Jerônimo e o fenômeno da multiplicação de crises, o governador escondido e o passado que atormenta Caetano em Camaçari

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  • Coluna Pombo Correio

Publicado em 25 de outubro de 2024 às 05:00

Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues
Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues Crédito: Arisson Marinho/arquivo correio

O Gasolina

Que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) exagera na verborragia todo mundo já sabe, mas nesta semana ele se superou ao tentar conter a crise na segurança pública que assola o estado nos últimos dias. Na tentativa de apagar os incêndios criados por ele próprio, Jerônimo acabou jogando mais gasolina no fogo. Nas entrevistas que concedeu, ele comparou a onda de violência com uma “gripezinha” e ainda dividiu a culpa da crise com o presidente Lula (PT), ao afirmar que há ações que dependem da União. “É responsabilidade do Lula, eu votei nele, mas eu estou cobrando a ele”, disse Jerônimo. A “gripezinha” rendeu a Jerônimo uma comparação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que utilizou o termo para se referir à Covid-19 e sofreu uma dura repreensão de todos os lados.

Fala povo

Nas redes sociais, o povo não perdoou a declaração de Jerônimo sobre a “gripezinha” da violência. “Essa gripe já virou uma pneumonia”, disse um usuário do Instagram em uma página de um site de notícias. “Então meu bairro tá gripado”, ironizou outra. Um internauta foi mais enfático: “Que falta de senso com todas as famílias enlutadas da Bahia que um dia perderam um ente querido pela violência na Bahia”. Outro finalizou: “Daqui a 2 anos daremos o xarope a ele”.

Mostrou fraqueza

Nem mesmo os mais fiéis aliados do governador Jerônimo, na política e na comunicação, conseguiram disfarçar o incômodo em ouvir o episódio narrado pelo próprio governador que tentou, sem sucesso, falar por telefone com Ronaldo Caiado (União Brasil). Dias atrás, o governador de Goiás rebateu uma fala em que Jerônimo lista o estado vizinho no rol dos mais violentos do país. E mais ainda, sugeriu até assumir o controle da segurança pública da Bahia por seis meses, já que o governador tem falhado na missão. Para a cúpula dos “jeronistas”, o governador baiano mostrou fraqueza.

Calado é um poeta

E se engana quem pensa que parou por aí. Ainda nas entrevistas, Jerônimo admitiu que persegue quem não é aliado do PT, quando afirmou que, para Feira de Santana, iria “botar dinheiro de maneira mais intensa” caso o deputado federal Zé Neto (PT) tivesse vencido a disputa. Por fim, disse que pediu uma avaliação qualitativa para entender o voto nos grandes e médios centros, onde o governo teve derrotas retumbantes. Talvez, se o governador olhasse mais para os problemas graves do estado e procurasse resolvê-los entenderia o recado das urnas.

Esconde ele

O crescimento da má avaliação de Jerônimo tem feito o governador sumir da campanha do seu candidato em Camaçari, Luiz Caetano (PT), neste segundo turno. Nas redes sociais de Caetano, nenhuma das primeiras publicações tem fotos com o governador. É possível ver imagens de Lula, do ministro Rui Costa e do senador Jaques Wagner, todos do PT, mas nada de Jerônimo.

A memória do povo

Por falar em Caetano, o petista parece agora querer esconder seu passado e adotou uma estratégia de judicializar absolutamente tudo que aparece na propaganda eleitoral do adversário, Flávio Matos (União Brasil), contra ele. O problema é que ele não pode apagar a memória do povo, que lembra muito bem das imagens de sua prisão pela Polícia Federal e de que ele guardava dinheiro em caixas de sapato. Sem contar nas múltiplas condenações por irregularidades de sua gestão no município.

