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Priscila Natividade
Publicado em 21 de novembro de 2020 às 14:37
- Atualizado há 2 anos
A embarcação que já transportou até 600 passageiros por viagem de Salvador até Itaparica durante 45 anos vai se transformar agora em morada de peixes, corais e também em mais um atrativo para fomentar o turismo náutico na Baía de Todos os Santos.
O afundamento assistido do ferry-boat Agenor Gordilho e do rebocador Vega aconteceu na manhã de hoje (21), nas imediações do Yacht Clube da Bahia e tem como objetivo incentivar as atividades de mergulho na região. Desativado desde o final de 2017, o ferry mais antigo do sistema custava R$ 10 mil mensais ao estado, como pontuou o secretário de estadual do Turismo, Fausto Franco.“A gente está fazendo hoje o primeiro afundamento de um ferry no Brasil com propósito turístico e com isso, fomentar mais do que nunca essa atividade porque atrai um público de alto padrão. Temos todo o potencial aqui para fazer isso. Precisamos nos apropriar do termo Amazônia Azul e usar esses artifícios a favor do turismo, gerando emprego e renda”, afirmou. Existem, atualmente, 20 pontos de naufrágio na Baía de Todos os Santos (BTS). O mais antigo deles é Galeão Sacramento, que completou 352 anos. Ainda de acordo com o secretário, a próxima embarcação com naufrágio assistido será o ferry Juracy Magalhães. “Muito em breve esta será a próxima embarcação que vai ser naufragada, assim como outros ferrys que estão subutilizados e não faz mais sentido reformá-los”.
Óleos e combustíveis da embarcação foram removidos para atender às especificações ambientais do naufrágio controlado, assim como peças que oferecessem riscos aos mergulhadores. A operação teve início às 6h30, com a saída do ferry de Bom Despacho para a área do naufrágio. As embarcações vão submergir a uma profundidade aproximada de 36 metros. Por volta das 11h as comportas do Agenor Gordilho foram abertas. O navio levou 1h30 para naufragar.
A expectativa é de que na próxima semana já sejam realizadas atividades de mergulho no local. O ponto de afundamento fica exatamente a 1,5 quilômetro da costa. “Mercadorias, pessoas, ideias, circularam aqui na Baía de Todos os Santos com força e com intensidade ao longo dos tempos”, destacou o historiador Rafael Dantas, que fez questão de acompanhar o afundamento da embarcação de perto neste sábado.“Ela guarda além de toda essa história de ser uma das maiores baías do mundo, uma beleza natural absurda, não só visível na superfície como também, no fundo do mar, belíssimos corais, espécies marinhas e, evidentemente, os naufrágios que ajudam a contar a história não só da cidade, mas do Brasil e as relações de Salvador com o mundo”, completou.Fundo do mar Com 71 metros de comprimento e 19 metros de altura, o ferry Agenor Gordilho foi construído no Rio Grande do Sul e fez a primeira viagem no Sistema Ferry Boat no dia 5 de dezembro de 1972. Ele recebeu esse nome em homenagem ao empreendedor industrial que incentivava o cuidado com a Baía de Todos os Santos. “Vovô era um empresário, um visionário. Ele deu nome ao primeiro ferry-boat e agora está se eternizando num momento em que estamos alavancando um projeto de turismo no estado da Bahia”, disse Claudia Gordilho, que também viu o naufrágio.
O afundamento que estava previsto para acontecer no ano passado havia sido suspenso em outubro, por conta de exigências das Normas da Autoridade Marinha (Normam) e das manchas de óleo que atingiram o litoral da Bahia no mesmo período. Os trabalhos para o naufrágio assistido começaram há dois anos, como explicou o engenheiro Fernando Clark, da Engesub Serviços Subaquáticos Eirelli, empresa responsável pelos estudos técnicos para o afundamento controlado.
“Os estudos ambientais levaram cerca de seis meses. A limpeza é que levou mais tempo, até que todo processo ficasse pronto em 2019. Um navio desse tamanho nunca foi afundado, mas o processo ocorreu tranquilamente hoje, a chuva não atrapalhou. Essa experiência do afundamento já foi testada e aprovada em Recife e em outros lugares do mundo e a Bahia passa a ser o segundo lugar do país a fazer isso acontecer”.
A partir do primeiro ano depois do afundamento, o navio deve estar coberto por corais e outros biomas marinhos. Clark comentou também quais as diferenças entre um naufrágio comum e um assistido.“O afundamento comum, ele vai afundar com motor, combustível, carga, o que acaba provocando danos ambientais. Já o assistido, a gente tem o controle sobre isso. Removemos todo o amianto e qualquer outra coisa que poderia causar algum problema ao meio ambiente”, acrescentou.Investimentos A operação de afundamento envolveu ainda a Marinha e as secretarias do Meio Ambiente (Inema), Infraestrutura (Agerba) e Administração (Patrimônio), além da Setur. O naufrágio coincide com fase importante do Prodetur Nacional Bahia. O programa de valorização do turismo náutico executado pela Setur com financiamento do BID, prevê um investimento de U$76 milhões de dólares na requalificação da Baía de Todos os Santos. O projeto conta ainda com a realização de 12 intervenções náuticas e uma cultural.
Para o presidente do Salvador Destination, Roberto Duran o afundamento do ferry boat, só tem a agregar ao potencial econômico da Baía de Todos os Santos. “Não tenha dúvida que o afundamento e mais um rebocador é mais um incremento, onde vai se formar ali todo um ambiente, uma vida marinha, propícia à visitação, a um mergulho de observação, o que é um grande de indutor de turismo no mundo. Além de águas ideais para isso, esse sítio está sendo criado muito mais próximo da costa e com fácil acesso para observação marítima”.