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Terrorista que assassinou baiana na França é condenado à prisão perpétua

Simone Barreto, uma das organizadoras da Festa de Yemanjá, foi morta há quatro anos, em crime que chocou o mundo

  • Foto do(a) author(a) Osmar Marrom Martins
  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 13 de março de 2025 às 08:09

Simone Barreto
Simone Barreto Crédito: Acervo Familiar

Quatro anos após o assassinato brutal da baiana Simone Barreto Silva em um ataque terrorista no dia 29 de outubro de 2020 em Nice, no sul da França, enfim a justiça foi feita. O autor desse crime bárbaro, que chocou o mundo e tirou a vida de uma mulher alegre — que organizava, ao lado de sua irmã Solange, a Festa de Yemanjá na Riviera francesa —, foi condenado à prisão perpétua. A família ficou satisfeita com o desfecho, mesmo sabendo que a perda é irreparável.

Na época, os principais jornais relataram o que aconteceu na cena do crime: “Ferida no ataque à faca que sofreu enquanto esperava a primeira missa na basílica de Nice, ela ainda conseguiu reunir forças para atravessar a rua e pedir socorro. Recebeu ajuda de funcionários de um restaurante, mas faleceu antes da chegada dos socorristas. Simone resistiu por uma hora e meia e, pouco antes de morrer, fez um pedido às pessoas que a ajudaram: ‘Digam a meus filhos que amo eles’.” Simone deixou três filhos, com idades entre 6 e 15 anos. Há pouco tempo, havia se formado como cozinheira, um passo importante no caminho que trilhava para realizar o sonho de abrir um restaurante brasileiro na França, enquanto trabalhava como cuidadora de idosos.

Desde aquele fatídico dia, sua irmã Solange tem sido procurada por jornais, revistas e TVs de todo o mundo querendo entrevista-la. Eu mesmo tentei algumas vezes já que fiquei amigo da família desde que fui convidado para conhecer essa bela festa que reproduz em solo francês, em menor escala, o ritual da festa de Yemanjá no Rio Vermelho, com direito a balaio para a entrega de presentes à Rainha do Mar. 

Coroas de flores para homenagear as vitimas
Coroas de flores para homenagear as vitimas Crédito: Acervo da Família

A Fête de Yemanjá Nice é um Festival Cultural Brasileiro realizado anualmente nessa cidade do sul da França, pela associação franco-brasileira Brasuca Show. O evento visa promover e celebrar a cultura brasileira na Europa, com destaque para a música, a dança e as tradições dos ritos afro-brasileiros.

Assim que soube do resultado do julgamento, liguei novamente para Solange. Em um gesto de deferência especial, ela disse que me concederia a entrevista por ser meu amigo e saber que eu jamais faria sensacionalismo com um fato tão chocante. Foi por meio de uma conversa via WhatsApp, direto de Nice, que ela respondeu às perguntas. Aproveitou também para avisar que, em breve, estará em Salvador para conversar com os órgãos culturais da Prefeitura e do Estado, a fim de obter apoio para realizar a festa este ano.

CORREIO - Depois de quatro anos desse brutal assassinato de sua irmã por terroristas em Nice, enfim veio a sentença. Você acha que a justiça foi feita?

Solange e Simone
Solange e Simone Crédito: acervo da Família

SOLANGE BARRETO – Então, o processo aconteceu depois de quatro anos, né? Esse indivíduo estava preso em uma cela Isolado. Depois de quatro teve esse julgamento, que começou no dia dez de fevereiro, e o veredito foi feito no dia 26. Foi um mês praticamente de processo, que a gente teve que se deslocar daqui pra Paris. Nós ficamos satisfeitas porque ele pegou a prisão máxima, né? Minha irmã não vai voltar mais à terra, mas pelo menos ele vai pagar não só pela morte de minha irmã como a de duas pessoas que que estavam também na igreja. Então foi um negócio assim muito complicado. O processo foi muito duro muito difícil. Ele se mostrou sem nenhum sentimento de culpa. Frio e calculista. Simplesmente isso.

CORREIO - Como você e seus familiares receberam a notícia do julgamento?

SOLANGE BARRETO - Nós ficamos com um sentimento de que a justiça foi cumprida. Esse monstro que fez essa coisa com a minha irmã não vai sair mais, ele não vai ter mais força nem poder de fazer outras vítimas aqui na França. Agora ela vai poder descansar e a gente vai poder tirar do coração essa raiva e toda essa dor.

CORREIO - Ao seu lado ela sempre organizou a festa de Yemanjá em Nice, qual a lembrança que você guarda dela dessa época?

SOLANGE BARRETO - Como você sabe nós somos ativistas culturais aqui, mulheres de cultura, desde o Brasil, mulheres de eventos. No Brasil eu minha irmã Bárbara participamos do clipe "O Mais Belo dos Belos" de Daniela. Também participamos do lançamento do primeiro CD do Ara Ketu. Nós somos uma família ativista de blocos afro no Brasil. Nós trouxemos nossa cultura para aqui e nós vivemos dela também, de mostrar o melhor que a Bahia tem aqui fora. E uma das pessoas mais importante foi minha irmã, que fez muita coisa. Ela me ajudava muito, desde ajudar a colocar o turbante das meninas, fazer a comida do pessoal da associação. Depois do cortejo a gente sempre oferece uma grande feijoada para as pessoas. Ela também participou quando tinha festa de criança em outras associações. Tudo que acontecia na nossa família ela estava sempre na frente. Ela fez o curso de cozinheira chef aqui na França e estava com todo o projeto para poder abrir o restaurante dela.

CORREIO - Dia 11 de março é o Dia Nacional das vítimas do terrorismo na França. Como foi a solenidade este ano?

SOLANGE BARRETO - Todo o país faz uma homenagem à memória das pessoas que morrem vítimas do terrorismo e que foram combatentes de guerra, porque quando você enfrenta um terrorista você é como se fosse um soldado. Então foi o que ela fez. Simone entrou nessa igreja para poder salvar as pessoas. Na realidade tinha pessoas que ela não deixou entrar para poder dar socorro. Então ela entrou inocente, pensando que podia fazer alguma coisa ou conseguir vencer. Ela não sabia que o demônio estava ali dentro daquela igreja.

CORREIO - Você já está preparando a edição da Festa de Yemanjá 2025. Pode adiantar o que vem por aí?

SOLANGE BARRETO - O Festival Cultural de Yemanjá vai ser realizado no primeiro domingo do mês de julho. É um projeto que fazemos com muito esforço. Agradecemos à municipalidade que nos apoia, alguns comerciantes. A maioria das pessoas vem pela fé. As associações também. É um projeto feito com muita fé e amor, um projeto lindo, feito com autenticidade a gente. Não fugimos da linha e do respeito à religião. Queremos que as pessoas vão para o Brasil conhecer a Festa Mãe. Eu trabalho com cultura, dança, capoeira. Acho que para mim era necessário trazer esse festival para Nice que tem tudo a ver. A Bahia está aqui. É Yemanjá quem me dá a força, o caminho para eu conseguir realizar da maneira possível com o pouco que tenho. Estou com previsão de ir ao Brasil em abril para ver se consigo apoio para continuar realizando essa festa. Estou aqui há mais de 30 anos. E não posso perder a fé. Acreditar que a vida é assim, E hoje tem mais de 50 baianos que estão aqui e que vieram através de nós.