O colapso da infraestrutura da Bahia

A perda de competitividade pode comprometer o desenvolvimento da Bahia a longo prazo

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  • Coluna Pombo Correio

Publicado em 6 de setembro de 2024 às 05:00

Os desafios de infraestrutura na Bahia estão longe de ser novidade. Dados recentes do Centro de Liderança Pública (CLP) revelam que o estado ocupa a vergonhosa 23ª posição entre as 27 unidades federativas nesse quesito. Pior ainda, a Bahia é o último colocado entre os estados do Nordeste, caindo três posições em relação ao ano anterior. Esse desempenho lamentável é reflexo direto do abandono e da má gestão de setores críticos como rodovias, saneamento, energia e transporte aéreo.

A nova ameaça ao desenvolvimento da Bahia não vem apenas das dificuldades internas, mas também da concorrência externa. Enquanto o estado luta para concluir a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e o Porto Sul, projetos que já foram prioridade, o vizinho Ceará avança em ritmo acelerado.

Durante o Congresso Brasileiro do Algodão, o governador cearense Elmano Freitas anunciou que, até 2026, a Ferrovia Transnordestina será concluída, o que permitirá que o estado torne-se uma rota alternativa para o escoamento da produção agrícola da região do Matopiba — que inclui o oeste baiano, uma das áreas mais produtivas do Brasil. Com esse movimento, o Ceará pode atrair boa parte das cargas agrícolas que deveriam passar pela Bahia e agrava ainda mais o gargalo logístico baiano.

O oeste baiano é o maior produtor de grãos do Norte e Nordeste, além de ser o segundo maior produtor nacional de algodão. A região responde por cerca de 25% do PIB do estado. No entanto, sem vias adequadas para o transporte e escoamento dessa produção, os produtores baianos correm o risco de perder mercado. Atualmente, boa parte das cargas de algodão já é exportada via o Porto de Santos, em São Paulo, e a soja tem sido transportada pela Ferrovia Norte-Sul até o Porto de Itaqui, no Maranhão. Agora, com a ameaça cearense, o cenário torna-se ainda mais desafiador.

A inação do governo estadual em relação aos projetos de infraestrutura agrava mais a situação. A Fiol, sonho do ex-governador e atual senador Jaques Wagner, tem avançado a passos lentos, e o Porto Sul, essencial para completar essa cadeia logística, encontra-se em um estado ainda mais crítico. A falta de um porto operacional coloca em risco a viabilidade da ferrovia, o que pode deixar o oeste baiano desconectado do mercado global. Enquanto isso, estados vizinhos oferecem alternativas mais ágeis e viáveis para os produtores.

Essa perda de competitividade pode comprometer o desenvolvimento da Bahia a longo prazo. A Matopiba, que já registrou um crescimento de 96% na produção de soja e 49% na de milho na última década, tem potencial para dobrar sua produção nos próximos anos, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. No entanto, sem uma infraestrutura adequada, esse crescimento poderá beneficiar estados como Maranhão, Tocantins e, agora, até o Ceará, em vez de fortalecer a economia baiana.

O governo da Bahia precisa, urgentemente, priorizar a conclusão da Fiol e do Porto Sul. A lentidão na execução desses projetos não apenas enfraquece a economia do estado, como também compromete a confiança de investidores. A falta de compromisso com a infraestrutura, especialmente no setor logístico, pode resultar na fuga de cargas para outros estados.