"A tragédia estava acontecendo na minha família", diz mãe de Isabella Nardoni

Carolina é uma das entrevistadas no documentário da Netflix que traz novas versões sobre o assassinato

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  • Mari Leal

Publicado em 18 de agosto de 2023 às 06:01

Isabella: o Caso Nardoni. Isabella Nardoni in Isabella: o Caso Nardoni. Cr. Courtesy of Netflix © 2023
Isabella foi jogada do sexto andar pelo pai e pela madrasta  Crédito: Netflix

Fosse nos dias atuais, a pergunta “quem matou a menina Isabella?” certamente seria o assunto mais comentado em todas as redes sociais, além de se tornar a agenda do dia – e de meses – do noticiário. Fora a comoção via redes sociais, que em 2008 não alcançava tantos usuários e na velocidade atual, a morte de Isabella Nardoni, de 5 anos, ocorrida em 29 de março, realmente se transformou no principal assunto do país, chegando mobilizar milhares de pessoas nas ruas.

Isabella passava uns dias na casa do pai quanto caiu do sexto andar de um prédio de classe média de São Paulo. Deu-se, então, o cenário. De uma lado, Alexandre Nardoni, à época com 29 anos, pai da vítima, e Anna Carolina Jatobá, madrasta da criança, que logo se tornaram os principais alvos da investigação e da opinião pública. Do outro, Carolina Oliveira, uma mãe jovem e devastada, em busca de justiça pela perda trágica de sua única filha.

Quinze anos após a morte precoce de Isabella, o caso volta ao público em documentário que chegou nesta quinta (17)  à Netflix. Isabella: O Caso Nardoni é mais um na onda true crime. O longa segue a receita clássica, remontando as sequências de fatos, resgatando entrevistas e reportagens da época, confrontando-as com entrevistas atuais de atores envolvidos no processo – delegadas, peritos, promotor, vizinhos etc. No combo de entrevistas, detalhes inéditos são revelados por Carolina e pelos avós maternos.

Carolina Oliveira dá detalhes sobre o dia do crime
Carolina Oliveira dá detalhes sobre o dia do crime Crédito: Netflix/Divulgação

Espetáculo e comoção

Carolina Oliveira narra em detalhes tudo que viveu do momento em que recebeu a notícia até a confirmação da morte da criança, já no hospital. Ela estava em um churrasco quando recebeu uma ligação. Imediatamente, ligou para a mãe, Rosa Oliveira.

Na companhia da mãe e do pai, José Arcanjo, Carolina foi ao Edifício London, onde ainda encontrou a filha com sinais vitais no gramado em frente ao prédio. “Ainda tive esse alento de encontrá-la respirando. Naquele momento não questionei o que aconteceu. Só queria socorro”, relembra, em depoimento cheio de emoção.

O roteiro refaz os passos da investigação, as inconsistências na versão apresentada pelos suspeitos, as narrativas da imprensa, que cobriu o caso de forma espetacularizada e insistente, e, claro, como a comoção popular se transformou em elemento de pressão por respostas e punição.

Enquanto a família materna acreditava e lidava com a situação como um acidente, o pai e a madrasta tentaram, desde o início, emplacar a morte como crime. A narrativa era de que um ladrão havia invadido o apartamento e jogado a criança pela janela do quarto onde dormia.

O laudo apontou que Isabella morreu em decorrência de politraumatismo, antecipado por asfixia. O corpo possuía um ferimento na testa, face e unhas azuladas, além de uma pequena hemorragia no cérebro. Tal qual relembra o documentário, já na primeira visita ao apartamento, a equipe de investigadores encontrou pingos de sangue na entrada do imóvel. A (des)organização encontrada colocou em dúvida a alegação de invasão. A rede de proteção foi cortada momentos antes de a criança ser lançada.

A possibilidade de que o pai da menina estivesse diretamente envolvimento com a morte não passava pela cabeça da família materna no início das investigações. “Começaram as notícias, investigações. Choque em cima de choque. De repente a televisão. A tragédia estava acontecendo na minha família”, declara Carolina ao revelar a brusca mudança na rotina.

Pesquisa intensa

O filme tem direção de Micael Langer e Claudio Manoel. Em um intenso trabalho de pesquisa, a equipe chegou a acessar cerca de 5 mil fotos da mídia e de acervo pessoal da família Oliveira. Mais de 100 horas de entrevistas foram gravadas com o objetivo de ajudar o público a entender melhor o crime de forma global. A produção reproduziu a planta baixa do apartamento onde Alexandre e Anna Carolina viviam com os filhos.

Alexandre e Anna Carolina foram julgados e condenados a 31 e 26 anos de reclusão, respectivamente. O pai cumpre a pena em regime semiaberto desde 2019, enquanto a madrasta de Isabella deixou a cadeia em junho deste ano e segue em regime aberto. O casal e seus familiares não aceitaram dar entrevistas à produção do documentário.