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Nelson Cadena
Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 02:00
Quando o Brasil era metido a besta denominamos o Ano Novo, mais conhecido como Ano Bom, nas saudações entre parentes e amigos e na propaganda das lojas de departamento, de Réveillon. Adotamos o estrangeirismo francês porque a França era nosso modelo. Invejávamos, no bom sentido, a moda, a gastronomia, as revistas ilustradas, o Carnaval, a boemia, a perfumaria, o champanhe… >
Quando o Brasil continuou metido a besta e a França deixou de ser o nosso modelo - trocamos Paris por Hollywood - mantivemos o galicismo. Ano Novo era coisa comum, glamuroso era chamar de réveillon a virada de ano, nos clubes sociais e nos salões refinados, para públicos exclusivos.>
E continuamos metidos a besta quando trocamos Hollywood, por Miami e Nova Iorque, mas nem por isso desistimos do termo réveillon, o galicismo apenas deixou de ser glamouroso, abrangendo todos os públicos, perdeu a característica de exclusividade da grande finesse. >
Réveillon ficaria associado à virada do ano, em qualquer ambiente. Inclusive nas praias, quando a beira-mar passou a ser o espaço preferencial para a comemoração. Mesmo na Bahia, onde até a procissão marítima do Bom Jesus dos Navegantes passou a ser chamada de réveillon, entre os públicos alheios às tradições Itapagipanas.>
E quando deixamos de ser metidos a besta e assumimos a virada do ano como uma comemoração ao nosso estilo, nem tanto, mobilizando multidões para assistir espetáculos pirotécnicos e shows nos palcos de praças e das praias, de artistas midiáticos, reforçamos o galicismo. E a comunicação em todas as plataformas, assumiu o termo réveillon. Nas mídias tradicionais, nas redes sociais, nas vitrines do comércio.>
Na Bahia, porém, deixamos de ser metidos a besta e passamos a ser metidos a porreta. Evoluímos, penso eu. No fundo, no fundo, encaramos réveillon não mais como um galicismo, apesar das evidências agregadas dos espumantes e champanhes da meia-noite. Réveillon passou a ser um genérico de festa: figurino branco, ceia, pular sete ondas, oferendas de flores à Rainhas das Águas, pileque, ressaca no dia seguinte, por que não.>
E se alguém se incomoda com o genérico, nestes tempos de reinvenção da linguagem e de reinterpretação das tradições, tudo bem. Entendo. Não chame de réveillon, invente outra denominação, livre-se dos estrangeirismos. Vamos lá! Ofereço a minha colaboração: que tal muvuca da virada, ou gandaia do fim do ano? Folia da virada pode ser interessante. Reggae do fim do ano seria ótimo, não fosse um estrangeirismo e nesse caso você se desmoraliza, perde o discurso.>
Desisto das alternativas. Deixo isso para os politicamente corretos Aurélios e Michaellis baianos. Quando reinventarem o galicismo, me avisem. Prometo adotar no meu cotidiano e na virada do ano abrir uma baianíssima Jurubeba Leão do Norte no lugar do champahne. >