O sumiço de Geraldo Jr., a boquinha petista em Camaçari e as derrotas de Jerônimo nas eleições

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  • Coluna Pombo Correio

Publicado em 11 de outubro de 2024 às 05:00

Vice-governador encontra-se desaparecido após fracasso eleitoral
Vice-governador encontra-se desaparecido após fracasso eleitoral Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Procura-se

Parece que vai levar um tempo para o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) se recuperar da lapada histórica sofrida por ele nas eleições deste ano em Salvador. Candidato único da base de Jerônimo Rodrigues (PT), Geraldo ficou em terceiro lugar e amargou o pior resultado de um postulante da base petista na capital. Ele ficou atrás de Kleber Rosa (PSOL), que não teve grandes recursos e contou apenas com 35 segundos de tempo de TV. E, de quebra, ainda viu o prefeito Bruno Reis (União Brasil) ser reeleito com a maior votação da história. A pancada foi tão forte que Geraldo cancelou a coletiva de imprensa para falar sobre a eleição e encontra-se desaparecido desde então. Há quem diga que ele foi curtir um descanso nas praias paradisíacas de Fernando de Noronha. Quem souber do paradeiro, favor avisar.

Quem é o pai da criança?

Já começou o jogo de empurra para saber quem é o culpado pelo fracasso do vice-governador Geraldo Júnior nas eleições deste ano em Salvador. O governo tenta empurrar para o MDB, que, por sua vez, devolve para o governador Jerônimo Rodrigues. Entre parlamentares, a maioria coloca o revés histórico na conta do senador Jaques Wagner (PT), grande fiador da candidatura de Geraldo. Outros dizem que a culpa é da rixa cada vez mais pública entre Wagner e o ministro Rui Costa (PT). Há até quem diga que a culpa é de todos eles. Resta saber se alguém vai assumir.

Boquinha

Os derrotados da base petista na região metropolitana nas eleições deste ano estão apostando todas as fichas no segundo turno de Camaçari, disputado entre Flávio Matos (União Brasil) e Luiz Caetano (PT). De acordo com informações que circulam nos bastidores, Caetano pode abrigar em um eventual governo a atual prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho (PT), que deixa o posto com alta rejeição e, de quebra, viu seu candidato, Antonio Rosalvo (PT), sofrer uma derrota histórica para Débora Regis (União Brasil). A lista ainda inclui outros nomes, como o ex-prefeito de Santo Amaro Ricardo Machado (PT), que já foi preso pela Operação Adsumus, e a ex-prefeita de Dias D'Ávila Jussara Marcia (PT).

Luiz Gastão

Luiz Caetano, inclusive, deixou um rastro de gastança na secretaria estadual de Relações Institucionais, pasta que chefiou de 2021 a maio deste ano. De acordo com o portal Transparência Bahia, o petista colocou a despesa na casa dos R$13 milhões, mais que o dobro do que era utilizado nos anos anteriores, cuja média anual não passava de R$ 6 milhões. O pico da gastança ocorreu em 2023, no primeiro ano da gestão do governador Jerônimo Rodrigues (PT). A prática é similar ao gasto exorbitante do vice-governador Geraldo Júnior, que conseguiu a façanha de triplicar as despesas da vice-governadoria para assegurar 33 militares para sua segurança pessoal.

A moda do camaleão

Todo mundo sabe que Geraldo Júnior e o vereador de Camaçari Júnior Borges (União Brasil) são muito próximos. Agora, ninguém imaginava que Júnior fosse tão admirador de Geraldo ao ponto de seguir os passos do vice-governador e, de supetão, mudar de lado nesta eleição. Aliado de primeira hora do prefeito Elinaldo Araújo (União Brasil), Borges apoiou Flávio Matos no primeiro turno, mas perdeu a reeleição e agora decidiu seguir com Luiz Caetano (PT). A mudança repentina já tem sido criticada pela população. Daqui a pouco, assim como Geraldo, o vereador vai pegar a pecha de traidor e camaleão.

