugitivos usaram uma barra de ferro retirada da estrutura da própria cela para escavar o buraco da luminária pelo qual conseguiram escapar.
A suspeita é de que os detentos conseguiram a barra de ferro, de cerca de 50 centímetros, descascando parte da cela que já estava comprometida. As paredes das celas já estavam danificadas pela umidade. Isso porque os locais não passavam por manutenção havia muitos anos.
Neste domingo (18), em entrevista à imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “parece que teve a conivência de alguém do sistema” na fuga.
“Eu não quero acusar, mas, teoricamente, parece que teve a conivência com alguém do sistema lá dentro. Como eu não posso acusar ninguém, eu sou obrigado a acreditar que uma investigação (que) está sendo feita pela polícia local, pela Polícia Federal, nos indique, amanhã ou depois de amanhã, o que aconteceu no presídio de Mossoró”, afirmou o petista, em Adis Abeba, capital da Etiópia, onde participou no final do semana da 37ª Cúpula da União Africana.
Lula declarou ainda que pediu ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que seja investigada a possível participação de funcionários da penitenciária.
“Obviamente que nós queremos saber como é que esses cidadãos cavaram um buraco e ninguém viu. Só faltaram contratar uma escavadeira”, ironizou o petista.
Ao jornal O Globo, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Francisco Augusto Cruz de Araújo, falou sobre a segurança do presídio e disse que não é possível sair da unidade prisional sem que haja facilitação por parte de algum funcionário. Ele deu aulas por dois anos dentro da Penitenciária Federal de Mossoró.
“A penitenciária de Mossoró é um presídio perfeito, tudo é feito para funcionar. Nada de metal tem a entrada permitida, nem zíper ou botões, e os próprios policiais penais são obrigados a passar por detectores na entrada e na saída, como em um aeroporto. Até o diretor da penitenciária passa por esse procedimento. Existem portões à prova de explosões, cercas eletrificadas, em todo canto há câmeras, é um Big Brother”, contou.
“Acredito muito na hipótese de que houve facilitação por parte de alguém lá de dentro para que ocorresse uma fuga. Possivelmente, algum funcionário foi coagido, teve um parente sequestrado. Não subestimo o poder das organizações criminosas em fazer coisas inimagináveis. Mas não acredito em fuga comprada”, acrescentou.
Visita
Inédita no sistema penitenciário federal, a fuga ocorreu na madrugada da Quarta-feira de Cinzas, após o feriado de carnaval. A unidade de segurança máxima foi inaugurada em 3 de julho de 2009 e projetada para receber até 208 presos. Os fugitivos foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho. Segundo as investigações, eles são ligados à facção criminosa Comando Vermelho.
Neste domingo, o ministro da Justiça desembarcou na cidade de Mossoró. Ao lado da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), Ricardo Lewandowski afirmou que a expectativa é recapturar os fugitivos em breve.
“Minha presença é para mostrar que o governo federal está presente aqui, prestigiando as autoridades locais, para que possamos resolver esse problema que surgiu”, declarou.
O ministro ressaltou ainda que a fuga foi pontual e não afeta a segurança do sistema. “É um problema que, tenho que dizer, não afeta em hipótese nenhuma a segurança das cinco unidades prisionais federais. É um problema localizado e que será superado em breve com a colaboração de todos”, garantiu o ministro.
De acordo com ele, a região possui amplas áreas de mata e inclusive cavernas, o que prejudica o uso de detectores de calor para prender os fugitivos. “Soube agora e vi pelas fotos aéreas que é uma região que tem grutas, em que as pessoas podem eventualmente se esconder”, relatou.
O ministro da Justiça e Segurança Pública reforçou as indicações das autoridades policiais. “O terreno é difícil, as condições são desfavoráveis, teve uma enxurrada torrencial, que apagou rastros, portanto a questão de prazo e dias é algo que não podemos precisar”.
De acordo com Lewandowski, as autoridades acreditam que os fugitivos ainda se encontram num raio de 15 quilômetros a partir da penitenciária.
As buscas aos detentos envolvem cerca de 300 agentes de segurança, além de helicópteros e drones, com equipes especiais da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.
A governadora Fátima Bezerra argumentou que, apesar de o presídio ser uma unidade do governo federal, é preciso união para que os criminosos voltem à prisão.
“É muito importante a presença do ministro da Justiça em nosso Estado. Nosso foco é na captura dos fugitivos, isso não é um favor, é um dever. Somos um sistema único de segurança pública”, salientou.