A exclusão das mulheres nas olimpíadas

Uma ou outra mulher participava das olimpíadas; nas de 1908, em Estoolmo, na modalidade de barco a vela, as mulheres eram as esposas dos atletas

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  • Nelson Cadena

Publicado em 27 de junho de 2024 às 05:00

Os cartolas nunca validaram a performance de Stamata Revithi, uma jovem de 20 anos, na maratona da primeira olimpíada moderna da história, realizada em 1896, em Atenas.

Stamata competiu no dia seguinte à prova da maratona masculina e não foi autorizada a entrar no estádio por ser mulher. E seu recorde nunca foi registrado. Apesar da exclusão das mulheres nas pistas, desde as origens das olímpiadas, os gregos foram os únicos, nos 29 jogos realizados, a representar a mulher no cartaz oficial da competição.

Nenhuma contradição entre a arte gráfica e o regulamento olímpico. A mulher representada no primeiro cartaz dos jogos da história não era uma mulher atleta e, sim, uma Deusa, uma divindade do Olimpo: Atena, deusa da sabedoria e da guerra, representada como uma camponesa, portando nas mãos as coroas de oliveiras.

Nunca mais a mulher foi tema dos cartazes olímpicos oficiais. Na primeira metade do século XX, a representação era masculina, inspiração de homens helênicos, brancos; na segunda metade, preponderaram os grafismos. E o pôster oficial de Paris 2024, se não foi inspirado na Disneylândia, bateu na trave.

Nas olimpíadas de Paris, em 1900, permitiu-se a participação das mulheres apenas nas provas de Tênis e Golfe, esportes da elite, porém sem direito a receberem medalhas e nem coroas de oliveiras. Contentavam-se com um certificado de participante. E assim, no pinga-pinga, uma ou outra mulher participava das olimpíadas; nas de 1908, em Estocolmo, na modalidade de barco a vela, as mulheres eram as esposas dos atletas.

O ponto de ruptura, pressão social, se deu com a criação da Federação Esportiva Feminina Internacional, que realizou quatro versões de jogos olímpicos femininos, a partir de 1922. Entre 1932 e 1964, as mulheres constituíam não mais do que 10% dos competidores, já eram 15% na olímpiada do México, em 1968; em torno de 20% nas olimpíadas de Montreal, em 1976; no final do século já representavam 38% dos competidores. E nas últimas olimpíadas, realizadas em Tóquio, em 2020, quase igualaram a participação masculina, com 49% de competidoras.

Paris pode surpreender em 2024 com mais mulheres competindo do que homens. O bigode do Barão de Coubertin, a estas alturas, deve estar se enrolando no caixão, de desgosto, dando duas, três voltas, mais. E é nas mulheres que o Brasil deposita as suas maiores expectativas de medalhas de ouro: Rebeca na ginástica, Rayssa no Skate, Ana Marcela nas águas abertas, Beatriz no boxe, Mayra no Judô, Ana Patrícia e Duda no Vôlei de Praia, Martine e Kahena na vela.

As brasileiras estrearam nos jogos com Maria Lenk, em 1932. Lenda da natação brasileira, participou já idosa, como veterana, da travessia Mar Grande-Salvador. Lenk, que morreu nadando numa piscina, aos 92 anos de idade, não foi vitoriosa em Olímpiadas, mas foi recordista mundial em duas modalidades, em outros certames.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras