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Jerônimo procura um inimigo para chamar de seu

Sem inimigo, Jerônimo Rodrigues torna-se vulnerável aos ataques dos opositores

  • Foto do(a) author(a) Rodrigo Daniel Silva
  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 25 de janeiro de 2025 às 05:30

Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues
Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Amigos, eu já mencionei em outros textos o livro Vende-se Política, de Laurence Rees, um clássico nos cursos de comunicação política. Por volta da página 100, o autor, historiador britânico formado em Direito pela Universidade de Oxford, afirma que todo político precisa de inimigos. “Os inimigos”, escreve ele, “são tão importantes que, se não existirem, têm que ser inventados”.

Rees justifica seu ponto de vista: com um inimigo, o político pode transferir a culpa pelas mazelas da gestão pública. “Além disso, atacar o inimigo faz com que você pareça poderoso ao mesmo tempo em que não divulga informações sobre o seu próprio programa de ação, o que deixaria vulnerável a ataques”, anotou.

Com isso em mente, é interessante observar como, nos últimos dois anos, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, tem buscado – sem sucesso – um inimigo para centralizar suas justificativas.

Frente à escalada da violência no estado, por exemplo, Jerônimo culpou o que chamou de “movimento internacional” pelo avanço das facções criminosas. Quando questionado sobre os entraves na construção da ponte Salvador-Itaparica, atribuiu os atrasos à “maré alta e à força dos ventos”. E já sugeriu que as reprovações altas nas escolas estaduais se devem à postura “autoritária” de professores.

Em outras ocasiões, o governador mirou na imprensa e até mesmo na oposição, como se esta tivesse a responsabilidade de apresentar soluções para os problemas do estado.

Mas o que percebemos é que Jerônimo precisa - e gostaria - de ter era um inimigo de carne e osso, como tinha seus antecessores. Rui Costa, atual ministro da Casa Civil, por exemplo, utilizou Michel Temer e Jair Bolsonaro como alvos recorrentes durante seus dois mandatos. Uma busca rápida no Google confirma: há inúmeras manchetes como “Rui culpa Bolsonaro por…” ilustrando essa estratégia.

Jaques Wagner, hoje senador, também seguiu um caminho parecido quando era governador, ao responsabilizar gestões estaduais anteriores pela situação da Bahia. Mas Jerônimo enfrenta um problema: não pode criticar nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi crucial para sua vitória, nem os ex-governadores Rui Costa e Jaques Wagner, seus aliados políticos e padrinhos eleitorais.

Se Rui não fosse aliado, é bem provável que Jerônimo já o tivesse culpado pelo déficit de R$ 2,5 bilhões no orçamento estadual de 2023, elaborado ainda na administração anterior, como apontou o Tribunal de Contas do Estado. No entanto, qualquer tentativa de responsabilizar o ex-governador enfraqueceria a própria base política do atual governo.

Sem um inimigo concreto para chamar de seu, Jerônimo, como bem explica Laurence Rees, torna-se vulnerável aos ataques dos opositores. O impacto dessa vulnerabilidade já se reflete na queda de sua popularidade e nas incertezas sobre sua reeleição. Talvez por isso, Jaques Wagner tenha antecipado com muita antecedência a discussão sobre 2026, mas esse já é assunto para outro momento.