Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Nelson Cadena
Publicado em 12 de setembro de 2024 às 05:00
Na manhã de 12 de setembro de 1924, um século transcorrido hoje, o príncipe Umberto de Savoia, herdeiro do trono Italiano, aportou em Salvador. A Intendência fez aqueeeeeela faxina de ocasião, arrumou, decorou e iluminou a cidade, incluindo prédios públicos com milhares de lâmpadas; montou um imponente arco ornado com as bandeiras da Itália e do Brasil, no topo da Ladeira da Montanha, por onde a comitiva do monarca acessou a Cidade Alta.
Dona Julieta Maia de Góis Calmon, primeira-dama, cuidou dos afazeres “domésticos”. Uma turma de empregados limpou e poliu cada canto do Palácio da Aclamação, que decorou com móveis, esculturas, obras de arte, cristais, pratarias de sua residência particular. Tudo nos trinques, para recepcionar o nobre ilustre que não aceitou o convite para dormir no Palácio.
Enquanto permaneceu na cidade, pernoitou a bordo de um navio italiano. Para não fazer a desfeita, no último dia, dormiu na luxuosa cama de colunas torneadas em espiral, colchas e lençóis macios, que Dona Julieta preparou com desvelado esmero.
A ilustre visita foi um acaso. As homenagens ao príncipe seriam prestadas na capital do país e em São Paulo. A revolta tenentista ocorrida em São Paulo, em 5 de julho de 1924, e os boatos do plano da uma revolta militar no Rio de Janeiro, para o dia em que o príncipe aportasse na cidade, alteraram o roteiro original, transferindo os eventos festivos para Salvador, com outro formato. Politicamente, a Bahia estava alinhada com o governo Arthur Bernardes, não tinha aderido à Revolta Paulista, diferente de outros Estados. Além desse fator de “segurança”, Salvador carregava o simbolismo de primeira capital do país.
O príncipe cumpriu na Bahia uma extensa agenda de eventos reservados e alguns públicos. Dois eventos contaram com grande assistência: o jogo de futebol na sua homenagem realizado no Campo da Graça e a inauguração do Cristo da Barra, no seu sítio original, Ondina. Multidões também acenaram para o príncipe nos seus traslados, uma vez que o comércio e as repartições públicas, por ordem do governador, fecharam as portas. A agenda reservada incluiu banquetes; um deles realizado no dia do aniversário do príncipe; recepções; um baile; visitas a igrejas, sítios históricos (incluindo os campos da Batalha de Pirajá), fábrica de cristais da Fratelli Vita, estação de águas da Bolandeira...
E, ainda, um passeio marítimo pelo Recôncavo percorrendo antigos engenhos de açúcar, com seus imponentes sobrados coloniais, então, bem conservados. Fora da agenda, por sugestão do jovem bacharel Pedro Calmon, Umberto de Savoia depositou coroas de flores no túmulo do Conde Bagnuolo, o nobre Italiano que lutou contra os holandeses, em 1625. Toda a agenda foi documentada no filme “O Príncipe Herdeiro da Itália em Terras do Brasil”, encomendado pelo governo federal. Exibido nos cinemas, meses depois.
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras