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Osmar Marrom Martins
Publicado em 12 de outubro de 2024 às 08:00
Lançada em 1982, no disco Um Banda Um, a música Drão é um dos maiores sucessos de Gilberto Gil até hoje e praticamente não sai do repertório do artista. Mas, afinal, quem é Drão e por que a música toca tanta gente?>
Gil escreveu essa canção quando estava se separando de Sandra Gadelha, sua terceira esposa e mãe de três de seus filhos: Pedro, que nasceu em Londres no ano de 1970 e morreu num acidente de carro, em 1990 no Rio de Janeiro; Maria, que hoje administra sua agenda de shows; e Preta, cantora e apresentadora que vem travando uma batalha contra um câncer de intestino.>
Antes de Sandra, Gil foi casado com a saudosa Belina com quem teve duas filhas: Nara e Marilia Gil. Depois casou com Nana Caymmi, mas não tiveram filhos. >
“A criação desta música apresentou altos graus de dificuldades, porque ela lidava com um assunto denso – o amor e o desamor, o rompimento, o final de um casamento; porque era uma canção para Sandra e para mim. 'Como é que eu vou passar tantas coisas numa canção só?', eu me perguntava", escreveu Gil no livro 'Todas as Letras' lançado pela Companhia das Letras em 2000.>
Irmã de Dedé Veloso, então casada com Caetano, Sandra (que ganhou o apelido de Drão dado por Maria Bethânia) acompanhou Gil no exílio (de 1969 a 1972) e, durante muitos anos, viveram um grande amor até que veio a separação e Gil colocou na letra todo o seu sentimento. Antes, ela já tinha sido homenageada com a música Sandra, do álbum Refavela (1977), feita no tempo em que Gil teve de cumprir pena num sanatório em Florianópolis, onde foi preso por porte de maconha quando excursionava com o show Doces Bárbaros ao lado de Caetano Veloso, Maria Bethânia e a saudosa Gal Gosta, que era madrinha de Preta.>
Em Drão, ele diz: “Drão, o amor da gente é como um grão/ Uma semente de ilusão/ Tem que morrer pra germinar/ Plantar nalgum lugar/ Ressuscitar no chão nossa semeadura/ Quem poderá fazer aquele amor morrer/ Nossa caminhadura”.>
Eu tive o prazer de conhecer Drão antes mesmo de entrar na universidade para estudar Comunicação, quando fazia parte de uma turma que incluía amigos em comum, como Isabela Laranjeira e sua irmã Claudia, Jussara Silveira, Moisés e Pedro Santana, Bi Oliveira, Bebete Martins, Fábio Pestana, entre outros. Costumávamos frequentar a casa do casal, no Costa azul. Quando Gil viajava para fazer shows, a gente costumava passar na casa de Drão. Era muito divertido, e Gil chamava a gente de Jardim de Infância.>
Sempre alegre e alto-astral, Drão era uma boa companhia. Não só em sua casa como nas praias do Porto da Barra, da Boca do Rio ou no Zanzibar de Ana Célia.>
Mesmo depois que ela foi morar no Rio a gente mantinha contato quando chegava o verão. Assim foi passando o tempo, o Jardim de Infância ficou adulto, cada qual seguiu seu caminho e nossos encontros aconteciam quando tinha show em Salvador.>
Eu não via Drão há um bom tempo até que, em 24 de janeiro de 2017, recebi uma ligação de Flora Gil me convidando para ir conversar em sua casa sobre a transferência que ela faria do Camarote Expresso 2222 para o comando de Preta Gil, filha de Gil com Sandra Gadelha, a Drão. Tudo combinado, me dirigi à bela residência do casal Flora e Gilberto Gil, no Corredor da Vitória. Como faço de costume, cheguei cedo.>
Na época, fiz uma matéria chamada 'A melhor terça-feira do mundo', falando desse encontro numa terça de verão. Enquanto a gente conversava, começou um movimento de gente chegando. Não me lembro pela ordem. Mas eram Ivete Sangalo e o marido, o nutricionista Daniel Cady; a cantora Márcia Castro; Ivanna Souto; a atriz Regina Casé e seu marido Estevão Ciavatta; Daniela Mercury e Malu Verçosa (Daniela estava usando um colete no pescoço devido a algum problema de coluna); e Gustavo Di Dalva, grande percussionista que já tocou com Gil e Asa de Águia, atualmente morando em Nova Iorque.>
Além deles já estavam no apê Fafá Giordano, irmã de Flora e produtora da GeGe; Ana Célia, a maga dos quitutes do Zanzibar, encarregada dos deliciosos petiscos da noite e do jantar; e a querida Sandra Gadelha. Depois da conversa com Flora, eu fiquei um tempo com Drão e devoramos literalmente o patê de camarão seco com inhame. Uma iguaria dos deuses que você deve experimentar indo ao Zanzi, que fica no Santo Antônio Além do Carmo.>
Drão não conhecia muita gente. Não foi do seu tempo quando morava na Bahia. Fiquei praticamente a noite inteira com ela, conversando e dando risada. Lembrando das histórias e das loucuras que a gente fazia. Uma noite agradabilíssima, com direito a muita música com Xanddy, Bimba e Gil mandando ver.>