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Estadão
Publicado em 13 de janeiro de 2024 às 05:00
Após 12 dias de buscas, o helicóptero que desapareceu com quatro pessoas no dia 31, véspera de Réveillon, foi localizado na manhã de sexta-feira (12). Todos os quatro ocupantes foram encontrados mortos nos arredores da aeronave, que se destroçou com a queda.
Segundo a Polícia Militar, o helicóptero foi localizado pelo Águia 24 em uma área de mata na região em Paraibuna. "É fechada, densa, úmida. Ela é quente durante o dia e fria à noite. E é muito difícil de se locomover dentro dela. Há ainda muitos animais e insetos", disse, ao Estadão, o tenente da Defesa Civil Estadual Ramatuel Diego Dantas Silvino.
A Força Aérea Brasileira (FAB) e a Polícia Militar procuravam pela aeronave com foco na região da Serra do Mar. Após mais de 60 horas de voo por uma área de milhares de km2 que cobriu as regiões de Paraibuna, Natividade da Serra, Redenção da Serra, Serra do Mar de Caraguatatuba e São Luiz do Paraitinga, as autoridades mudaram a estratégia na quinta-feira (11).
Com base na triangulação do sinal de antenas de celulares, foi definida nova abordagem. Em vez de fazer voos mais rápidos, para cobrir uma área maior, as equipes passaram a fazer voos em velocidade e altura menores, em área delimitada, segundo a PM.
Entre os passageiros da aeronave estavam Luciana Rodzewics, de 46 anos, e sua filha, Letícia Rodzewics Sakumoto, de 20 anos. Além delas, estavam no helicóptero o piloto Cassiano Teodoro, 44 anos, e um amigo da família, Rafael Torres, de 41 anos.
O helicóptero, de prefixo PR-HDB e modelo Robson 44 (de cores cinza e preto), decolou no dia 31, às 13h15, no Aeroporto Campo de Marte, zona norte da capital paulista. O último contato oficial com a aeronave ocorreu às 15h10.
Segundo a PM, foi gerado um alerta, por volta das 22h40 do próprio domingo, para o Comando de Aviação e para o Corpo de Bombeiros para possível queda de helicóptero. A aeronave desapareceu no caminho para Ilhabela, no litoral norte paulista.
Na quinta, após autorização da Justiça, os policiais da Unidade de Inteligência do DOPE obtiveram acesso à localização de antenas (ERBs) dos celulares. "Foi localizado o sinal de um novo aparelho, de um dos desaparecidos, na mesma região onde o primeiro foi localizado, no dia 1º", afirmou a Secretaria da Segurança Pública. A Polícia Civil afirma que não foi realizada a interceptação telefônica de áudio, dados telemáticos, ou mensagens de texto dos ocupantes da aeronave.
O helicóptero chegou a fazer um pouso de emergência durante a tarde do mesmo dia em uma área de mata, segundo imagens enviadas por Letícia ao namorado. "Pousamos", enviou depois em mensagem de WhatsApp. "Tempo ruim", "não dá para passar" e "medo" foram algumas das atualizações da jovem sobre a viagem.
Antes de deixar de responder, ela também mandou um vídeo da neblina na região e relatou ainda que a aeronave iria voltar para a capital, por conta da dificuldade de chegar até Ilhabela.
As chuvas que atingiram a região de Paraibuna, durante toda a sexta-feira (12), atrapalharam o resgate dos corpos. Como se trata de uma área de mata fechada, o plano inicial era recuperá-los por aeronaves. Mas a área não é homologada para sobrevoos e esse a missão só poderia ser feita em boas condições climáticas. Com as chuvas, o plano de resgate aéreo foi suspenso durante a tarde.
A nova alternativa foi mandar equipes por terra, mas para chegar à área do acidente são 40 minutos de carro, partindo da rodovia e mais de 40 minutos por trilha a pé.
Os corpos devem ser levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Jacareí, no interior paulista, e encaminhado para os sepultamentos entre sábado (13) e domingo (14).
Outras duas ocorrências com helicópteros chamaram atenção neste começo de ano: uma no Maranhão e outra em Minas Gerais. No total, seis pessoas morreram e três ficaram feridas. A recorrência despertou a preocupação de passageiros e profissionais do setor.
Dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da FAB apontam o registro, em 2023, de 15 acidentes de helicóptero, com dez mortes. O número é menor dos que os 20 acidentes de 2022, que também somaram dez mortes. Nos últimos dez anos, foram 167 ocorrências, com 136 óbitos.
A Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe) disse que a ocorrência de três acidentes em curto prazo de tempo é atípica, já que os registros estão em queda nos últimos anos.
O Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), do Cenipa, aponta o “desempenho técnico do ser humano” como causa de 47,7% dos acidentes com helicópteros, sendo que a perda de controle do aparelho em voo responde por 30% das ocorrências. A análise destaca falhas no julgamento do piloto e na manutenção da aeronave, além de erro na aplicação de comandos.
Entre os passageiros, estavam duas mulheres (mãe e filha), além do piloto e de um amigo da família. São eles: Luciana Rodzewics, Letícia Rodzewics Sakumoto, Rafael Torres e o piloto Cassiano Teodoro.
Segundo familiares, Luciana e Letícia embarcaram a convite do amigo Rafael. Elas moravam na zona norte de São Paulo. "A Letícia tomou café com a minha mãe no domingo, dia 31, e falou que previa voltar para almoçar. O convite deve ter surgido no meio disso. Era para ser bate a volta", disse ao Estadão a vendedora Silvia Santos, de 43 anos. Moradora do bairro do Limão, na zona norte paulistana, ela é irmã de Luciana e tia de Letícia.
Ela afirmou que a irmã e a sobrinha nunca tinham feito um passeio de helicóptero antes. "Mas elas gostam de adrenalina, por isso devem ter se animado com o convite", afirmou.
Empresária, Luciana possuía uma loja de roupas e sapatos. Já a filha Letícia era proprietária de um salão de cabeleireiro. Amigo de Luciana, Rafael atuava no ramo de venda de medicamentos em São Paulo e possuía residência na cidade litorânea. Ele deixa dois filhos, um de 16 e outro de 6 anos.
Já o piloto Cassiano era sócio da CBA Investimentos, dona do helicóptero que caiu, junto da empresa RGI Locações.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que Cassiano teve sua licença e todas as habilitações sumariamente cassadas pela agência em 15 de setembro de 2021 por condutas infracionais graves à segurança da aviação civil. Segundo a agência, ele foi cassado em decorrência, entre outros motivos, de evasão de fiscalização, fraudes em planos de voos e práticas envolvendo transporte aéreo clandestino.
Em outubro de 2023, após observar prazo máximo legal para a penalidade administrativa de cassação, que é de dois anos, o piloto retornou ao sistema de aviação civil ao obter nova licença com habilitação para Piloto Privado de Helicóptero (PPH). Essa licença não dá autorização para realização de voos comerciais de passageiros.