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Da Redação
Publicado em 16 de abril de 2020 às 16:21
- Atualizado há 2 anos
O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi demitido do cargo nesta quinta-feira (16), depois de uma longa sequência de confrontos com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao modo de tratar a pandemia da covid-19 no país. Mandetta era defensor de medidas de distanciamento social, enquanto Bolsonaro é crítico desse posicionamento, afirmando que somente grupos de risco deveriam ser isolados. >
A informação foi divulgada pelo próprio ministro em uma rede social. "Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar", escreveu Mandetta.>
"Agradeço a toda a equipe que esteve comigo no MS e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país", prosseguiu.>
Na manhã desta quinta, Mandetta participou de um seminário virtual sobre o enfrentamento ao coronavírus. Durante o papo, afirmou que a perspectiva era de que a mudança no comando do ministério acontecesse "hoje, no mais tardar amanhã".>
Mandetta deu entrevista coletiva na quarta-feira (15) já em tom de despedida. “Entramos juntos e sairemos juntos”, disse, se referindo à equipe, ao recusar a demissão do secretário de Vigilância e Saúde, Wanderson de Oliveira.>
"Fico até encontrarem uma pessoa para assumir meu lugar", disse em entrevista à Veja, depois da coletiva. Questionado se não tinha mais como continuar no governo, ele negou. "São 60 dias nessa batalha. Isso cansa", afirmou.>
Nesta quinta, durante uma conferência online realizada pelo Fórum de Inovação Saúde (FIS), ele deu o prazo.. "Temos uma perspectiva de troca aqui no ministério. Deve ser hoje, no mais tardar amanhã, mas enfim, espero se concretizar", diz.>
No mesmo horário, o presidente Jair Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto o oncologista Nelson Teich. O médico, que atua em São Paulo, desembarcou em Brasília como o principal cotado para assumir o Ministério da Saúde.>
Ex-deputado federal, Mandetta estava à frente da pasta desde o início do governo, em janeiro de 2019, e ganhou maior visibilidade com a crise provocada pelo novo coronavírus.>
Nas últimas semanas, contudo, Bolsonaro e Mandetta tiveram divergências públicas em razão das estratégias para conter a velocidade do contágio da Covid-19, doença provocada pelo vírus.>
Passeios Contrariando orientações do próprio ministro e do governo do Distrito Federal, Bolsonaro fez vários passeios durante o período da pandemia, atraindo aglomerações não recomendadas. Na quinta (9), ele saiu do Palácio do Planalto e foi a uma padaria da Asa Norte de Brasília, onde comeu um pão doce e bebeu refrigerante. Segundo decreto do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), o comércio pode vender alimentos, mas não é permitido comer no local. Nas imagens, é possível ver que o presidente da República abraçou funcionários do local, cumprimentou pessoas com abraços e apertos de mão, além de posar para fotos. Também há sons de vaias e de algumas panelas em vídeos registrados.>
Na sexta-feira, ele foi ao Hospital das Forças Armadas e em seguida passou em uma farmácia. "Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir", afirmou na ocasião. No dia 29 de março, Bolsonaro já havia quebrado o isolamento ao percorrer comércios em Taguatinga e Ceilândia, regiões administrativas do Distrito Federal. O passeio havia ocorrido um dia após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reforçar o pedido para que as pessoas mantenham o distanciamento social. Bolsonaro tem reiterado seu posicionamento contrário ao isolamento social como método para conter a epidemia de coronavírus. Ele considera que esse método prejudica a economia, responsabiliza os governadores que determinaram o fechamento de lojas e defende a reabertura do comércio.>
Cloroquina Outro ponto de conflito entre Mandetta e Bolsonaro foi o uso dos medicamentos de combate à covid-19. Mandetta recomendava moderação, afirmando que os médicos podem prescrever a cloroquina, mas deve-se entender que o uso do medicamento para o novo coronavírus ainda é objeto de estudo e deve-se ter cuidado ao falar do tema.>
"É normal que numa situação como essa as pessoas queiram se agarrar numa possibilidade de cura e solução", afirmou Mandetta, lembrando que cabe ao médico explicar ao paciente e familiares os possíveis efeitos da cloroquina. "O ministério da Saúde nunca tirou isso da prateleira de ninguém", diz. "São perguntas que a ciência faz e a ciência responde. Eles afirmam a gente vai dando passos. Não se tirou prerrogativa de ninguém. Quem (médico) achar que deve (prescrever).. Agora, oriente seu paciente, que deve saber os riscos de tudo o que está tomando e perguntar quais são as evidencias. E cada um faz a sua decisão. Nós enquanto coisa pública seguiremos essa máxima".>
O ministro chegou a revelar que foi pressionado a incluir o medicamento no protocolo de tratamento da doença por decreto, o que se recusou a fazer. "Me levaram, depois da reunião lá, para uma sala com dois médicos que queriam fazer protocolo de hidroxicloquina por decreto. Eu disse a eles que é super bem-vindo, os estudos são ótimos. É um anestesiologista e uma imunologista que lá estavam", explicou. >
"(Eu disse) que eles devem se reportar a você (referindo ao secretário Denizar Vianna, de Ciência e Tecnologia da pasta) e que eles devem, nas sociedades brasileiras de imunologia e anestesia, fazerem o debate entre os seus pares. Chegando a um consenso entre seu pares, o Conselho Federal de Medicina e nós aqui do Ministério da Saúde, a gente entra. A gente tem feito isso constantemente", acrescentou o ministro.>
Já Bolsonaro é defensor do uso do medicamento. "Agora tem uma outra coisa esse tratamento começou aqui no Brasil que tem que ser feito, com quem a gente tem conversado, até o quarto ou dia útil [sic] dos sintomas. Passando disso, como a evolução é muito rápida e ele ataca basicamente o pulmão, quando entrar no estado grave ou no estado gravíssimo, a possibilidade de você se curar é mínima, é quase zero", disse o presidente no início de abril, em entrevista à TV Bandeirantes.>