Democracia relativa

O grupo do PT de Lauro de Freitas decidiu seguir a cartilha do ex-presidente Jair Bolsonaro e quer questionar o resultado da eleição, que terminou com a vitória de Débora Regis (União Brasil) por mais de 20 mil votos sobre Antonio Rosalvo (PT), apoiado pela prefeita Moema Gramacho (PT). Não satisfeito com o resultado, a coligação petista foi à Justiça Eleitoral para pedir todas as atas das seções de votação e dos arquivos de imagens dos Boletins de Urnas, dentre outros documentos, para embasar um eventual pedido de recontagem de votos. Esse conceito de democracia que o PT diz defender realmente é muito curioso!

Caderninho

Três deputados governistas estão com a cabeça a prêmio porque falharam feio no momento que o governo mais precisou deles. Esta semana, o líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Rosemberg Pinto (PT), mobilizou a tropa para aprovar dois pedidos de empréstimos do governador Jerônimo Rodrigues que passavam da casa de R$ 1,5 bilhão, mas na hora H faltou apenas um nome para garantir o quórum no âmbito das comissões no plenário, já que o projeto estava sendo votado em regime de urgência. Como nenhum dos três atendeu o telefone ou respondeu às mensagens, a base governista teve que recuar. Pelo que se ouve nos bastidores, Jerônimo anotou os nomes no caderninho e certamente a conta da fatura chegará para o trio de ausentes.

Desempenho pífio

A lapada sofrida pelo vice-governador Geraldo Júnior (MDB) em Salvador foi ainda mais acachapante do que se pensa. Se tivesse disputado a eleição em Feira de Santana, que tem quase 5 vezes menos eleitores do que em Salvador, o emedebista teria ficado em terceiro lugar com os pouco mais de 137 mil votos recebidos no pleito, atrás de Zé Ronaldo (União Brasil) e Zé Neto (PT). Em Vitória da Conquista, que tem quase 8 vezes menos eleitores do que a capital, Geraldo quase foi superado pelo número de votos da prefeita reeleita Sheila Lemos (União Brasil), que teve mais de 116 mil sufrágios.

Vermelho de raiva

O líder do governo na Assembleia Legislativa, Rosemberg Pinto (PT), ainda não engoliu as derrotas sofridas nas eleições deste ano na região do Médio Sudoeste, em especial em sua própria terra natal, Itororó. Por lá, a candidata dele, Dra. Luciana (PT), perdeu para Dr. Adauto (Avante), que teve o apoio do prefeito de Itapetinga, Rodrigo Hagge (MDB). Em Itapetinga, Rosemberg também apostou alto na dupla Cida Moura (PSD) e João de Deus (PT), cuja chapa teve o apoio dos principais caciques do PSD no estado e do governador Jerônimo Rodrigues e foi derrotada por Eduardo Hagge (MDB), tio e afilhado político de Rodrigo. Rosemberg tem bradado aos quatro cantos se queixando das derrotas.

TV partidária

A direção da TV Assembleia Legislativa levou um susto ao ver a reação enérgica da bancada de oposição contra o uso partidário da emissora pública em favor de interesses políticos do PT, que detém a indicação dos cargos de chefia. Na segunda, a partir de uma ordem que “veio de cima”, a TV Alba veiculou na íntegra em dois telejornais um pronunciamento em que o governador Jerônimo fez ataques à livre manifestação da oposição, numa franca artilharia de censura. A prática tendenciosa pode custar caro aos artífices da manipulação.

Queixas, muitas queixas

O que era para ser uma reunião de alinhamento com o titular da Secretaria de Relações Institucionais (Serin) do estado, Jonival Lucas, acabou virando uma verdadeira lavagem de roupa suja contra Jerônimo. Na mesa, líderes partidários da Assembleia Legislativa vociferaram inúmeras reclamações políticas e administrativas contra o petista, incluindo até certa indisposição da Governadoria em recepcionar prefeitos levados pelos parlamentares, além da demora em atender demandas consideradas simples. Já seria ruim se ficasse até aqui, mas a parte mais assustadora da reunião foi ouvir que os deputados ensaiam fazer uma lista de reclamações para os ex-governadores Jaques Wagner e Rui Costa, na esperança de que eles possam intervir nos rumos da gestão de Jerônimo.