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Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2024 às 12:33
O bicentenário das relações diplomáticas entre o Brasil e a Santa Sé, autoridade central da Igreja Católica que tem sede na Cidade do Vaticano, será comemorado em janeiro de 2026. O reconhecimento da independência do Brasil pela Santa Sé foi um dos primeiros que recebeu o Estado brasileiro, de modo que a história da relação bilateral perpassa a própria história do Brasil independente.
Ao longo desses 200 anos, o Brasil, que abriga a maior população católica do mundo, foi visitado por cinco papas e sediou eventos de grande relevância para a Igreja, como a Jornada Mundial da Juventude em 2013. O legado da Igreja Católica no país vai muito além do aspecto religioso, sendo observado nos campos da educação, da saúde, da arte e do patrimônio histórico.
Para celebrar esse intercâmbio sólido e contínuo entre Brasil e Santa Sé, será realizada em Roma, a partir de 2025, uma extensa programação cultural. O projeto, desenvolvido pela APPA – Cultura & Patrimônio, em parceria com a Embaixada do Brasil junto à Santa Sé e a Embaixada do Brasil em Roma, foi apresentado oficialmente por Xavier Vieira, presidente da APPA, e Agostinho Neves, vice-presidente da associação.
O objetivo é expandir a atuação cultural das embaixadas, promovendo a arte e cultura brasileiras no exterior, além de discutir temas como responsabilidade social, ambiental, acessibilidade e inclusão, temas centrais para o governo brasileiro e que dialogam, também, com prioridades do pontificado do Papa Francisco.
As atividades terão início no primeiro semestre de 2025, durante as celebrações do Ano Jubilar, o primeiro do terceiro milênio, cujo tema será 'Peregrinos da Esperança', definido pelo Papa Francisco como 'um dom de graça' a ser vivido por meio de peregrinações, indulgências e testemunhos de fé. Durante o Ano Santo, a Igreja Católica espera receber cerca de 35 milhões de turistas a mais do que os 50 milhões que anualmente visitam Roma.
A programação cultural incluirá exposições individuais e coletivas, seminários sobre sustentabilidade, apresentações musicais, além do lançamento de livros e de um selo comemorativo. Entre os destaques estão a realização da primeira exposição dedicada a Aleijadinho na Itália, exposições de grandes nomes da arte contemporânea, como Jaider Esbell, Daiara Tukano, Denilson Baniwa, Walmor Corrêa, fotógrafos como Leonardo Finotti e jovens artistas como Rodrigo Cruz.
Também estão previstas publicações sobre a obra do Padre Antônio Vieira e as missões jesuíticas no Brasil, além de um livro ilustrado de orações, criado pelo ilustrador Daniel Kondo.
Na parte musical, estão programadas apresentações de trechos das óperas “Aleijadinho” e “Devoção”, um concerto da Orquestra Juvenil Chiquinha Gonzaga, além de performances de artistas como o maestro Wagner Tiso, Ava Rocha, Ligiana Costa e a organista Elisa Freixo. Faz parte das atividades, ainda, um projeto inédito que visa organizar e difundir documentos de interesse público, como as cartas credenciais de Monsenhor Francisco Corrêa Vidigal, que foi escolhido pelo Império brasileiro para obter o reconhecimento da Independência pela Santa Sé, em 1826.
Sobre a relevância das iniciativas propostas e do bicentenário das relações diplomáticas, o cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, destacou 'Para nós, essa relação é muito importante. O Brasil é um dos países mais representativos para a Igreja Católica, também por conta de sua dimensão territorial. A história desses 200 anos de relação é consagrada no texto concordatário que rege o vínculo entre Brasil e Santa Sé. É uma relação de amizade, respeito mútuo e colaboração'.
Para Everton Vieira Vargas, embaixador do Brasil, a celebração do bicentenário será oportunidade ímpar para o adensamento das relações entre o Brasil e a Santa Sé, para a promoção da cultura brasileira no exterior e para o resgate do legado histórico e religioso da relação bilateral.
“Trata-se de oportunidade para fortalecer as relações e estabelecer parcerias que poderão ir além da efeméride, com ganhos para o Brasil e a Santa Sé nas áreas de cultura, da educação e da história”, ressaltou.
Essa é a primeira atuação da APPA em parceria com Embaixada do Brasil junto à Santa Sé e a segunda com a Embaixada do Brasil em Roma – em 2010, a APPA foi parceira da Embaixada no Festival de Arte e Cultura Brasileira na Itália. “Nossa intenção é desenvolver uma parceria forte e continua com a Embaixada do Brasil em Roma, a Santa Sé, o Instituto Guimarães Rosa (braço cultural do Itamaraty) para promover ações culturais, abrindo novos caminhos para a arte brasileira”, completou Vieira. O projeto será realizado via Lei Federal de Incentivo à Cultura e está em fase de captação de recursos.