Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 05:00
As encíclicas são documentos de especial importância no ensinamento dos Papas, tornando-se referências fundamentais para a Igreja Católica, mas obtendo também grande repercussão no mundo, como ocorreu com a Laudato Si, encíclica social de Francisco com temática de cunho ecológico. Por isso, são escritas em número bem menor do que outros textos pontifícios.
O Papa S. João Paulo II, no seu longo pontificado, publicou 14; o Papa Bento XVI, apenas três. No dia 24 de outubro, o Papa Francisco publicou a sua quarta encíclica, causando surpresa e admiração.
As suas três cartas encíclicas anteriores foram: a Lumen Fidei, sobre a fé, em 29.06.2013; portanto, logo no início do seu pontificado; a Laudato Si, em 24.05.2015, sobre o cuidado da casa comum; e a Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social, publicada em 03 de outubro de 2020.
A nova encíclica recebeu o nome de Dilexit Nos, expressão em latim, como ocorre com os outros documentos pontifícios, tomada das primeiras palavras do texto. Pode ser traduzida por “Ele nos amou” ou literalmente “Amou-nos”, abordando o tema “o amor humano e divino do Coração de Jesus”.
O texto, de rico significado espiritual, é um convite a vivenciar o amor, cuja fonte e referência é o amor de Cristo, num mundo que parece sem coração. Trata-se de um “mundo que sobrevive entre guerras, desequilíbrios socioeconômicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia”, necessitado de recuperar “o que é mais importante e necessário: o coração” (n. 31). Para abordar a temática, além da fundamentação bíblica, Francisco recolhe as contribuições da teologia e da espiritualidade, ao longo dos séculos, especialmente a experiência e o testemunho de diversos santos. Ele ressalta a importância e a atualidade da devoção ao Coração de Jesus, com as suas implicações para os relacionamentos humanos e sociais.
A respeito da relação desta encíclica com as suas duas encíclicas sociais, Francisco explica que “o que está expresso neste documento, permite-nos descobrir que o que está escrito nas encíclicas sociais Laudato Si e Fratelli tutti não é alheio ao nosso encontro com o amor de Jesus Cristo, pois bebendo desse amor, tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da casa comum” (n. 217).
No final, o Papa pede a Jesus para “reforçar a nossa capacidade de amar e servir, para nos impulsionar a fim de aprender a caminhar juntos em direção a um mundo justo e solidário” (n. 220).
A encíclica é um vigoroso apelo para resgatar a centralidade do coração num mundo necessitado sempre mais de amor, de compaixão e de solidariedade, como caminho de paz, pois o amor gratuito opõe-se à lógica da violência. O apelo se dirige a todos, pois toda pessoa humana necessita amar e ser amada, mas interpela, de modo especial, a quem crê em Cristo, chamado a amar como ele amou.
Dom Sergio da Rocha, cardeal arcebispo de Salvador e primaz do Brasil