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Gabriel Amorim
Publicado em 13 de maio de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
O bairro da Pituba segue liderando o número de casos confirmados de coronavírus em Salvador. Desde o começo da pandemia, o local registrou 78 diagnósticos positivos para a doença, de acordo com boletim publicado nessa terça-feira (12) pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Houve um aumento de mais de 1.500% na comparação com os primeiros cinco casos reportados na região, em 22 de março.>
Por lá, ainda ocorreram seis mortes em decorrência da enfermidade, de acordo com o titular da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), secretário Fábio Mota. A liderança do bairro na quantidade de casos foi um dos motivos que levaram a Pituba a ser o quarto local escolhido para sofrer restrições mais duras por parte da Prefeitura, medidas adotadas a partir desta quarta-feira (13).>
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No primeiro boletim, divulgado em 22 de março, eram cinco casos. Exatamente um mês depois, já eram 46 doentes, um crescimento de 820%. Agora, 78 casos, o que equivale a 1.560% de crescimento.>
Na soma dos casos de coronavírus no mês de maio, o bairro fica em segundo lugar, com 24 casos confirmados da enfermidade no período, atrás apenas de Plataforma, com 28 doentes.>
De acordo com o secretário Fábio Mota, a média diária de confirmações de pacientes acometidos com a enfermidade é de 2 casos. Nesta terça, foi registrada mais uma infecção no bairro. “A Pituba tem o segundo maior crescimento de casos na cidade”, afirmou o gestor.>
Entre os dias 1º e 5 de maio, o bairro registrou 10 casos confirmados. O número saltou para 11, depois 18, seguido de 23 confirmações, até chegar ao único caso desta terça, de acordo com Mota. >
Ainda segundo ele, a decisão de aplicar medidas mais restritivas na Pituba é fruto da análise dos dados do coronavírus na região.“Cruzamos esses dados. O prefeito me deu essa coordenação de trabalho. Quando analisamos os dados, é possível perceber que a Pituba tem um contexto preocupante. Por esse motivo, a necessidade de aplicar as restrições para tentar inibir o crescimento do número de casos de coronavírus”, explicou o secretário.A circulação de carros no bairro também chamou a atenção da prefeitura. Em comparação com um dia normal antes da pandemia, houve uma redução de apenas 15% no fluxo de veículos durante a quarentena. Do começo das medidas de isolamento até esta terça, o movimento no transporte público saltou de 27% para 35% do que era comum antes da pandemia. Para Mota, os dados são considerados preocupantes.>
Estabelecimentos do bairro ainda receberam 34 notificações e 30 interdições por descumprimento de decretos da prefeitura. >
Limites Antes de mostrar o que a Pituba tem, vale determinar suas 'fronteiras'. Chama-se Pituba toda a área que vai desde o cruzamento das avenidas Magalhães Neto e Tancredo Neves até a Avenida Manoel Dias da Silva. A rua Fernando de Noronha divide a Manoel Dias entre Pituba e Amaralina.>
Na orla, uma das regiões do bairro que mais sofrerá mudanças com as intervenções, faz parte da Pituba toda a extensão que começa logo antes da passarela de pedestres que dá início ao Costa Azul e termina no cruzamento da Otávio Mangabeira com a própria rua Fernando de Noronha - a esquina da Perini. >
Segundo os dados divulgados pelo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, o bairro é o 18º em tamanho e o 3º em população, entre as regiões da capital. São 3,79 km² e 65.160 moradores. Pituba tem aglomeração em praças da orla (Foto: Marina Silva/CORREIO) Comodidade A possibilidade de acessar vários serviços sem precisar ir muito longe é o que mais conta para quem escolheu a Pituba para morar. Na opinião dos ‘pitubenses’, a mesma característica também pode ter contribuído para um grande número de casos da doença provocada pelo novo coronavírus. “Desde que me aposentei, vendi o carro pra fazer tudo andando. Aproveito para fazer atividade física e acabo diminuindo os gastos. Com a pandemia, estou preferindo o delivery, mas tenho muitos vizinhos que seguem caminhando”, acredita a aposentada Rita Lemos, 64. >
O universitário Felipe Reis, 24, que mora no bairro desde a infância, demorou um pouco para mudar os hábitos. “Demorei um pouco pra entender realmente a gravidade da situação e recorrer a vídeo aulas em casa para seguir com os exercícios ao invés de ir para orla”, diz ele. “Troquei a corrida na orla por correr na ladeira da garagem do meu prédio mesmo”, diz a dentista Renata Braga, 31. >
Fazenda “A Pituba virou um bairro central da cidade. É um processo de ascensão que já vem acontecendo há um tempo, de forma natural. Conta muito, além de uma ótima infraestrutura, o fato de ser um bairro relativamente plano”, comenta o corretor José Alberto Vasconcelos, diretor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis. Com vasta experiência no ramo, Alberto destaca detalhes da história do bairro. >
“Foi por volta dos anos 80 que a Pituba começou a crescer. Historicamente era uma fazenda loteada, com uma residência por lote, era uma região com muitas casas. Cresceu quando foi autorizada a verticalização da região”, completa. A década de 80 foi o momento em que o bairro começou a se consolidar. >
O estudo Caminho das Águas em Salvador publicado em 2010 e coordenado pela professora Elisabete Santos, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), conta um pouco da história do bairro. “Até o fim do século XIX, a Fazenda Pituba, em sua porção litorânea, tinha um grande coqueiral com produção agrícola no seu interior e com pouca inserção no contexto urbano da cidade de Salvador”, diz o livro.>
“Mesmo na década 1950, depois da construção da Igreja Nossa Senhora da Luz, substituindo a capela local (existente desde o século XVII), e do início das obras do Colégio Militar, em 1958, o bairro ainda tinha a configuração de um vasto campo. Foi na década de 1960 que a Pituba realmente se inseriu no contexto urbano da cidade. Em 1960, através da Lei 1.038, tornou-se bairro do subdistrito de Amaralina. Em 1965, foi feita a pavimentação da Avenida Paulo VI e em 1968 foi construída a Avenida Antônio Carlos Magalhães e o logradouro que hoje é a Avenida Tancredo Neves”, detalha o estudo.>
O livro conta, ainda, a origem da palavra Pituba, que vem do tupi e quer dizer brisa, sopro, hálito, bafo. "Além de substantivo, Pituba também pode ser um verbo transitivo, e neste este caso significa: untar, tingir, ou estranhamente, cansar, resfolegar", completa a pesquisa.>
*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco, com a colaboração de Marina Hortélio.>