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Nelson Cadena
Publicado em 7 de novembro de 2024 às 02:00
Voz de locutor, narrativa de professor, notável contador de histórias, devotado pesquisador, mergulhado em acervos de livros, documentos e discos de cera, tornaram Cid Teixeira, cujo centenário de nascimento transcorre segunda-feira próxima, no Mestre. Assim chamado pelos milhares de alunos e admiradores que usufruíram de suas aulas e palestras com o seu dengo baiano e seu jeito de homem do povo, que de fato era. E usufruíram, ainda, de seu conhecimento da história, através de seus artigos em jornais, revistas e dos programas de rádio.
E foi esse seu jeito de homem do povo que levou os baianos Renato Almeida e José Calazans, presidente e secretário-geral do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, IBECC, a incluir Cid na comissão organizadora do III Congresso Brasileiro de Folclore, realizado em Salvador, de 02 a 07 de julho de 1957. Ao lado, dentre outros, de Hildegardes Vianna, Antônio Monteiro, Paulo Jatobá e Luís Monteiro da Costa. Congresso que teve como marca-símbolo um tocador de berimbau, obra da artista plástica Lygia Sampaio.
Cid Já era conhecido como cicerone de pesquisadores e historiadores que visitavam a Bahia; os levava para degustar o tempero de Maria de São Pedro, no Mercado Modelo, apreciar capoeiristas e rodas de samba, visitar candomblés, antiquários e sítios históricos. O III Congresso revelou ao Brasil, Mestre Bimba e Mestre Pastinha e o Maculelê baiano, nas suas exibições no show folclórico realizado no Instituto Feminino. A capoeira, em destaque na edição de agosto da revista Manchete, em fotos de Jader Neves, incluía, em uma das legendas: “Eles lutam de branco, num ritual sem sangue, excitados pelo Berimbau”.
Cid Teixeira começou a se destacar nos seus estudos da história da Bahia em 1951, com o trabalho “Um depoimento diplomático. Correspondência do Consulado Americano na Bahia. 1821-1825”, publicado no boletim do Centro de Estudos Baianos. Três anos depois, publicava no mesmo boletim: “Contribuição ao estudo dos morgados em Portugal e no Brasil”. E em muitos outros trabalhos apresentados em Congressos e Simpósios de História. A destacar, “A ilha de Itaparica: mercado típico da propriedade imobiliária no Brasil-Colônia”, apresentado em Curitiba. E no IGHB, realizou a exposição “Brasões Históricos do Século XVIII”, desenhados por Jacy Pedreira Franco, textos dele, então professor da cadeira de Estudos Brasileiros da Escola de Belas Artes, da UFBA.
Cid Teixeira também foi garoto propaganda, e dos bons, pela sua desenvoltura e sua narrativa de contador de histórias. Protagonizou a memorável campanha institucional dos 15 anos da Caderneta de Poupança Aspeb, em 1982, premiadíssima nos festivais de publicidade. A convite de Duda Mendonça, explicou o porquê do nome do bloco Filhos de Gandhy; da nomenclatura certa do acarajé, contracenando com Cira de Itapuã e baianas de Amaralina, dentre outros comerciais, quatro ao todo, com cenários históricos e uma belíssima trilha, primorosa produção em película.