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Pombo Correio
Publicado em 28 de março de 2025 às 05:00
Até tu, Brutus >
O governador Jerônimo Rodrigues não poupou nem o presidente Lula nesta semana ao tratar de duas de suas maiores dores de cabeça: a escalada da violência e o aumento na desaprovação. Sobre o primeiro problema, disse que “é fundamental uma ação coordenada com o governo federal”, jogando a crise de segurança pública no colo de Lula, que, por sua vez, tem um histórico de fugir da questão e devolvê-la aos estados. Já ao falar sobre a rejeição, disse que “a avaliação do presidente Lula caiu e isso nos afeta diretamente”. Um deputado de língua ferina, ao comentar sobre as duas declarações do governador, não perdeu a oportunidade: “Lula deve ter dito: até tu, Brutus?”. >
Vexame anunciado>
O surgimento do deputado Júnior Muniz (PT) na disputa pela primeira vice-presidência da Assembleia Legislativa da Bahia abriu uma ferida difícil de cicatrizar na base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e deixou um passivo com gosto amargo de derrota para o líder da maioria, Rosemberg Pinto (PT). Inimigo declarado de Muniz, Rosemberg tentou, a qualquer custo, empurrar Fátima Nunes para o posto. O problema é que ela não tinha votos para vencer nem se fosse candidata única, porque a movimentação nos corredores da Casa apontava para uma enxurrada de votos nulos e brancos, tornando inviável que ela alcançasse os 32 necessários para a eleição. Diante do iminente vexame, Rosemberg manobrou como pode e conseguiu adiar a votação.>
No sereno>
O episódio escancarou não apenas a falta de prestígio do líder dentro da própria base, como deixou evidente que Rosemberg foi largado à própria sorte pelo governo, que não fez nenhum esforço para barrar a candidatura de Muniz. A leitura é que, como ele atendia aos critérios de ser filiado ao PT, em razão da proporcionalidade da bancada, e de ter declaradamente os votos necessários para vencer, o Palácio de Ondina preferiu se omitir. Para completar o enredo, a disputa ainda revelou um racha interno no PT, já que Júnior Muniz é umbilicalmente ligado ao prefeito de Camaçari, Luiz Caetano (PT), que mesmo de longe impôs uma dura derrota a Rosemberg. >
Máquina do tempo>
Ainda sobre Rosemberg, o líder conseguiu, nesta semana, se enfiar em mais uma enrascada. Foi durante uma audiência pública na Comissão de Agricultura, que discutia a onda de invasões de terras na Bahia, quando o petista resolveu recorrer a uma teoria digna de máquina do tempo. Segundo ele, nenhum produtor pode defender o direito à propriedade porque elas foram “doadas há 500 anos”. A tese mirabolante caiu como gasolina no fogo e provocou indignação nos produtores presentes, muitos deles vítimas de invasões armadas. Afinal, eles não vivem em 1500, mas em 2025, e lidam com o problema real da insegurança, que o governo estadual evita enfrentar.>
Dois meses inerte>
O governo Jerônimo Rodrigues (PT) negligenciou por mais de dois meses o grave problema da seca que afeta dezenas de municípios da Bahia, em especial na região de Irecê, onde a situação tem sido agravada. Deputados, prefeitos e lideranças políticas já haviam manifestado preocupação a autoridades estaduais desde janeiro, mas nada foi feito, o que provocou um agravamento da situação, com safras perdidas, em especial de milho, e venda de animais para evitar a morte dos bichos por falta de água. A estiagem e considerada a pior dos últimos 40 anos. Uma das primeiras ações do governo ocorreu somente nesta semana, quando houve uma reunião do Comitê Governamental de Convivência com o Semiárido. Isso após deputados e prefeitos suplicarem publicamente por ajuda.>
O todo poderoso>
Outro caso que tem causado enorme preocupação no Estado é o das invasões de terra, em especial na região do Extremo Sul. De acordo com informações de deputados que acompanham o caso, há uma determinação no governo do estado para que toda e qualquer ordem judicial de reintegração de posse passe, antes de ser cumprida pela polícia, pelo Palácio de Ondina ou pelas secretarias da Casa Civil e Relações Institucionais (Serin). Tanto é que, das cerca de 80 propriedades invadidas no Extremo Sul, cerca de 40 têm decisões de reintegração de posse não cumpridas. Ou seja: pelo relato de deputados, o governador precisa autorizar o cumprimento de uma decisão judicial. >
Prioridade>
Estes dois casos têm em comum a inércia de Jerônimo para resolver problemas. Nesta semana, ele teve tempo para fazer críticas ao prefeito de Salvador, Bruno Reis, e ao ex-prefeito ACM Neto, para fazer reuniões políticas e para gravar podcast. Só parece não ter tido tempo para resolver estes e outros tantos problemas. >
Atestado>
Deputados da base governista andam, nos bastidores, questionando a efetividade do movimento cada dia mais intenso do governador Jerônimo Rodrigues para atrair prefeitos da oposição e dizem que a tática é praticamente um reconhecimento de que o governo não está bem. Eles comparam a articulação de Jerônimo ao ex-governador Rui Costa (PT). No passado, recordam, Rui esperava que os prefeitos fossem a ele, enquanto Jerônimo faz o contrário. “Rui dizia que quem tá bem não precisa correr atrás de apoio, o apoio vem naturalmente”, recorda um parlamentar. Dizem, ainda, que o movimento não beneficia nem os próprios parlamentares, já que os prefeitos tendem a manter seus apoios a deputados da oposição. >
Encurralado>
A indefinição sobre a nomeação do próximo secretário de Comunicação da Bahia expôs, mais uma vez, a falta de autonomia do governador Jerônimo Rodrigues (PT) na sua própria gestão. Isso porque os ex-governador Jaques Wagner e Rui Costa travam uma disputa velada por cada metro quadrado das indicações de cargos e deixam o governador encurralado e sem força. Em um mês, Jerônimo teve que rifar publicamente dois nomes que estavam praticamente nomeados, primeiro o publicitário Cid Andrade e depois João Dude. Esta semana, Jerônimo chegou a pedir que “a imprensa pegue leve” nas especulações para não desgastar os cotados. >
Desaprovado>
Um dado da pesquisa Paraná divulgada na última segunda-feira acendeu, em especial, um sinal de preocupação na cúpula do governo da Bahia. Embora interlocutores tenham minimizado o recorte sobre intenção de votos, que mostrou vantagem do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), o que perturbou mesmo foi ver que a desaprovação de Jerônimo já é maior que sua aprovação. Uma das observações nos bastidores é que a estratégia do governador de colecionar prefeitos e abraçar lideranças políticas tem surtido pouco ou nenhum efeito na opinião pública, que começa a cristalizar o que vem dizendo a oposição sobre Jerônimo ser o pior governador que a Bahia já conheceu.>
Comentador>
O governador Jerônimo Rodrigues usou sem pudor a transmissão da final do campeonato baiano na TVE, emissora pública do estado, como palco de autopromoção. O aproveitamento faz lembrar do que o ex-presidente Jair Bolsonaro fazia com a TV Brasil. Ele, a propósito, por causa dessa mesma prática, foi alvo de ações levadas ao STF por deputados do PT num passado recente, por uso indevido da máquina pública. Com Jerônimo, o silêncio foi absoluto. E para não passar batido sem nenhuma pérola, o governador disse que estava ali como “comentador” esportivo.>