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Gabriela Araújo
Publicado em 25 de fevereiro de 2025 às 08:00
Se a palavra determinação fosse uma pessoa, ela certamente seria como Venuz Lee, baiana, 22 anos, que está escrevendo uma história de sucesso na moda internacional e na música. Cria do bairro de Pero Vaz, em Salvador, ela já cruzou passarelas para grandes grifes e estampou editorias da Vogue Filipinas e ELLE França. Com tudo isso, entre um clique e outro, a jovem ainda lançou um EP que mistura trap e rock. >
Aos 13 anos, inspirada por um primo, que costumava reunir amigos em casa para batalhas de rima, ela começou a trilhar seu caminho no universo dos MCs. >
Venuz Lee,
modelo e cantoraNa época, ela era uma das poucas meninas nas batalhas. Em razão disso, enfrentou desafios que ultrapassaram os limites da competição. “Muitas vezes, eu recebia rimas machistas, misóginas, mas isso não me parou. Com o tempo, fui vendo outras mulheres, como eu, entrarem no mesmo movimento”, relembrou. >
Em 2019, no Duelo Nacional de MCs, Venuz ficou entre os quatro melhores da Bahia. No meio de versos improvisados e enfrentamentos verbais, ela descobriu um amor pela música. Seu mais recente lançamento, o EP “Eu Escuto Pitty, Mano”, é uma fusão entre os gêneros trap e rock, além de uma homenagem à cantora baiana. >
“Quando eu me lembro das melhores e piores épocas da minha vida, eu só consigo ligar a ela, porque, eram os momentos que eu ouvia a música e sentia alguma coisa. Sentia que a vida fazia sentido, e a música dela me fez ter esse sentimento. Então, é um EP mais voltado à nostalgia”, detalhou. >
Nem sempre os caminhos do sucesso são lineares, e Venuz é a prova viva disso. Hoje, ela brilha entre os grandes nomes da indústria, mas sua trajetória foi marcada por desafios desde cedo. Aos 17, após ser recrutada por uma agência de modelos, viveu sua primeira experiência na moda. No entanto, em uma viagem a trabalho para a Argentina, a realidade foi bem diferente do que imaginava. >
Diante das pressões psicológicas e dos impactos que traziam para sua saúde, ela tomou uma decisão corajosa: deixar tudo para trás e voltar ao Brasil. O retorno foi marcado por obstáculos financeiros. Muitas vezes, a única opção de alimento em casa era ovo. Mesmo assim, sua avó, Iraci Cosma, a quem tem como mãe, fazia de tudo para transformar as refeições em algo especial. >
“Minha mãe sempre foi uma pessoa muito otimista, muito maravilhosa. Ela usava toda uma situação ruim e tirava algo bom daquela situação. Então, ela fazia ovo de várias formas diferentes. Fazia omelete um dia. No outro dia, fazia moqueca de ovo. No outro, uma farofa. Sempre inovava. Eu via que, para mim, para a idade que eu tinha, aquilo estava bom, eu podia lidar com aquilo, mas a minha mãe, prestes a fazer 60 anos... Eu falava: ‘nossa, eu tive uma grande oportunidade e joguei tudo fora por não saber lidar com os meus sentimentos, não saber que eu precisava enfrentar batalhas para chegar em algum lugar”, relatou. >
Essa realidade foi o divisor de águas na vida da modelo. Vendo os esforços da mãe, encontrou forças para reescrever sua história e, em 2021, voltou a investir na carreira. Desta vez, as portas começaram a se abrir, e a jovem passou a colecionar trabalhos para marcas como Valentino, Loewe e JW Anderson. “Sou muito grata a meu pai Oxalá, que rege a minha cabeça, e muito grata a Exu, que abre os meus caminhos sempre”, destacou.>
Aos jovens que também sonham com as passarelas, Venuz aconselhou: “Às vezes, o raio cai duas vezes no mesmo lugar. Então, é a importante ter persistência para que a gente consiga chegar em algum lugar. Nem sempre, a gente consegue as coisas de primeira. Às vezes, a gente tem que lutar muito para alcançar alguma coisa que está lá na frente”. >