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Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 12 de abril de 2025 às 05:00
Amigos, ainda não é possível prever com precisão para onde a loucura (que, como diria Shakespeare, possui um método) do presidente americano Donald Trump levará o mundo. No entanto, é evidente que, se o republicano optar por continuar a taxação, especialmente em relação à China e à União Europeia, isso certamente terá um impacto na economia global. A magnitude desse impacto, porém, permanece incerta. >
Alguns acreditam que o Brasil pode se beneficiar com essa taxação, principalmente o setor do agronegócio. O país teria a chance de criar novas oportunidades ao aumentar a venda de produtos como carne bovina, algodão e soja. >
Por outro lado, essa elevação nas exportações pode reduzir a oferta interna no Brasil, o que resultaria em um aumento da inflação nos preços dos alimentos, afetando negativamente a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, há quem sustente que, caso os Estados Unidos e a China entrem em recessão, o Brasil também enfrentará uma recessão inevitável, não conseguindo escapar dos efeitos das dificuldades econômicas das duas maiores economias do mundo.>
Mas qual será, afinal, o impacto de uma possível recessão no Brasil sobre a candidatura à reeleição de Lula? Tudo vai depender da narrativa - ou da “historinha”, se preferir - construída tanto pelo governo quanto pela oposição, e de qual delas será mais eficaz em conquistar a mente e o coração do eleitorado em 2026. Se Lula e seus aliados conseguirem convencer que o Brasil atravessa dificuldades econômicas por causa de Donald Trump - e tentarem, como já vêm fazendo, atrelar o ex-presidente americano aos adversários bolsonaristas -, suas chances de reeleição aumentam consideravelmente.>
Essa linha de discurso, aliás, já começou a ser ensaiada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Nesta semana, ele atribuiu a alta nos preços dos alimentos no Brasil à eleição de Trump. “Atribuo, sim, a eleição de Trump e essa guerra comercial a uma mudança nos preços dos alimentos no nosso país”, disse ele, mesmo sabendo que a realidade não sustenta essa afirmação. A inflação nos alimentos já era um problema muito antes desse novo capítulo da guerra comercial — e foi justamente um dos fatores que derrubou a popularidade de Lula.>
Desde a saída de Campos Neto do comando do Banco Central, o governo tem buscado um novo “vilão” para responsabilizar pela economia que não deslanchou. E Trump, ao que tudo indica, caiu como uma luva nesse papel. Por outro prisma, se a oposição mantiver a eficiência que já demonstrou em casos como o do Pix, e conseguir convencer o eleitor de que os erros de Lula estão por trás da atual situação econômica, o presidente poderá não apenas perder a reeleição, como talvez nem dispute o pleito - hipótese que já foi colocada na mesa por ele mesmo.>
Os próximos dias serão decisivos para entender o impacto eleitoral do chamado “tarifaço” de Trump, e não apenas no Brasil. A influência da popularidade de Lula também pesa, por exemplo, na disputa na Bahia - estado que, definitivamente, não passará imune à taxação do presidente americano. Um estudo divulgado pela repórter Larissa Almeida, com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), aponta que a decisão de Trump de taxar em 10% os produtos brasileiros pode custar ao estado ao menos R$ 380 milhões.>
No fim das contas, a eleição de 2026 será decidida pela habilidade dos candidatos em compreender e dialogar com a realidade do dia a dia do eleitor.>
Um meme que circulou nesta semana mostra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ensinando o ex-presidente americano Donald Trump a taxar. Haddad tem sido chamado na web de “Taxxad” após a criação da chamada “taxa das blusinhas” — nome popular dado à taxação de importações abaixo de US$ 50 no Brasil. >