Pé frio

O governador Jerônimo Rodrigues foi o grande derrotado nas eleições municipais deste ano. Além de Salvador, o petista sofreu derrotas pesadas em diversas grandes, médias e pequenas cidades onde fez campanha severa. Os exemplos são muitos. Entre os maiores municípios, os candidatos de Jerônimo perderam em Feira de Santana, Vitória da Conquista e Ilhéus, mesmo com o grande empenho feito pelo governador, inclusive com uso da máquina. Entre as menores, um caso emblemático vem de Jussara, onde Jerônimo fez campanha pesada para o candidato de oposição e, mesmo assim, viu o atual prefeito Tacinho Mendes (PP) ser reeleito com a maior votação da história. Já tem gente dizendo que o governador se tornou uma espécie de Mick Jagger nas eleições deste ano.

Recado das urnas

Jerônimo também teve que engolir derrotas de figuras que estão ou estiveram em seu governo. Além de Salvador, onde o vice-governador Geraldo Júnior sofreu um revés humilhante, o petista viu sua ex-secretária da Educação Adélia Pinheiro perder em Ilhéus para Valderico Júnior (União Brasil). Em Rafael Jambeiro, a atual prefeita e ex-secretária na gestão de Rui Costa, Cibele Carvalho, considerada um nome influente no PT, foi derrotada por Nalvinho (União Brasil). A lista ainda tem a ex-secretária Fabya Reis, que concorreu a vice de Geraldo, e o ex-secretário Felipe Freitas, que coordenou a campanha derrotada de Zé Neto (PT) em Feira de Santana. Por fim, o ex-secretário Luiz Caetano (PT), que já dava como certa sua eleição, disputa o segundo contra Flávio Matos em Camaçari.

Derrotados em casa

Outro detalhe que não passou despercebido nas análises eleitorais foi o fato dos principais caciques do governo estadual terem sido derrotados em sua terra natal. A começar pelo governador Jerônimo Rodrigues em Aiquara, seguido pelo seu líder de governo Rosemberg Pinto (PT) em Itororó, Otto Alencar (PSD) em Ruy Barbosa, e o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Adolfo Menezes (PSD), em Campo Formoso. Nesta lista ainda cabe o chefe de gabinete do governador, Adolpho Loyola, que não conseguiu impedir a reeleição do prefeito Marcelo Belitardo (União Brasil) em Teixeira de Freitas.

Vermelho artificial

A direção do PT na Bahia encarou um saldo desastroso com a abertura das urnas no último domingo. O desalento veio da aposta mal sucedida de candidaturas em grandes e médias cidades, onde a oposição conseguiu ampla maioria. Em alguns casos, a derrota foi ainda mais traumática em função da articulação tabajara que envolveu até a composição com bolsonaristas: caso de Tito (PT), que amargou o terceiro lugar em Barreiras; e de João de Deus (PT), que se juntou a Cida Moura (PSD) e mesmo assim sofreu uma dura derrota em Itapetinga para o grupo do prefeito Rodrigo Hagge (MDB).

A lei do retorno

O mundo político se pergunta, agora, como vão ficar os prefeitos eleitos que integram partidos da base de Jerônimo e, mesmo assim, tiveram oposição do governador durante as eleições. Em muitas cidades, mesmo com dois candidatos da base, o petista preferiu escolher um dos lados. Os casos são muitos e se espalham por partidos como PSD e Avante. Um deles vem de Bom Jesus da Lapa, onde o deputado Eures Ribeiro (PSD) foi eleito, derrotando o prefeito Fabio Nunes (PT), que contava com o apoio irrestrito de Jerônimo e de toda a cúpula petista. Eures chegou a ser proibido pela Justiça, a pedido dos petistas, de usar as imagens de Jerônimo e do presidente Lula (PT) na campanha.

Rejeição em alta

Observadores da política da Bahia avaliam que as derrotas sofridas por Jerônimo evidenciam que a desaprovação do governador está aumentando, não apenas em Salvador e nas maiores cidades, mas também no interior. Inclusive, alguns dos insucessos mostram, segundo os observadores, que o apoio do governador já não é tão decisivo para os prefeitos das pequenas cidades como antes.