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Publicado em 8 de outubro de 2023 às 13:02
O mundo em frenética frequência de mudanças. Aceleração de reivindicações, clamores identitários, lugares de fala, reparações históricas, justiça social e fundamentalmente a preservação da natureza. A pandemia foi fator catalítico, afinal, em pleno século XXI, o ser humano viu-se ameaçado por uma morte sufocante, uma síndrome aguda respiratória letal e altamente transmissível. Apesar de tantas vidas ceifadas, os países livres conseguiram, em tempo recorde, desenvolver, fabricar, distribuir e aplicar vacinas, de múltiplas origens, para barrar o avanço do vírus. A vida hoje é muito diferente, A visão de mundo mudou. Marcado por rápidas inovações tecnológicas e desafios múltiplos, o ser humano tornou-se o predador do planeta capaz de extinguir espécies, de destruir a natureza e de se autodestruir.
A excelente iniciativa "Varieties of Democracy" (V-Dem) da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, revela com evidência de fatos e dados o encolhimento das democracias e o aumento das autocracias. O V-Dem é uma colaboração internacional, envolvendo quase 4.000 estudiosos de mais de 180 países. É uma fonte de ouro para qualquer pessoa interessada em geopolítica e está disponível para exploração em (https://www.v-dem.net).
Os dados mostram que vive-se numa era de retração democrática As democracias liberais, embasadas em valores como pensamento livre, autodeterminação e direitos humanos, agora são lar para apenas 13% da população global. As democracias, uma vez consideradas os pilares da liberdade e da representação, estão sendo corroídas, enquanto as autocracias estão expandindo sua influência. Em 1998, 74% do comércio mundial ocorria entre democracias; esse número caiu drasticamente para 47% em 2022. A influência comercial global está cada vez mais inclinando-se em direção às autocracias. Por outro lado, as autocracias estão, progressivamente, diminuindo sua dependência das democracias, tanto para exportações quanto para importações. Assustadoramente, a dependência das democracias em relação às autocracias no cenário comercial dobrou nos últimos 30 anos. A China, com sua crescente influência econômica, é agora responsável por quase 15% do comércio global. O equilíbrio comercial está se tornando uma chave para compreender essas mudanças. E o comércio internacional sempre foi um poderoso instrumento de paz e cooperação.
Os dados também revelam que, em 2022, 72% da população mundial - cerca de 5,7 bilhões de pessoas - vivem sob autocracias. E à medida que as nações crescem e as populações se expandem, a representação se torna uma tarefa cada vez mais complexa. Em 1970, havia 145 nações abrigando 3,5 bilhões de almas, ou seja, cerca de 25 milhões de habitantes por governo. Hoje, há cerca de 8 bilhões de almas em 194 países, aumentando a complexidade de governar pois são cerca de 40 milhões de cidadãos por governo. Essa crescente centralização de poder sugere a crescente complexidade para liderar uma nação. É preciso ter gente inteligente e abnegada para ocupar o cargo de líder.
No futuro próximo quando a tecnologia fundirá homem e máquina, a humanidade caminhará para regimes liderados por entidades metade humanas, metade máquinas. Reflexões do "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley parecem mais relevantes do que nunca.
O "Democracy Report" do projeto V-Dem, ancorado no Departamento de Ciência Política da Universidade de Gotemburgo, é o retrato do presente e é também um espelho refletindo nosso possível futuro. Em um momento de incertezas e desafios, surge a pergunta: Onde o pêndulo da democracia vai parar nos próximos anos?
Matheus Oliva é CEO do M.O. Movimento & Oportunidade - [email protected]